Ao completar um ano na presidência da Labtest, Alexandre Guimarães conta os desafios enfrentados durante a pandemia, explica as manobras que a empresa fez nesse período pandêmico e revela os planos para um futuro que inclui: expansão da empresa para além do mercado de diagnóstico laboratorial, abertura para parcerias diversas e muito mais. “Um plano bem arrojado”, resume o CEO da Labtest.
1 – O Sr. assumiu a presidência da Labtest há um ano. Como foi o desafio de presidir uma empresa de 50 anos? Qual é a marca da sua gestão?
Alexandre Guimarães: o desafio maior de liderar esse processo está associado às mudanças que estão acontecendo no mercado de diagnóstico laboratorial. O que a Labtest fez durante 40 anos, teve que, nos últimos 10 anos, repensar muita coisa. A pandemia também contribuiu para essa transformação gigante do mercado. As relações que o laboratório tem com o paciente e as que o paciente tem com a própria saúde mudaram muito! O conceito de conveniência também ganhou outro patamar! Tudo isso configurou um novo cenário de mercado nos últimos 10 anos.
Uma empresa de 50 anos, que já tem seus processos definidos, que já tem uma certa estabilidade, também precisa se mexer. Então, o maior desafio foi trabalhar essa mudança, esses ajustes internos, para que pudéssemos nos adaptar às perspectivas externas. Eu diria que em termos de marca de gestão, um aspecto que nós enfatizamos muito ao longo desse período, e continuamos enfatizando, é aumentar a nossa agilidade, trazendo novas tecnologias através de parceiros, fornecedores, universidades e startups. Ou seja, nós decidimos trabalhar com o conceito de inovação aberta, buscando colaboração externa para aumentar a nossa agilidade. Isto vale para tudo: para desenvolver produtos, para redesenhar e modernizar processos. Então, acho que esse um ano à frente da presidência da Labtest foi muito marcado por esses aspectos. Há muito ainda o que ser feito, mas essa é a palavra de ordem.
2 – O Sr. assumiu a Labtest em meio à pandemia. Como foi enfrentar o desafio de presidir em condições adversas? Qual o aprendizado?
Alexandre Guimarães: tivemos três pontos associados à pandemia que são muito fortes: o primeiro ponto é sobre como nossa Organização – com 220 colaboradores, funcionários indiretos, somando-se ainda seus familiares – vem lidando com a pandemia. Debatemos muito internamente sob o aspecto humano, com atenção à saúde física e mental de todos os envolvidos. Fazemos isso até hoje! Queremos saber como as pessoas estão se sentindo no trabalho, quais são suas expectativas, qual é o sentimento ligado à retomada do trabalho presencial em detrimento ao home-office, etc. Então, quando estabelecemos esse primeiro aspecto, estamos falando especialmente de pessoas, de como lidar e cuidar delas.
O segundo ponto está associado, de certa forma, à pergunta anterior, caindo novamente na necessidade de maior agilidade e na própria inovação aberta. A pandemia permitiu que nós experimentássemos este modelo fortemente. O avanço rápido da doença exigiu que a Labtest provesse soluções para o diagnóstico da COVID-19 com muito mais agilidade. Esta “corrida” nos trouxe a oportunidade de aprender a inovar estreitando as relações com nossos fornecedores, entidades de pesquisa e startups para incorporar novas soluções ao nosso portfólio.
O terceiro ponto faz referência ao próprio crescimento em si. Embora o mercado de diagnóstico convencional tenha sofrido um pouco no início da pandemia, a expansão devido à própria necessidade imposta pela doença foi imensa! Crescemos 35% nesse período, de 2020 para 2021. Junto com este crescimento vem as dores associadas como: a necessidade de mais pessoas; o estabelecimento de novos processos; a gestão da cadeia de suprimentos que foi muito afetada durante este período; e a própria estratégia financeira para suportar este crescimento. Foram muitos desafios em um curto espaço de tempo.
3 – Quais são os maiores desafios nesse novo cenário do mercado de saúde, em especial o mercado de diagnóstico laboratorial?
Alexandre Guimarães: de fato, todo o setor de saúde teve uma imensa transformação. Nos últimos anos então, isso se acelerou: planos de saúde associados à hospitais, planos de saúde com outros planos, hospitais com laboratórios, grandes laboratórios com laboratórios médios, um nível de concentração muito forte, o que, evidentemente, impacta enormemente as estratégias mercadológicas da Labtest. Em primeiro lugar, nossos principais clientes, que são os laboratórios de pequeno e médio porte, vêm vivenciando intensas mudanças, seja pela própria consolidação, pela atuação dos laboratórios de apoio ou pela conjuntura de dificuldades logísticas e de custo.
Temos então um cenário bastante adverso do ponto de vista de crescimento. Nossa estratégia para sobrepor estes desafios vem sendo a de criar soluções que possam proporcionar maior competitividade para estes laboratórios. Isto exige muita criatividade, e flexibilidade. São questões que estamos trabalhando internamente. As soluções point of care, que ampliam a atuação do laboratório como prestador de serviço para clínicas, hospitais e até farmácias, é um exemplo destas estratégias.
Se o paciente não está mais na recepção do laboratório, seja pela doença, pela conveniência ou outro motivo, pensamos em como a Labtest pode ajudar este laboratório a encontrar novos caminhos e buscar soluções para o atendimento.
A questão é: qual o modelo de negócio e qual a forma ideal para continuar a atender esse paciente? Hoje, por exemplo, temos laboratórios, clientes nossos, que fazem um trabalho de diagnóstico associado à clínica, hospital e à farmácia. Então, esse laboratório não está perdendo cliente. A Labtest se tornou uma aliada para que este laboratório atenda seus pacientes, seja onde estiverem. A nossa estratégia é muito clara: a Labtest está auxiliando os laboratórios a entrar nesse novo mercado de saúde de forma competitiva e de forma a cativar o cliente.
4 – Como o Sr. está preparando a Labtest para os próximos anos sob sua gestão?
Alexandre Guimarães: eu acho que o aspecto que abordei anteriormente, de agilidade baseada em inovação aberta, é o principal fato. Precisamos manter esse foco e construir, paulatinamente, modelos de negócios baseados em ecossistemas, onde empresas de diferentes portes, fornecedores, clientes, distribuidores, entidades de classe, instituições de ensino, governo e até concorrentes possam ajudar a criar valor no mercado de diagnóstico. Acreditamos que a Labtest será bem-sucedida se ela puder contribuir ou até mesmo orquestrar parte destes ecossistemas. Sozinhos temos nossas limitações, mas a união de forças de diversos stakeholders, dentro de um ecossistema de negócios funcional, é o que garantirá bons resultados nas próximas décadas.
De forma concreta, trabalhamos na formação de pessoas preparando-as para um cenário competitivo e adverso, cuidamos do ambiente de trabalho para mantermos nossa atratividade e reter esses talentos, seguimos com nossos processos de educação continuada e, sobretudo, estamos cada vez mais ampliando nosso escopo de atuação.
5 – A Labtest vai se reposicionar no mercado? Pretende conquistar novos nichos de mercado, novas linhas de produto, novos mercados, novos produtos focados em Saúde?
Alexandre Guimarães: estamos trabalhando para ampliar nossa atuação não só na linha de diagnóstico, mas também buscando parcerias para atuar no mercado de saúde como um todo. A grande movimentação do setor traz desafios e oportunidades para esta ampliação de escopo fora do diagnóstico in vitro.
Este reposicionamento envolve não só reagentes e equipamentos, mas também outras soluções que possam agregar valor para o cliente. Este trabalho passa então pela ampliação de linhas de produto em relação ao porte dos laboratórios, por novos canais de distribuição e, até mesmo, por novos modelos de negócios.
6 – Qual a novidade para os próximos 50 anos, teria como dar uma pista?
Alexandre Guimarães: estamos planejando investimentos significativos tanto na indústria, no desenvolvimento de novos produtos, como na oferta de novas soluções para novos mercados. A demandas regulatórias e o alto padrão de qualidade e competitividade do mercado requer investimentos constantes da nossa parte. A maior dica que poderia dar é que nossa previsão de investimento para os próximos 5 anos é comparável ao volume investido nos últimos 50 anos. É um plano bem arrojado!
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