Por José de Souza Andrade-Filho*
Barroco é o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e América, antes de atingir regiões protestantes de alguns pontos do Oriente. A palavra barroco significa pérola imperfeita ou deformada (em francês: baroque: estilo rebuscado; port. barroco/barroca: terreno irregular).
Os artistas barrocos europeus valorizam as cores, as sombras e a luz e também os contrastes. As imagens não são tão centralizadas como as renascentistas e aparecem de forma dinâmica, destacando o movimento. Os temas principais incluem mitologia, passagens da bíblia e a história da humanidade. As esculturas barrocas mostram faces humanas marcadas pelas emoções, especialmente o sofrimento. Os braços se contorcem, demonstrando uma postura exagerada. Predominam, nas esculturas, as curvas, os relevos e a utilização da cor dourada.
O barroco brasileiro foi diretamente influenciado pelo barroco português. O principal representante do barroco mineiro foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Suas obras, de forte caráter religioso, eram feitas de madeira e pedra-sabão, os principais materiais utilizados pelos artistas barrocos do Brasil. Entre as obras de Aleijadinho estão os “Os doze profetas” e “Os passos da Paixão”, na igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo/MG.
Em medicina foi criado o vocábulo querubismo para designar uma doença fibro-óssea do rosto, geralmente hereditária e formada por tecidos anormais no interior do osso. Afeta a mandíbula (queixo) de crianças e, às vezes, a maxila, dos lados direito e esquerdo. A criança, nos casos mais extensos e completos, apresenta-se rechonchuda/bochechuda, com a face abaulada bilateralmente e os olhos desviados para cima, voltados para o céu, comparável à face dos anjos barrocos ou querubins (fácies querubínica ou querúbica) (Fig.1) O quadro radiológico configura o aspecto em bolhas de sabão, com radiolucências tipicamente multiloculares. A doença foi descrita pela primeira vez em 1933 por Jones (W.A. Jones – Familial Multilocular Cystic Disease Of The Jaws – 1933 Am J Cancer). Jones e colaboradores foram os primeiros a usar o termo querubismo, por analogia com um anjo da arte barroca. É uma doença rara, porém o desconhecimento da mesma pode gerar tratamentos inadequados, como observamos em um menino de três anos.
Querubim é um anjo considerado como mensageiro de Deus e símbolo da justiça divina. De acordo com a Ordem Angelical os querubins integram a primeira hierarquia, classificados logo abaixo dos serafins. Os querubins são mencionados em diversas passagens da Bíblia. Em uma das visões divinas relatadas pelo profeta Ezequiel é feita uma descrição dos mesmos no primeiro capítulo de seu livro. Estão também ligados à glorificação da grandeza de Deus, bem como protetor de seu trono, por isso são chamados de Anjos de Trono. Nos textos sagrados aparecem como os guardiões do Jardim do Éden, com a função de evitar que Adão e Eva retornassem. Por conta dessa proteção, antigamente, colocava-se as imagens de anjos querubins em portas de templos e igrejas para protegê-los contra os maus espíritos.
(Texto baseado em publicações nacionais).
*José de Souza Andrade-Filho – Patologista no Hospital Felício Rocho-BH; membro da Academia Mineira de Medicina e Professor de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.