Em termos de saúde, podemos dizer que parte fundamental dos primeiros passos de cada mãe é a realização de um pré-natal de qualidade. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de gestantes não realizaram pré-natal adequado, não tendo acesso à pelo menos 7 consultas. O pré-natal é fundamental para o acompanhamento da saúde da mãe e do bebê, garantindo as melhores condições para ambos desde a concepção até o parto.
Assim, no pré-natal, uma série de exames laboratoriais são requeridos, pelo menos duas vezes durante todo o período gestacional. Não são todas as gestantes que conhecem e entendem a importância de cada um. Neste material, feito especialmente para o Dia das Mães, a Newslab vai trazer alguns dos principais exames e a importância clínica de cada um.
1) Tipagem sanguínea e fator RH
Este exame busca encontrar possíveis incompatibilidades sanguíneas entre a mãe e o feto, que se confirmada, pode causar uma doença chamada eritroblastose fetal. O fator RH é uma proteína contida nas hemácias que pode estar presente (RH+) ou não (RH-). Determinado geneticamente, o fator RH possui dois genes alelos: um recessivo (r) e um dominante (R), sendo que na presença do dominante, há produção de proteína. A tabela a seguir clarifica como é determinado pelo gene a produção ou não da proteína:
Fator RH | Antígeno | Genótipo |
RH positivo | Fator RH | RR ou Rr |
RH negativo | não há | rr |
Em casos onde o fator RH da mãe for negativo e o do feto for positivo, há uma incompatibilidade sanguínea que pode gerar problemas para ambos caso não diagnosticado em tempo. Se o sangue materno entrar em contato com o sangue fetal, o sistema imunológico da mãe irá reconhecer as hemácias do feto como “invasores”, assim, irá produzir anticorpos contra o sangue do feto. Dessa forma, pode ocorrer diversas consequências, entre elas o óbito. Entretanto, durante toda a gestação, todos os nutrientes e oxigênio são transferidos da mãe para o feto através da placenta, e assim não há contato do sangue de ambos. Há casos em que hemorragias maternas possam alterar esta condição, contudo, o momento crítico é o parto.
Assim, é importante que a testagem sanguínea possa indicar possíveis incompatibilidades para que no pós-parto seja administrada a imunoglobulina anti-D por via intramuscular, para garantir a segurança da mãe e do feto.
A incompatibilidade é mensurada através do teste de Coombs indireto, uma das reações com maiores possibilidades em imuno-hematologia e nos permite executar uma série de testes como: pesquisa e identificação de anticorpos irregulares anti-eritrocitários, testes de compatibilidade pré-transfusionais e determinação de antígenos eritrocitários que não são evidenciados por aglutinação direta.
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2) Sorologia para sífilis
A sífilis é uma DST causada pela bactéria Treponema pallidum, que nos adultos possui fases clínicas de atividade e de latência. As fases clínicas são chamadas de primária (úlcera ou cancro no local da infecção) ou secundária (rash cutâneo, lesões mucocutâneas e linfoadenopatia). A fase clínica de latência é chamada de terciária, podendo incluir sintomas como lesões cardíacas ou lesões gomatosas. A transmissão vertical, ou seja, da mãe para o feto, é a maior preocupação em termos de saúde pública, uma vez que pode ocasionar a sífilis congênita. A sífilis congênita, dependendo do estágio da doença materno e do estágio da gravidez, pode levar há diversas consequências, desde cegueira, surdez, óbito ao nascer ou aborto.
Considerada uma doença evitável, a sífilis congênita tem seu principal canal de prevenção no pré-natal. A gestante realiza os testes sorológicos, que se positivos, será encaminhada para o tratamento com o único antibiótico de eficácia confirmada: a penicilina. Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, tanto a saúde materna, quanto a saúde fetal podem ser garantidas.
Os testes sorológicos de sífilis são divididos em duas categorias: não-treponêmicos e treponêmicos. Os testes não-treponêmicos, como por exemplo o VDRL, são considerados menos específicos e de triagem, podendo fornecer reação cruzada com outras doenças. Contudo, são excelentes para uma primeira pesquisa de anticorpos contra sífilis no soro materno. Os teste treponêmicos são mais específicos, como por exemplo o FTA-abs, devem ser realizados como via de confirmação dos resultados de triagem.
3) Sorologia do HIV
O HIV é uma DST bastante conhecida e temida em todo mundo. Também pode ser transmitida entre mãe e feto, portanto, é necessário total atenção para garantir que isso não ocorra. A sorologia de HIV também é realizada entre ensaios de triagem e testes confirmatórios, garantindo a melhor veracidade dos resultados e deve ser repetido ao longo da gravidez, assim como a sífilis, até o momento do parto.
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Os testes de triagem são considerados muito sensíveis, como por exemplo os testes tipo Elisa (EIA). Já os testes confirmatórios são considerados muito específicos, fechando o diagnóstico e os mais comuns deste tipo são: Imunofluorescência indireta, Imunoblot e Western blot (WB). No Brasil, há um fluxograma previsto em lei para a realização correta do diagnóstico de HIV, que deve ser utilizado por todos os laboratórios.
Mulheres resultado positivo nos testes devem ser observadas durante toda a gestação, além de receberem a quimioprofilaxia com AZT injetável e o recém-nascido deve receber o AZT solução oral.
3) Sorologia de Hepatite
A hepatite B é uma inflamação do fígado provocada por um agente infeccioso, o vírus da hepatite B (HBV), que possui transmissão similar ao HIV. Nos adultos, os sintomas iniciais se assemelham à gripe, com sensação de um mal-estar geral, dor de cabeça, entre outros. Em um segundo momento pode ocorrer a icterícia. Se não tratada, pode evoluir para uma cirrose hepática e/ou câncer de fígado.
Se não tratada, a Hepatite B pode ser transmitida ao feto, aumentando as chances de parto prematuro e podendo ocasionar em ¼ dos recém-nascidos, de gestantes infectadas por Hepatite B no último trimestre de gestação, uma hepatite crônica.
No teste sorológico, realiza-se a pesquisa do HBsAg – antígeno de superfície do vírus da hepatite B (VHB). O HBsAg é o primeiro marcador encontrado que indica infecção aguda pelo VHB e desaparece com a cura. Se persistir por mais de 6 meses, indica hepatite crônica. Em relação à forma congênita, ou seja do feto, o marcador HBeAg indica maior risco de infecção vertical.
4) Sorologia de Toxoplasmose
Apesar de silenciosa e muitas vezes inofensiva aos adultos, a Toxoplasmose possui sintomas muito variados. Conhecida popularmente como “doença do gato”, ela pode ser assintomática ou ter sintomas similares à uma gripe. A toxoplasmose pode ser um problema em indivíduos imunodeprimidos e durante a gravidez, pode gerar consequências sérias para o feto. No recém-nascidos alguns sintomas podem ser: icterícia, Hepatoesplenomegalia e exantemas.
O diagnóstico é feito para encontrar infecções recentes de toxoplasmose na mãe e para isso realiza-se a pesquisa sorológica de anticorpos das classes IgG e IgM. Os métodos utilizados são do tipo Elisa ou imunofluorescência. Caso seja encontrado no exame o anticorpo IgM positivo, encaminha-se o teste de avidez de IgG, que busca estimar quando ocorreu a infecção.
Casos positivos de infecção materna e risco de transmissão vertical, indica-se uso de espiramicina via oral e encaminhamento para pesquisa de infecção fetal por PCR para prosseguir com terapia do bebê.
Além destes, são realizados testes de urina e fezes, bem como pesquisa de possível diabetes em gestantes.
É importante que as gestantes tenham sempre em mente a importância de todos os exames laboratoriais e que é possível contornar ou reduzir os riscos para o bebê. O cuidado da saúde materna e do bebê é imprescindível e o pré-natal de qualidade é a primeira demonstração de afeto e de carinho.
Informações:
¹Manual Técnico do Pré-natal e Puerpério – Secretaria do Estado de São Paulo
² Protocolo para prevenção de transmissão vertical de HIV e Sífilis.