Com a chegada da pandemia, vivenciamos uma fase no qual fomos obrigados a permanecer em nossas residências e ainda assim tivemos pessoas que adoeceram mesmo sem sair de casa. Hábitos domésticos na tentativa de minimizar patógenos são essenciais para saúde e bem estar da população. Somos constantemente expostos a microrganismos, cada vez mais aumenta o índice de resistência de bactérias e fungos as terapias padrões, contudo verifica-se que microrganismos em locais que não devem estar e o aumento em quantidade contribui para o adoecimento.
Diversas pesquisas indicam que no ambiente hospitalar as pessoas são mais cuidadosas por medo de contaminação, contudo no ambiente doméstico parecem perder esse medo, o que pode tornar nossas residências um ambiente propicio à propagação de microrganismos. Existem uma diversidade microbiana em ambientes internos e a maior parte das intoxicações alimentares e alergias ocorre em casa. O Ministério da Saúde informa que o simples ato de lavagem das mãos reduz 90% da contaminação microbiana nesses ambientes e o uso adequado do álcool em gel reduz até 85%.
Microrganismos necessitam de oxigênio, água, nutrientes e uma temperatura ótima para seu crescimento. Em residências, os microrganismos são do tipo anaeróbios facultativos e predominantemente aeróbios. Em sua totalidade, bactérias são mais abundantes que fungos e protozoários. As primeiras com predileção por substratos proteicos e fungos por carboidratos.
Estudo realizado pela Universidade Drexel, nos Estados Unidos, revelou que a cozinha é um ambiente preocupante, sobretudo em geladeira, pia, esponja de lavar louça e tábuas de madeira. No entanto, estudos são unânimes em citar que cada família tem estilo próprio, o que definem inclusive os grupos de microrganismos serão predominantes.
Dentre os microrganismos mais frequentes citamos, Listeria monocytogenes, Salmonella sp. , Klebsiella sp, Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, Yersinia enterocolitica, Escherichia coli e Shigella sp. Entre esses patógenos oportunistas veiculados por alimentos destacam-se bactérias Gram-negativas como Enterobacter sakazakii; Citrobacter freudii; Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella sp.
De acordo com a maioria dos artigos relacionados a cuidados do lar e microrganismos, o banheiro é o ambiente de maior risco da casa, em virtude dos dejetos que são liberados, contudo, é o ambiente que as pessoas mais limpam também. Quanto maior o nível de sujidade do ambiente, maior o quadro de contaminação bacteriana e fúngica. Dentre os agentes fúngicos mais frequentes, destacamos: Aspergillus spp, Fusarium spp e Peniccilium spp, que podem ocasionar micoses de pele, cabelos e unhas a problemas respiratórios incluindo quadros de rinite e sinusite alérgica.
Os agentes fúngicos que compõem a microbiota do ar mais comuns são: Alternaria ssp., Aspergillus ssp., Cladosporium sp., Fusarium ssp., Mucor ssp., Penicillium ssp. Os fungos dispersados através do ar (anemófilos) produzem uma gama de metabólicos secundários, dentre eles as micotoxinas, que causam doenças por inalação ou contato direto, sendo seus efeitos variando de des ordens agudas e crônicas, a reações sistêmicas. Podendo ainda estar envolvidas com doenças de hipersensibilidade, pneumonite por hipersensibilidade, a síndrome da fadiga crônica e insuficiência renal.
No ambiente dos quartos é o ambiente mais propenso a problemas relacionados a rinite alérgica, dermatite atópica e asma alérgica. A grande preocupação são os colchões, lençóis e roupas de cama. A cama por sua vez pode está sendo substrato para alérgenos, vírus e bactérias. Algumas medidas de preventivas são uteis para reduzir microrganismos nos ambientes domésticos:
- Verificar se possui infiltração na residência, afim de evitar fungos;
- Arejar o ambiente doméstico;
- Manter a umidade da casa o mais baixa possível, sendo o ideal abaixo de 50%.
- Após o banho, deixar as portas abertas para favorecer a circulação do ar;
- Trocar lençóis periodicamente e expor travesseiros, almofadas e colchões ao sol regularmente;
- Fazer limpezas diárias com hipoclorito de sódio a 0.1% no chão;
- Limpar a geladeira pelo menos 2 vezes ao mês com solução desinfetante;
- Não utilizar tábuas de madeira;
- Trocar a esponja de prato semanalmente;
- Desprezar o lixo diariamente;
- Não colocar lixo em cima da pia.
Diante do exposto, tais medidas de Biosseguranças são úteis na diminuição de fungos e bactérias do ambiente doméstico, uma vez que podem estar relacionadas com uma ampla gama de infecções, desde superficiais até lesões respiratórias. No entanto, isso torna-se mais importante quando moradores possuam comorbidades, incluindo doenças crônicas e quadros de imunossupressão.
Autores:
Jorge Luiz Silva Araújo-Filho (@dr.biossegurança): Biólogo, mestre em patologia, doutor em biotecnologia; palestrante e consultor em biossegurança. Contato: jorgearaujofilho@gmail.com
Gleiciere Maia Silva (@profa.gleicieremaia ): Biomédica, Especialista em Micologia, Mestre em Biologia de Fungos e Doutoranda em Medicina Tropical.