A prática da citologia está e continuará sendo influenciada pelas metodologias digitais
A citologia é um tipo de análise laboratorial que utiliza a microscopia óptica para avaliar o material biológico fixado em lâmina de vidro por meio da análise das características morfológicas dos elementos celulares. Descrita por George Papanicolaou na década de 40, a técnica vem sofrendo poucas modificações desde suas primeiras publicações. Entretanto, nos últimos anos, com o desenvolvimento e aprimoramento das tecnologias de microscopia virtual, o interesse na transformação das preparações citológicas clássicas em digitais (citologia digital ou microscopia virtual) vem crescendo.
Esse processo representa uma mudança fundamental na rotina dos profissionais e na forma da análise laboratorial. Em vez de visualizar imagens analógicas através das lentes de um microscópio óptico, a citologia digital é basicamente definida como a visualização de representações digitais dessas mesmas imagens através de um monitor digital. A metodologia pode ser variada: imagens digitais estáticas (citologia estática ou fotografia digital), a tecnologia WSI (Whole Slide Imaging), que representa um escaneamento digital da lâmina contendo o material biológico e ainda a microscopia digital dinâmica em tempo real1,2. Cada um desses métodos apresenta suas vantagens e desvantagens.
O desenvolvimento de equipamentos de imagens com resoluções de alta qualidade promove uma variedade de aplicações da citologia digital, pois, uma vez no formato digital, essas informações podem ser manipuladas, agrupadas, comparadas, transmitidas a outros profissionais e/ou arquivadas, para pronta revisão em qualquer lugar e a qualquer momento.
Por exemplo, os métodos digitais têm o potencial de expandir a disponibilidade, a acessibilidade e a qualidade do conteúdo para o ensino e educação continuada. O uso dessa tecnologia permite interações e entrega em qualquer lugar a qualquer momento, com uma variedade de métodos, para acomodar qualquer estilo de aprendizado. Ainda, a consulta de segunda opinião profissional (telecitologia), e controle de qualidade, sem transportar a lâmina de vidro, podem ser facilmente obtidos com microscopia virtual. No caso da citologia ginecológica3, os dispositivos já são capazes de identificar e classificar células potencialmente anormais, com a apresentação dessas áreas digitalmente aos observadores para avaliações.
Estamos frente a uma revolução digital, e as metodologias digitais, sem dúvida, já estão influenciando a prática da citologia em geral. Graças a funcionalidades adicionais, a análise citológica com o uso do microscópio óptico provavelmente passará por uma transformação nos próximos anos.
- Tonet C, Calil, LN, Mezzomo, LC. A telecitologia na rotina de rastreamento do cancer de colo uterino. RBAC 2019; 51(3): 178-184.
- Wilbur DC: Digital Cytology: Current State of the Art and Prospects for the Future. Acta Cytologica 2011;55:227-238.
- Wilbur DC, Black-Schaffer WS, Luff RD, Abraham KP, Kemper C, Molina JT, Tench WD: The Becton Dickinson FocalPoint GS Imaging System: clinical trials demonstrate significantly improved sensitivity for the detection of important cervical lesions. Am J Clin Pathol 2009;132:767–775.
Autor: Lisiane Cervieri Mezzomo. Citologista Clínica e Doutora em Patologia. Docente do Curso de Especialização em Citopatologia Diagnóstica da Universidade Feevale/RS. É assessora da Controllab na área de Citologia/Citopatologia e Medicina Laboratorial.
<Artigo disponível na íntegra na Revista Newslab Ed 157>