Por José de Souza Andrade-Filho*
Os rins são órgãos de alta complexidade e fundamentais para a manutenção da vida, pois suas funções são indispensáveis ao organismo. A principal tarefa dos rins é a de um filtro engenhoso e incansável, processando cerca de 1.700 litros de sangue para eliminar escórias metabólicas e toxinas por meio da produção de cerca de 1 a 2 litros de urina a cada dia. A urina é solução aquosa, clara e transparente, levemente amarelada, contendo cerca de 96% de água e 4% de outras substâncias sólidas dissolvidas. O exame da urina pode fornecer dados importantes sobre o funcionamento renal e de outros órgãos. Outras funções renais incluem manutenção do pH sanguíneo, regulação hidroeletrolítica e controle da pressão arterial. Há também função endócrina, com produção de substâncias vasoativas e hormônios. Os rins têm o tamanho aproximado de um punho fechado, a cor vermelho-escura e a forma de um grande feijão (em inglês: the kidneys are large bean-shaped organs). Pesam cada um cerca de 150g e estão situados ao lado da coluna vertebral, envoltos e protegidos por uma camada gordurosa.
Segundo os historiadores, as primeiras ilustrações do sistema urinário foram elaboradas por Leonardo da Vinci no século XVI, a partir do estudo de cadáveres dissecados. O Prof. David Bostwick em seu livro de Patologia Cirúrgica Urológica diz que a urologia foi fundada por Da Vinci e por Vesalius, pois ambos fizeram desenhos detalhados dos sistemas gênito-urinários da mulher e do homem. Posteriormente, o italiano Marcello Malpighi, médico e biólogo, descreveu os corpúsculos renais ou glomérulos que levam o seu nome. Cada glomérulo é constituído por um novelo de pequenos vasos sanguíneos anastomosados chamados de capilares, propiciando grande superfície de filtração e que equivale a cerca de 13 km de extensão.
O sonho humano de substituir órgãos danificados por outros sadios foi conseguido através do progresso da medicina e de outros setores técnicos e científicos correlatos, permitindo o transplante de vários órgãos vitais como coração, rim, fígado e pulmão.
O transplante do “feijão gigante” é atualmente a melhor forma de tratamento para o paciente com insuficiência renal crônica avançada ou terminal, estando o paciente em diálise ou mesmo em fase pré-dialítica. Como em outras situações, o doador do rim pode ser um parente ou não, vivo ou em morte cerebral. A vantagem de o doador ser parente está na melhor sobrevida do paciente do enxerto, pois existe uma semelhança imunológica ou compatibilidade entre o receptor e o doador (texto baseado em fontes nacionais).
O feijão, útil em similitudes anatômicas e alimento apreciado pela grande maioria dos brasileiros, pode ter outras tarefas. No Japão, o feijão, principalmente tostado na grelha, tem virtude de proteção e de exorcismo. Afasta o demônio, deixa o mal à distância e defende contra o raio. Logo antes da primavera, na noite de 3 de fevereiro, os japoneses espalham feijões pela casa (mamemaki) a fim de expulsar os maus espíritos do lar. Acompanham seus gestos, gritando: demônios fora e felicidade dentro (trecho retirado de Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, 12ª Ed. José Olympio Editora, RJ.1998).
*José de Souza Andrade-Filho – Patologista no Hospital Felício Rocho-BH; membro da Academia Mineira de Medicina e Professor de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.