GIOVANNI G. CERRI
A medicina é uma atividade de precisão. Só quando se sabe exatamente onde se localiza um tumor, o cirurgião pode agir. Apenas quando descobre qual o tipo exato de agente que infectou uma pessoa, o clínico pode receitar o medicamento preciso para tratar o paciente daquela condição. Mas a anatomia humana, os processos fisiológicos, tudo ligado ao corpo e à sua saúde é um permanente exercício de descobertas e acúmulo de conhecimento. Mesmo hoje, séculos depois de Hipócrates, de cientistas terem experimentado e pesquisado, mesmo de artistas que exploraram a configuração de músculos, ossos e tendões para comporem seus quadros, esculturas e outras obras, a precisão permanece em estado de refinamento.
Antes de haver instrumentos e tecnologia, os médicos e cirurgiões de outrora podiam contar com pouco mais que sentidos bem aguçados para tentar identificar qual era o mal que acometia um paciente. Hoje, já existem inúmeros equipamentos que nos ajudam a detectar o local preciso.
Um desafio particularmente difícil – e por isso mesmo, fascinante – no que diz respeito a medicina de precisão é o cérebro humano, que talvez seja a estrutura orgânica mais complexa que já existiu. Institutos de pesquisa de diversos países se debruçam sobre esse desafio – na Europa, existe o Human Brain Project, que envolve mais de 500 pesquisadores, de 16 países, e que está em atividade há dez anos. Nos EUA, por sua vez, existe o Brain Initiative, dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde, na sigla em inglês), que, em suas próprias palavras, busca “explorar exatamente como o cérebro permite que o corpo humano registre, processe, utilize, armazene e recupere grandes quantidades de informações”.
Muitas são as técnicas e modalidades não invasivas para se estudar o cérebro – entre elas as mais conhecidas são a ressonância magnética funcional e estrutural (fMRI/MRI), a electroencefalografia (EEG) e a magnetoencefalografia (MEG), a espectroscopia do infravermelho próximo (fNIRS), estimulação magnética transcraniana (TMS) e a estimulação de corrente contínua transcraniana (tDCS).
A pesquisa de ponta hoje se dedica à chamada “conectividade cerebral” – que encara o cérebro como um órgão que funciona em rede: seu funcionamento ocorre com a interação de diversas regiões. Quando essa interação é perturbada é que se tem o desencadeamento de um comportamento patológico. Na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) há um estudo que se encaixa nesse contexto, que compara as técnicas existentes para cada modalidade (e tenta responder como integrar e fazer o melhor uso das informações obtidas por esses meios) e busca a melhor adequação das séries temporais de dados, de modo a ter quadros estatísticos mais robustos.
Tudo isso com vistas a ter dados cada vez mais precisos – precisão esta que encontrará aplicação nos tratamentos de saúde, no diagnosticar de forma precoce a condição dos pacientes. Mais precisão poderá encurtar o tempo de exames e tratamentos, proporcionando uma jornada mais satisfatória para as pessoas que precisarem de atendimento médico. Sem falar em custos, que podem também ser reduzidos.
Diagnosticar é um trabalho de aproximação. Com instrumentos e técnicas cada vez mais precisos, as informações que chegarão aos médicos serão de qualidade cada vez melhor. E quanto mais dados, com o auxílio de uma inteligência artificial (IA) cada vez mais capaz, mais efetiva e precisa será a conclusão sobre a condição de saúde de alguém. Acertar o centro do alvo, no que diz respeito aos diagnósticos, estará cada vez mais ao alcance da medicina.
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