Os aparelhos celulares fazem parte da rotina diária da maior parte das pessoas, desde a criação do telefone, em 1973 em Nova Iorque (EUA), até os dias atuais houveram várias modificações inclusive na forma da sociedade lidar com esse tipo de tecnologia. Passou a ser além de entretenimento, forma de trabalho, entretanto existem riscos atrelados ao mau uso deste item indispensável.
Pesquisas indicam que a cada 10 brasileiros, 7 usam o celular com frequência. Esse número tendo a aumentar no público da faixa etária entre 16 aos 37 anos, e ficar muito tempo no celular é capaz de causar problemas tanto posturais, sobrecarregando a coluna e podendo levar a fadiga muscular, quanto interferir na qualidade do sono.
O uso do celular com alta frequência reduz o sono por interferir nos níveis de melatonina, contribuindo para a fadiga, mal humor e cansaço. Pesquisas indicam que a longo prazo o descanso inadequado contribui para doenças crônicas, tais como: diabetes, infarto desenvolvimento do câncer a problemas psicossomáticos, incluindo estresse, ansiedade, depressão.
De forma cientifica, quando o contexto é biossegurança e microbiologia, o ato de estarmos constantemente usando aparelhos celulares e eletrônicos, contribui para contaminação dos mesmos com microrganismos que fazem parte da microbiota normal do individuo ou microrganismos patógenos.
O principal fator para proliferação microbiológica nos aparelhos celulares é o fato de serem objetos pequenos e fáceis de serem transportados para quaisquer locais, tais como banheiros e lugares que tenham resíduos de grande quantidade de contaminação. Atrelado a isso, o hábito de não lavar as mãos ao manusear o dispositivo, emprestá-los para outras pessoas, contribuem para diversidade microbiológica nesses aparelhos.
Dentre os principais microrganismos encontrados nos aparelhos telefônicos por diversos estudos, podemos destacar Staphylococcus aureus meticilina resistente (MRSA), Staphylococcus aureus meticilina sensível (MSSA), Staphylococcus coagulase negativo, Micrococcus ssp., Streptococcus viridans, Enterococcus feacalis, Escherichia coli, Kleibsiella pneumoniae, Bacillus spp e Pseudomonas aeruginosa.
Os diversos trabalhos disponíveis sobre essa problemática são unanimes em afirmar que independendo dos hábitos de cada pessoa, há presença de uma grande diversidade de patógenos.
Diante disso, alguns cuidados são importantes para manter esses aparelhos limpos, e dessa forma reduzir o processo de contaminação. O ato de higienização das mãos reduz significativamente a carga microbiana, uma vez que , existem estudos comparando a quantidade de UFC (Unidades Formadoras de Colônias) observadas antes e depois da limpeza.
Um estudo realizado por Teixeira e Silva (2017) mostra que após as análises de 30 celulares de universitários e docentes da Faculdade de Apucarana identificou que houve crescimento microbiológico em 100% das amostras testadas. Evidenciou o aparecimento da bactéria Staphylococcus aureus como uma contaminação comum por estar presente na microbiota normal da pele, porém a presença de bactérias fecais associa-se pela ausência de higienização do aparelho.
Outra análise realizada no Município de Marília SP, na qual foram analisados 52 aparelhos celulares, constataram o crescimento microbiológico em todas as amostras. Nesta pesquisa foi comparada dois públicos diferente: Comunidade e Hospitalar; os celulares que teve origem comunitária (uso da população) teve uma predominância de bactérias Gram positivas, e as de origem hospitalar (uso interno do hospital) apareceu em maior número as bactérias Gram negativas.
No estudo de Silva e colaboradores (2022), no qual foram analisados o perfil de isolados bacterianos oriundos de aparelhos celulares de profissionais de saúde de diferentes setores em um hospital da região metropolitana do Recife, Pernambuco-Brasil, foram investigados dados microbiológicos provenientes de 10 isolados de aparelhos celulares de profissionais de saúde e avaliados quanto ao agente e o potencial de formação de biofilme.
Diante dos resultados encontrados, os microrganismos isolados foram as espécies Acinetobacter baumannii, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas pseudoalcaligenes, Pseudomonas putida, Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis. O estudo concluiu que os aparelhos celulares são fontes importantes da propagação da resistência bacteriana, sendo necessário melhores processos de higienização para o seu uso no ambiente clínico e terapêutico, para que o mesmo não ponha em risco os pacientes nos leitos de UTI’s.
Outro estudo, aponta a questão da distração dos profissionais que manuseiam esses aparelhos durante o atendimento, não só na área da saúde, como em outras atividades ocupacionais.
Com isso, medidas de Biossegurança na higienização desses aparelhos são essenciais, contudo, o uso de alguns produtos químicos, como cloro, água sanitária ou álcool líquido com alta concentração, podem danificar a tela do smartphone. Ao realizar a higienização, certifique que seu aparelho se encontra desligado. É também necessário retirar a capa e desconectar cabos e acessórios. O produto muito utilizado e eficiente é o álcool isopropílico com concentração de 70%, uma vez que tem na sua composição tem pouca água, o que evita a oxidação das peças.
A higienização deverá ser realizada com um pano apropriado, de preferência macio que não solte fiapos. Como por exemplo pano de microfibra. As capas também são ferramentas de limpeza uma vez que elas podem acumular microrganismos.
Para tanto, medidas como higienização das mãos constantemente e a higienização dos telefones, bem como protocolos de uso correto do aparelho celular no ambiente clínico podem contribuir com a diminuição dessa problemática e manter a saúde dos usuários, evitando assim veículo de propagação de microrganismos, inclusive aqueles resistentes aos antimicrobianos.
Biossegurança precisa estar presente em todos os ambientes, incluindo os locais de trabalho, até nossa casa. É uma cultura que precisamos fortalecer.
Leia a coluna completa e muito mais em nossa Revista Digital clicando aqui
Referências
- Sousa, F. D. C. A., Mineiro, A. C. B., de Melo Araújo, R. F., de Oliveira, E. H., da Silva, W. C., de Sousa Rodrigues, L. A., & de Siqueira Coelho, L. (2020). Detecção de bactérias em diversos locais em um centro universitário de ciências da saúde. Research, Society and Development, 9(2), e120921966- e120921966.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Detecção e Identificação de Bactérias de Importância Médica. mod.5. Brasília: Anvisa, 2004. Disponível em: acessado em 08 de março de 2018.
- Person, O. C. et al. Avaliação da flora bacteriana dos fones de ouvido de telefones públicos e hospitalares de Marilia. Revista Arquivo Médico ABC, v.30, n.1, p.34-38, Jan/Jun., 2005. Disponível em: acessado em 09 de novembro de 2018.
- Teixeira, F. N.; silva, C. V. da. Análise Microbiológica em Telefones Celulares. Revista F@pciência. Apucarana, PR, v.11, n. 3, 2017. Disponível em: acessado em 25 de março de 2018.
- Silva E.L; Macedo, L.S; .alcão de Lima, M.S; Silva, G,M. Avaliação Microbiológica de aparelhos celulares como fonte de propagação da resistência bacteriana. Research, Society and Development, v. 11, n. 3, e49011326759, 2022.