Por José de Souza Andrade-Filho*
A ferradura é uma peça que pode ser feita de vários materiais, como ferro, alumínio e plástico, entre outros. É utilizada principalmente em cavalos e outros animais semelhantes, como mulas e jumentos, como proteção dos cascos. Segundo historiadores, a ferradura foi inventada por volta do século X, quando os homens perceberam a necessidade de proteger os equinos. Inicialmente, as ferraduras foram feitas de grama trançada e posteriormente de chapas de ferro presas com tiras de couro. Atualmente, as ferraduras apresentam desenho e materiais ortopédicos e corretivos. As ferraduras modernas contêm alumínio leve e aço.
Na antiguidade, os cavalos não eram ferrados e, como os cascos desgastavam-se depressa, os animais não podiam trabalhar por muito tempo. Por volta do século X, no ocidente, passaram a colocar as ferraduras com cravos que penetravam na parte morta do casco, isto é, na área insensível.
Em muitas culturas a ferradura é objeto que simboliza a sorte, a energia e até a proteção. Esse símbolo originou-se na Europa, mais precisamente na Grécia antiga. Para os gregos, o ferro era o mais poderoso dos elementos que os protegiam de todo mal e a ferradura simbolizava um amuleto para atrair energia positiva. Os agricultores colocavam as ferraduras acima das portas das casas, dos celeiros e dos estábulos, para afastar os maus espíritos (Fonte: Dicionário de Símbolos).
A ferradura, pela sua forma, é similitude já consagrada em medicina e ensinada aos calouros. Uma das anomalias mais comuns e sem gravidade, presente mais no sexo masculino, é o rim em ferradura (em inglês: horseshoe kidney). Trata-se de anomalia congênita frequente e resulta da fusão do rim direito com o esquerdo devido ao desenvolvimento anormalmente próximo dos brotos ureterais. A fusão se faz através de istmo de tecido renal e, em torno de 90% dos casos, no polo inferior dos rins, configurando massa similar a uma ferradura (Fig.1 e 2). Os ureteres são anteriores ao istmo e podem apresentar obstrução. Conduto, o rim em ferradura é assintomático na maioria dos indivíduos e é identificado incidentalmente em ato operatório, radiografia ou em autópsia (um caso entre quinhentas a mil autópsias). Você aí, caro leitor, pode ser portador de um rim em ferradura silencioso, sem lhe causar nenhum mal.
No sistema respiratório, embora raramente, ocorre o pulmão em ferradura, que consiste na fusão de tecido pulmonar, ligando os lobos inferiores de ambos os pulmões. Com frequência, essa anomalia está associada a desenvolvimento deficiente do pulmão direito (hipoplasia) e coração voltado para o lado direito (dextrocardia). Em relato de caso publicado em 2007 por médicos da Faculdade de Medicina da UFMG, na Revista Radiologia Brasileira, foi descrito o pulmão em ferradura em um recém-nascido a termo do sexo masculino. A criança foi submetida a intervenção cirúrgica e corrigida a drenagem anômala das veias. Portadora de outros distúrbios graves, a criança faleceu e o diagnóstico inicial de pulmão em ferradura foi confirmado pela autópsia.
Há ainda outras condições que se valem da mesma comparação, como as fístulas em ferradura do períneo e da região perianal, que apresentam o canal fistuloso e duas extremidades abertas na pele. São muito conhecidas dos proctologistas, pois são os especialistas para curá-las através da fistulectomia (Artigo baseado em várias fontes).
*José de Souza Andrade-Filho – Patologista no Hospital Felício Rocho-BH; membro da Academia Mineira de Medicina e Professor de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.