Usar exames de urina juntamente a exames de imagem de pacientes com massas adrenais pode acelerar o diagnóstico de câncer adrenal, melhorando o prognóstico do paciente e reduzindo a necessidade de procedimentos invasivos para o diagnóstico, segundo um estudo multicêntrico publicado na The Lancet Diabetes & Endocrinology.
Procedimentos de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética são usados na prática clínica com grande frequência, e podem levar à descoberta incidental de nódulos nas glândulas adrenais detectados em cerca de 5% dos escaneamentos. Esses “incidentalomas adrenais” são inofensivos na maioria dos casos, mas uma vez que uma massa adrenal é descoberta é importante excluir a possibilidade de câncer adrenal, assim como a presença de excesso de hormônios adrenais.
O prognóstico para pacientes que possuem carcinoma adrenocortical é ruim, e a cura só é atingida através da detecção precoce e cirurgia. A descoberta incidental de uma massa adrenal geralmente dispara a execução de diversos escaneamentos para determinar se a massa é cancerosa. Entretanto, recentes estudos tem sugerido que testes de imagem tem habilidade limitada em estabelecer se uma massa é cancerosa ou benigna. Portanto, executar mais escaneamentos para caracterizar a massa adrenal aumenta o custo, a exposição a radiação e a ansiedade do paciente, e ainda pode-se correr o risco de não prover mais informações valiosas que poderiam informar o manejo clínico do paciente.
Liderado por especialistas da Universidade de Birgmingham, um novo estudo multicêntrico, que é o primeiro e o maior de seu tipo, sugere que a adição da metabolômica de esteroides da urina em forma de um simples teste de urina para detectar o excesso da presença de hormônios esteroides – um indicador chave de tumores adrenais – pode acelerar o diagnóstico e o tratamento de pacientes que tenham carcinoma adrenocortical e ajudar a eliminar a necessidade de cirurgias desnecessárias em pacientes com massas adrenais benignas.
Por cerca de seis anos, pesquisadores estudaram mais de 2000 pacientes com diagnósticos de tumores adrenais de 14 centros da Rede Europeia de Estudos de Tumores Adrenais (ENSAT, do inglês: European Network for the Study of Adrenal Tumours). Foram coletadas amostras de urina de pacientes depois de serem diagnosticados e os pesquisadores analisaram os tipos e quantidades de esteroides adrenais na urina, com resultados automaticamente analisados por um algoritmo de machine learning. Resultados demonstraram que os testes de urina tiveram menos erros do que os exames de imagem, que mais frequentemente diagnosticaram carcinomas adrenocorticais em nódulos adrenais inofensivos.
A introdução de uma nova abordagem na prática clínica de rotina irá permitir diagnósticos mais ágeis para aqueles com massas adrenais cancerosas. Isso poderá levar a menor ansiedade do paciente e uma redução nos custos do tratamento médico, reduzindo não só o número de cirurgias desnecessárias para aqueles com aumentos de massa benignos, mas também limitando o número de escaneamentos de imagem requeridos para o diagnóstico.
O estudo que demonstrou que a maior acurácia foi alcançada quando combinado o tamanho do tumor e características de imagem com o teste de urina, em particular quando aplicado o teste de urina em pacientes com massas adrenais maiores e resultados de imagem suspeitos. Seguindo o escaneamento inicial que levou à descoberta da massa adrenal, essa estratégia de teste combinada resultaria na necessidade de mais exames de imagem em apenas 24,2% (488) participantes do estudo de 2017, que na verdade passaram por 2737 exames de imagem antes da decisão diagnóstica final.
Os achados deste estudo irão figurar nas orientações internacionais para o manejo de tumores adrenais, e a implementação de novos testes irá, esperançosamente, aumentar a perspectiva geral de pacientes diagnosticados com tumores adrenais.
Mais informações: Irina Bancos et al, Urine steroid metabolomics for the differential diagnosis of adrenal incidentalomas in the EURINE-ACT study: a prospective test validation study, The Lancet Diabetes & Endocrinology (2020). DOI: 10.1016/S2213-8587(20)30218-7
Com informações de Universidade de Birmingham, adaptação e tradução por João Gabriel de Almeida (Equipe Newslab).