Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós-PhD em Neurociências e Especialista em Nutrição Clínica
O cafezinho logo após o almoço é hábito afetivo. No intestino, a história muda. Polifenóis do café, como os taninos, ligam-se ao ferro do alimento e reduzem a entrada do mineral, sobretudo quando a fonte é vegetal. O ferro heme das carnes entra com mais facilidade; o não heme de feijões, lentilhas e folhas depende de condições favoráveis. Quem tem estoques baixos ou segue dieta majoritariamente vegetal sente mais o impacto. Solução prática: deixar um intervalo de cerca de uma hora entre a refeição e o café. Combinar a refeição rica em ferro vegetal com vitamina C ajuda — frutas cítricas, kiwi, morango, pimentão e tomate elevam a fração absorvida. Chás preto e verde atuam de modo parecido ao café quando ingeridos junto ao prato. Vinho tinto tem polifenóis, mas a influência típica na vida real tende a ser menor que a do café e do chá. Laticínios podem atrapalhar em testes agudos, embora o efeito global na dieta costume ser modesto; vale só não concentrar grandes porções de queijo ou iogurte na mesma refeição “alvo” do ferro. Panelas de ferro fundido são aliadas, com ganho mensurável de ferro em cozidos úmidos e ácidos, especialmente quando o preparo fica mais tempo no fogo.
Curcumina pede outra conversa. É o composto ativo da cúrcuma e motivou estudos por propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, com pesquisas em dor, metabolismo, função endotelial e queixas cognitivas leves. Em suplemento, vem muito mais concentrada e com formas de “aumentar a biodisponibilidade” como piperina. Isso altera exposição, resposta e risco. Pessoas com cálculo biliar, gastrite ativa ou uso de anticoagulantes precisam de avaliação antes de usar. Nos últimos anos, surgiram relatos de lesão hepática associada a suplementos de cúrcuma/curcumina, principalmente em fórmulas de alta biodisponibilidade. Cúrcuma na comida segue segura e útil; cápsulas concentradas exigem critério clínico, exames quando necessário e personalização — histórico, remédios em uso e, quando disponível, perfil genético que influencia metabolização. Para saúde cerebral e metabólica, o ganho robusto vem de base bem feita: sono, exercício, controle glicêmico, dieta rica em vegetais, gorduras de qualidade e proteínas adequadas. Suplemento entra como coadjuvante quando há indicação.
Guia rápido para acertar no cotidiano: se a refeição é a principal fonte de ferro vegetal, inclua vitamina C no mesmo prato e deixe café e chás para uma hora depois. Se os exames mostram ferritina baixa, ajuste horários antes de cortar alimentos. Se pensa em curcumina em cápsulas, converse com um profissional, revise condições clínicas e interações, defina dose e tempo de uso, monitore sinais de desconforto biliar ou hepático. Ciência aplicada é escolher o momento certo, a forma certa e a combinação certa.
Sobre o Dr. Fabiano
Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é Pós-PhD em Neurociências e Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal. Membro da Sigma Xi, da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, da Royal Society of Biology no Reino Unido e da American Philosophical Association. Mestre em Psicologia, licenciado em Biologia e História, tecnólogo em Antropologia e Filosofia, com formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Integra sociedades de alto QI como Mensa, Intertel, ISPE High IQ Society, Triple Nine Society, ISI-Society, Numerical e HELLIQ Society High IQ. Autor de centenas de artigos científicos e livros.


