O segmento laboratorial transformou-se drasticamente, num curto período recente, pois a tecnologia revolucionou ambientes, materiais, processos, qualidade, precisão, eficácia, velocidade e disponibilidade de serviços. O futuro, que acontece todos os dias, faz com que essa metamorfose ilimitada empolgue alguns e assuste outros, sobretudo os pequenos laboratórios, cuja capacidade de investimento é naturalmente desproporcional à dos grupos que atuam com o gigantismo do sucesso fora da curva – os cases do segmento.
Para as principais referências do setor, inevitavelmente, o grau de imprevisibilidade será sempre menor, pois as tendências chegam por meio de pesquisas próprias, visitas técnicas distantes da realidade da maioria e até experimentação gratuita de insumos e equipamentos. No entanto, o avanço também carrega generosidades, como a expansão do conhecimento e o fácil acesso à informação, de modo que a atitude individual pode agregar valores que não estariam disponíveis, se o valor em questão fosse monetário.
O farmacêutico precisa mergulhar, cada vez mais, nos estudos sobre gestão, entendendo, com aprofundamento, as razões que fazem do laboratório uma marca com personalidade própria, em que conceitos podem ser gradativamente incorporados e a inserção de uma cultura de profissionalismo pode começar com pequenos passos, com baixos investimentos.
Estamos nos tempos em que o próprio laudo é uma ferramenta conceitual, pois a logomarca do laboratório nos papeis e envelopes transmite organização, bom gosto estético e padronização. Além disso, muitas mídias de veiculação gratuita, como as redes sociais, acabam irrelevantes pelo amadorismo das peças produzidas, quando mesmo autônomos da comunicação, desde que profissionais habilitados, fariam diferença.
Se, ainda, o baixo investimento representa um passo adiante, nem tudo está engessado: o paciente é a razão de ser mais apontada por qualquer ator da saúde. No entanto, o esforço em transmitir esse conceito é muito mais reativo do que proativo. Veja que buscar leitura sobre relacionamento interpessoal, conscientizar a equipe de atendimento sobre a importância da cordialidade e expor os cartazes, com as condutas de segurança e os certificados de qualidade adquiridos, são formas simples de fazer chegar aos olhos dos clientes muita informação de valor agregado.
É incorreto esperar solicitações diretas, quando uma assistência diferenciada pode começar com um serviço de aconselhamento, ofertando a informação em saúde tão demandada pela população, fidelização que o Google acaba por conquistar, sem o menor esforço. Outro exemplo é o tema sustentabilidade, tão caro nos dias atuais. Enquanto os laboratórios preservam o meio ambiente, inclusive por exigência da vigilância sanitária, segmentos empresariais com impacto insignificante enchem seus timbrados e comunicados com selos e dicas sustentáveis.
O profissionalismo urge, pois o cenário 2020 promete ser ainda mais desafiador, com novos impactos causados pelas mudanças políticas e econômicas, que são tão mais positivos, quanto mais preparado e adaptável forem o negócio e seu empreendedor. A reforma tributária, os planos de saúde populares, novas regras para contratos entre operadoras e prestadores, além do próprio pacto federativo, dado que muitos laboratórios têm receitas significantes via licitações municipais – constituem uma realidade que precisa ser incorporada pelo setor.
Acrescente-se, ainda, a Medicina personalizada; o crescimento populacional; a maior longevidade; o surgimento de novas doenças; a resistência microbiana; a segurança do paciente; o crescimento incessante das tecnologias, inclusive da informação; as regulações mais dinâmicas; e a relação qualidade-custo da assistência. Todos grandes desafios para atingir a sustentabilidade econômica com excelência na saúde.
Posto tudo isso, nunca é demais lembrar que a tecnologia não substitui postura profissional, atenção, zelo, higiene, humanização. Tanto que a melhor das propagandas continua a ser o cliente satisfeito. A credibilidade segue associada à confiança, cuja melhor forma de transmissão sustenta-se no tripé organização, compromisso e competência, valores não comercializáveis, conquistados individualmente, independente do tamanho do empreendimento.
Assim, inclusive as entidades que fomentam e defendem nosso tão desafiador segmento, além do suporte técnico-científico-jurídico, precisam acompanhar os conceitos empreendedores mais atuais e traduzir as tendências mais relevantes em ações que informem e incentivem a tomada de decisão e a conduta de quem atua nas análises clínicas.
[[Matéria disponível na Revista Newslab Ed 158]]