Resumo
O interesse pelos efeitos da altitude em relação ao exercício físico parece ter surgido nos Jogos Olímpicos de Verão, em 1986. Não passou muito tempo até que começassem a ser realizados estágios para tentar determinar as razões inerentes à aparente melhoria na performance atlética, quando em altitude. Especula-se que ao ocorrer uma melhoria da performance após estes estágios, esta advenha de alterações fisiológicas decorrentes da exposição às condições particulares da altitude, em que a aclimatização é entendida como o processo que toma lugar quando o organismo humano é exposto a condições de hipoxia, compreendendo um sem número de processos fisiológicos que servem para mitigar, até certo ponto, os efeitos da descida da pressão parcial de oxigênio. Um desses processos consiste na estimulação da eritropoiese. O objetivo deste estudo consistiu na avaliação do impacto de um estágio de 23 dias a 2240 metros (m) de altitude, nos parâmetros do eritrograma e na concentração de eritropoietina ([EPO]), em 7 triatletas de elite.
A amostra foi constituída por 5 atletas masculinos e 2 atletas femininos, tendo sido submetida a dois momentos de avaliação (no dia anterior ao início do estágio e no dia seguinte ao retorno ao nível do mar), para determinar os parâmetros do eritrograma: número de glóbulos vermelhos (RBC), concentração de hemoglobina ([Hb]), hematócrito (Htc), volume globular médio (VGM), hemoglobina globular média (HGM), concentração de hemoglobina globular média (CHGM), índice de anisocitose eritrocitário (RDW) e a concentração de eritropoietina [EPO]. Verificou-se que a [EPO] (9,8 ± 3,5 para 7,4 ± 2,8 mUI/ml; p = 0,178) e a CHGM (33,2 ± 0,5 para 32,4 ± 0,6 g/dl; p = 0,005) diminuíram após o estágio, sendo que esta diferença apenas foi significativa para a CHGM. Os aumentos significativos ocorreram para o RBC (4,7 ± 0,3 para 4,9 ± 0,2×106/mm3; p = 0,019); a [Hb] (14,5 ± 0,8 para 15,2 ± 0,3 g/dl; p = 0,022); o Htc (43,6 ± 2,0 para 46,9 ±1,2%; p = 0,003); o VGM (93,0 ± 3,8 para 95,8 ± 3,8fl; p = 0,000) e o RDW (13,1 ± 0,3 para 13,4 ± 0,2%; p = 0,034).
Conclui-se que um estágio de 3 semanas a uma altitude de 2240 m provocou alterações a nível dos parâmetros do eritrograma em 7 triatletas de elite, embora não seja possível estabelecer, se essas alterações resultaram do estímulo hipóxico por si só ou de um incremento na condição física. São necessários estudos futuros que aprofundem estas questões e consolidem os achados científicos e aplicabilidade da presente investigação.
Palavras-Chave: Altitude, Eritropoietina, Eritrograma, Exercício físico
Abstract
The interest in the effects of the altitude in relation to physical exercise seems to have emerged in the Summer Olympics in 1986. It was not long until they began to be realized stages to try to determine the reasons for the apparent improvement in athletic performance, when at altitude. It is conjectured that when there is a performance improvement after these stages, this arises from physiological changes resulting from exposure to particular conditions of altitude, in which acclimatization is understood as a process that takes place when the human body is exposed to hypoxic conditions comprising a number of physiological processes that serve to mitigate, to some extent, the effects of lowering the oxygen partial pressure. One such process is the stimulation of erythropoiesis. The purpose of this study was to evaluate the impact of 23 days of traditional altitude training at 2240 m on the erythrogram parameters and on the erythropoietin concentration ([EPO]), in 7 elite triathletes. The sample, constituted by 5 male and 2 female individuals, was submitted to two moments of evaluation – one day before ascent to 2240m and one day after the return to sea level – in order to evaluate the number of red blood cells (RBC), the concentration of hemoglobin ([Hb]), the hematocrit (Htc), the mean corpuscular volume (MCV), the mean corpuscular hemoglobin (MCH), the mean corpuscular hemoglobin concentration (MCHC), the red cell distribution width (RDW) and the [EPO].
It was checked, that [EPO] (9,8±3,5 to 7,4±2,8mUI/ml; p=0,178) and CHGM (33,2±0,5 to 32,4±0,6g/dl; p=0,005) decreased after altitude training, the differences being significant only to CHGM. Significant increases occurred in RBC (4,7±0,3 to 4,9±0,2×106/mm3; p=0,019); [Hb] (14,5±0,8 to 15,2±0,3g/dl; p=0,022); Htc (43,6±2,0 to 46,9±1,2%; p=0,003); VGM (93,0±3,8 to 95,8±3,8fl; p=0,000) and RDW (13,1±0,3 to 13,4±0,2%; p=0,034).
In conclusion, a three weeks training program at 2240m modifies erythropoietic activity in 7 elite triathletes, although it is not possible to establish, with certainty, if these alterations are a result of the hypoxic stimulus by itself, or a consequence of an improvement in physical conditioning. Future studies are needed to deepen these issues and consolidate scientific findings and usefulness of this research.
Keywords: Altitude, Erythropoietin, Erythrogram, Exercise
Autores: Ana Sofia Rodrigues Tavares, Renato Abreu, Ana Almeida, Maria do Céu Leitão, Filipa Isabel Bernardo Félix e Inês Alexandra Arez de Jesus
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