Vagner Simões
Mineiro de Belo Horizonte e Biólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Durante a graduação atuou em pesquisas na área de biologia molecular com foco em doenças infecciosas.
Possui mais de 20 anos de experiência em mercados como diagnóstico in vitro, pesquisa e indústria com ênfase em biologia molecular.
Atualmente, é gerente nacional na Illumina Brasil liderando a equipe comercial em todo território.
Newslab: Fale um pouco sobre o crescimento do mercado de testes genéticos:
R: O mercado global de testes genéticos cresce a uma taxa anual de ~10% e este crescimento deve se manter até 2022. Não temos informações oficiais em relação ao mercado brasileiro, mas posso afirmar que estamos crescendo a uma taxa bem mais alta do que o crescimento global. Isso se deve ao fato de que o Brasil é um país “jovem” em relação a implementação de testes genéticos na prática clínica e rotina dos laboratórios, mas cada vez mais laboratórios clínicos estão utilizando o sequenciamento de nova geração (NGS) na rotina.
Newslab: Fale um pouco sobre os avanços das pesquisas em Genômica:
R: As pesquisas científicas na área de genômica avançaram muito nos últimos anos e um exemplo disso é técnica que possibilita a edição de genes CRISPR, sigla em inglês de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, permitindo corrigir defeitos ou melhorar determinados atributos genéticos. No entanto, estamos vendo apenas a ponta do iceberg. Com a chegada da inteligência artificial e big data temos a capacidade de analisar e interpretar um volume muito maior de dados genéticos dando aos pesquisadores e geneticistas informações imprescindíveis para a tomada de decisão e conduta clínica trazendo muitos benefícios para a medicina personalizada e de precisão. Sabemos que os dados pessoais, especialmente o dado genético, será o novo petróleo mundial se tornando um recurso muito valioso.
Países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Singapura e outros já estão caminhando no sentido de construir um banco de dados que permita fazer ligações entre dados genéticos e clínicos de suas populações. Esses projetos de genômica populacional permitem uma melhor interação entre a pesquisa clínica, desenvolvimentos de fármacos e cuidado com os pacientes.
Newslab: Como você enxerga o Brasil nesse cenário?
R: O Brasil está entrando para o mapa da genômica no mundo. Atualmente, 80% dos dados genéticos disponíveis no mundo são de populações caucasianas (europeus e norte-americanos). Recentemente, foi anunciado o projeto DNA do Brasil, fruto de uma parceria público privada, o projeto visa sequenciar o genoma de parte da população brasileira e obter dados que permitam melhorar a prevenção e tratamento de doenças como hipertensão, diabetes e câncer.
Além desse projeto, o governo brasileiro por meio do Ministério da Saúde está engajado nas questões das doenças raras de base genética visando melhorar o diagnóstico e tratamento desses pacientes. Para isso, é fundamental entender melhor as variantes genéticas da nossa população.
Newslab: Qual a estratégia e posicionamento da Illumina?
R: Aproximadamente 90% dos dados de sequenciamento genético gerados no mundo são a partir da nossa tecnologia de sequenciamento por síntese, do inglês Sequencing By Synthesis – SBS. Nossa estratégia é de atuar como parceiro dos nossos clientes trazendo para a mesa inovação, tecnologia e toda a nossa bagagem e experiência adquirida ao longo dos anos.
Newslab: Como os laboratórios de análises clínicas podem se beneficiar das novas tecnologias Illumina?
R: Temos um amplo portfólio de soluções que permitem desde laboratórios de pequeno porte até grandes programas de genômica populacional adotar o sequenciamento de nova geração na rotina. Isso significa que nossos equipamentos são capazes de sequenciar desde pequenos painéis genéticos de câncer até exoma e genoma completo. Além disso, cada vez mais investimos em parcerias com grandes empresas para que kits de diagnóstico in vitro sejam desenvolvidos para os laboratórios clínicos.
Newslab: Quais são suas perspectivas, entraves e oportunidades em relação à genômica no mercado brasileiro?
R: Minhas perspectivas são as melhores possíveis. Em áreas da medicina como câncer, doenças raras e até mesmo medicina reprodutiva, a genômica já é uma prática de rotina e cada vez mais vem auxiliando as decisões médicas e a conduta clínica. Ainda temos muitos desafios pela frente, especialmente no que tange às fontes pagadoras. Tanto no SUS quanto na saúde suplementar o pagamento e reembolso de exames ainda está muito longe do desejável. A boa notícia é que esse cenário está mudando pouco a pouco e, no ano passado, vimos a recomendação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC para incorporação de exoma na investigação de deficiência intelectual.
Outro grande desafio está na interpretação do laudo e aconselhamento genético. Infelizmente ainda não temos a quantidade desejada de médicos e geneticistas capacitados para pedir e interpretar um exame genético.
Apesar de todos os desafios as oportunidades são grandes. Em áreas como doenças raras e câncer, ainda precisamos conhecer melhor as variantes da nossa população por meio de um grande projeto nacional de genômica populacional que vai permitir aplicarmos a medicina de precisão de uma maneira mais efetiva.
Tecnologias promissoras como biópsia líquida e análise de painéis genéticos mais abrangentes ainda não são adotados em grande volume na prática clínica. Na medicina reprodutiva, os testes pré natais não invasivos, também conhecidos como NIPT, estão restritos à poucas gestantes e poderiam auxiliar os médicos no acompanhamento pré-natal.
Para finalizar vou parafrasear o nosso CEO, Francis de Souza: “Há uma forte “revolução do DNA” acontecendo atualmente e a Illumina está liderando essa revolução. Nossa tecnologia e as soluções que trazemos continuamente ao mercado estão transformando nossa compreensão do genoma e, certamente, transformarão os cuidados com a saúde das pessoas”.
<Entrevista disponível na íntegra na Revista Newslab Ed 158>