O líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquor, serve como barreira física e imunológica para o sistema nervoso central. Seu volume total em um adulto é de cerca de 150mL, sendo composto majoritariamente por água, algumas proteínas e poucas células.
Os exames realizados no líquor, por sua vez, são muito importantes para o diagnóstico e estadiamento de diversas doenças, como processos vasculares, infecciosos e neoplásicos que acometem, direta ou indiretamente, o Sistema Nervoso Central (SNC).
Para obtenção do líquor, faz-se uma punção lombar, podendo ou não estar associada à aplicação de medicamentos, como no caso de quimioterápicos administrados em alguns protocolos terapêuticos de leucemias agudas, por exemplo.
Líquor e Neoplasias Hematológicas
Algumas neoplasias hematológicas podem infiltrar o sistema nervoso central, ou seja, em algumas leucemias/linfomas, células neoplásicas podem ser encontradas no líquido cefalorraquidiano.
Mais comum em leucemias agudas, a infiltração do SNC ocorre em apenas 1% dos casos. Embora seja um evento raro, é extremamente importante que haja avaliação do líquor, pois caso existam células neoplásicas o protocolo de tratamento deve ser modificado, utilizando-se quimioterapia intratecal, ou seja, diretamente aplicada no SNC durante a punção lombar.
Imunofenotipagem de LCR
O LCR, por ser um material de difícil coleta, é classificado como amostra biológica nobre. Além disso, o baixo volume de células nesse material torna necessária a utilização de técnicas laboratoriais especiais para uma melhor avaliação das células existentes.
Por isso, a imunofenotipagem tem sido uma grande aliada na análise nesse tipo de material. Juntamente com análise morfológica do LCR, a imunofenotipagem consegue avaliar com precisão a presença de células oncohematológicas utilizando painéis específicos para cada hipótese diagnóstica.
Para falar um pouco sobre isso, convidamos o prof. João Batista Costa Neto @academiadoliquor, com mais de 23 anos de experiência em líquor, para dar dicas práticas sobre o tema.
“Vou tentar explicar com palavras simples a importância da sinergia dos profissionais do laboratório com a preservação da amostra para os exames de Imunofenotipagem.
Tenho observado que muitos colegas ainda ficam perdidos na análise de células jovens no hemograma e como conduzir os rastreamentos de identificação da população celular corretamente. Se no hemograma é um ponto de atenção, no caso do líquor é uma situação de saúde pública bem grave.
Isso ocorre porque a maioria dos laboratórios não padronizam os frascos ou tubos de coleta para os exames do LCR.
Dessa maneira, cada região do Brasil usa um tipo de tubo. Há ainda quem indique EDTA para preservar às células, o que é totalmente errado e equivocado quando se trata de LCR. Até mesmo para avaliação citológica, só este fato já um enorme problema, imaginemos quando há necessidade de encaminhar para o serviço de Imunofenotipagem.
Por isso aqui eu faço um super alerta: façam a adequação básica dos seus serviços para depois quererem avaliar os aspectos avançados da análise.
Hoje temos uma tecnologia chamada “Transfix”, um conservante celular que preserva as células para as avalições de imunofenotipagem, viabilizando o processamento da amostra de LCR em 18-72hrs após a coleta.
A Liquorologia Laboratorial é totalmente dependente da imunofenotipagem nessa identificação, já que no LCR não há como avaliar uma população celular como tentamos observar no hemograma e na medula óssea. Lá na citologia do LCR nós só determinamos “blastos” e a definição da população é da imunofenotipagem.
Atenção colegas, os erros começam na base, no tubo! Cuidado!”.
Helena Varela de Araújo, João Batista Costa Neto, Bruna Garcia Nogueira e Rafaele Loureiro Azevedo
JOAO BATISTA COSTA NETO
Mais de 23 anos de experiência, Nacional e Internacional, em líquido cefalorraquiano – LCR, sendo formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com Residência em Análises Clínicas no Hospital Universitário de Santa Maria – HUSM, Mestrando em Ciências Farmacêuticas (Líquor) UFSM/RS, Especialização em Patologia Clínica – Oncohematologia pelo Hospital Albert Einstein de São Paulo/SP, Fellow em Wurzburg na Alemanha em Liquorologia Laboratorial com o Prof.Dr. Hansotto Reiber, Comenda Mérito Farmacêutico pelo Conselho Federal de Farmácia – CFF em 2017 e autor do Manual Prático Teórico de Líquor com Atlas, Editora Life, 3a Edição – O livro mais vendido nos países de língua Portuguesa e América Latina no segmento. Palestrante Nacional e Internacional em Congressos e Eventos.
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