Entenda como tecnologias como o EOS, dedicadas à avaliação da estrutura esquelética e articular, podem ajudar os médicos na melhor decisão terapêutica
Há aproximadamente três anos, o Fleury Medicina e Saúde trouxe da França o sistema de imagens denominado EOS (étude d´os ou estudo ósseo, na tradução para o português), um sistema de imagem inovador para o cuidado ortopédico avançado da coluna vertebral e dos membros inferiores (quadris, joelhos, etc). Fruto de uma brilhante evolução de um Prêmio Nobel de Física, o aparelho é capaz de realizar exames rápidos com qualidade 2D e 3D, livres de estresse e, sobretudo, com expressiva redução da dose de radiação para crianças e adultos.
Fig 1: Realização do exame no aparelho EOS e imagens obtidas.
O EOS é o único que permite a obtenção de imagens simultâneas frontal e de perfil com o paciente em posição funcional e em tempo mínimo. Para se ter uma ideia, em média, são 20 segundos para exames do corpo todo de um adulto; menos de 15 segundos para crianças. Essas imagens em ortostase fornecem as informações da estrutura osteoarticular e relações biomecânicas necessárias para o diagnóstico, planejamento pré-operatório, avaliação pós-operatória e acompanhamento das afecções ortopédicas e reumatológicas. O conjunto de dados obtidos na aquisição das imagens pelo sistema EOS permite gerar um modelo 3D de sua anatomia esquelética e calcular medidas importantes.
Nós, radiologistas, devemos ter sempre a preocupação de expor os pacientes a menor dose de radiação para realização de um diagnóstico ou planejamento terapêutico. As crianças, em particular, são mais susceptíveis aos efeitos colaterais potenciais ligados à radiação médica excessiva, pois elas têm risco aumentado de desenvolverem câncer induzido por radiação mais tarde na vida. Exemplo disso é um estudo publicado no New England Journal of Medicine em 2007, no qual estima-se que aproximadamente 2% dos casos de câncer nos Estados Unidos podem estar ligados ao uso crescente da tomografia computadorizada.
Com o EOS, conseguimos reduzir a radiação em até 85% comparado com a radiografia digital (tecnologias padrão de raios-X), sem comprometer a qualidade da imagem. Em casos de acompanhamento de escoliose, nos quais são necessárias radiografias semestrais ou anuais, aplicamos a técnica de microdose para a aquisição das imagens com um redução de aproximadamente 26 vezes da dose de radiação.
Fig 2: Paciente adolescente feminino de 19 anos. Imagens 2D (A e B) e modelo 3D (C) em microdose.
Outra vantagem ímpar do EOS é sua capacidade de obter imagens do corpo inteiro (Fig 2) em uma única varredura sem emendas ou distorção vertical, fornecendo imagens de tamanho real em uma escala de 1:1 para medições precisas e planejamento cirúrgico. Essas imagens permitem analisarmos as interações osteoarticulares dos diversos segmentos anatômicos, como, entender por que pacientes com prótese do quadril e cirurgia da coluna apresentam maior risco de luxação da prótese, por exemplo. Uma vez que se entende a origem do problema, ficamos mais próximo de evitá-lo ou resolvê-lo.
Principais aplicações clínicas
Coluna vertebral
O caráter minimamente irradiante e 3D do sistema EOS guiou naturalmente o desenvolvimento do software para a gerência da escoliose e da deformidade degenerativa do adulto e idosos.
Os modelos EOS 3D fornecem uma visão mais completa da deformidade e calculam automaticamente não só os parâmetros de balanço coronal e sagital, mas também a rotação axial de cada nível vertebral numa posição de suporte de peso com o objetivo planejar tratamentos cirúrgicos ou avaliar a funcionalidade de um colete ortopédico (fig 4). Essa avaliação tridimensional da escoliose é preconizada pela Scoliosis Research Society, mais ativa e importante sociedade médica de estudo da escoliose no mundo.
Fig 3: Representação 2D, 3D frontal, 3D visão axial e vetores.
Membros inferiores (quadril, coxa, joelho, perna, tornozelo)
O planejamento de cirurgias de quadril, joelho e de outros segmentos dos membros inferiores envolve uma avaliação cuidadosa do alinhamento osteoarticular. Se a orientação da prótese de articulação não é ideal, pode levar a um maior risco de complicações ou mesmo falha do implante.
A radiografia convencional apresenta o risco dos erros de medição inerentes à projeção de um volume sobre um plano e magnificação. A TC, embora forneça informação em 3D, é limitada pelo seu alto nível de radiação e sua incapacidade de examinar um paciente na posição funcional (em pé). A literatura médica mostra que a modelagem 3D com o sistema EOS pode fornecer medições mais precisas de vários parâmetros-chave usados para avaliar o alinhamento de membros inferiores, como ângulos tibiais e femorais ou angulações frontal e lateral.
Fig 4: Medidas do comprimento real dos membros inferiores (A e B) e das torções femoral e tibial.
Prótese total do quadril
Para o ortopedista que deseja planejar a cirurgia de prótese do quadril, o EOS possibilita estudar a “geometria da pelve do paciente”. O passo seguinte, é o cirurgião escolher o melhor implante e sua melhor posição para essa determinada geometria. Além disso, no pós operatório, permite o estudo do posicionamento e orientação do implante com o paciente em posições múltiplas (sentado, agachado, em pé), o que é potencialmente útil quando se tenta entender os maus resultados obtidos em alguns pacientes que parecem ter implantes bem posicionados na TC (conceito de versão funcional da cúpula acetabular) (fig 5).
Fig 5: Avaliação do posicionamento dos componentes da prótese (A e B). A avaliação dinâmica ortostástica e sentada da orientação da cúpula acetabular (versão e inclinação).
Com esses exemplos conseguimos compreender como, graças a uma visão ampla e 3D do esqueleto, o EOS tem contribuído para avaliação da estrutura esquelética e articular, apoiando médicos no diagnóstico e beneficiando pacientes em seus tratamentos.
Dr. Flávio Duarte Silva é médico radiologista do Fleury Medicina e Saúde
[Artigo disponível na íntegra na Revista Newslab Ed 158]