O Brasil terá, no triênio 2023-2025, 704 mil novos casos de câncer. Ou seja, mais de 2 milhões de novos casos de câncer em apenas três anos. As estimativas, divulgadas no final do ano passado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), mostram, neste Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, que o cenário ainda é bastante preocupante. Relatos de personalidades do meio esportivo e artístico, como as cantoras Preta Gil e Simony, são exemplos de como o câncer pode se manifestar em todas as camadas da população, independente das faixas etárias e gêneros.
Apesar disso, vêm surgindo novos tratamentos e modernas técnicas de diagnóstico, que representam uma esperança na luta contra o câncer. Entre as novidades promissoras, com alta tecnologia, estão os testes genéticos e genômicos. Segundo a assessora em Genética e Genômica do Laboratório Lustosa, Fernanda Soardi, eles são fortes aliados na luta contra diferentes tipos de câncer, na medida em que auxiliam na definição do tratamento mais adequado e, com isso, aumentam as chances de cura.
“A aplicação dos exames genéticos e genômicos gera um aumento do conhecimento sobre os genes alterados e vias celulares envolvidas, informação que auxilia no diagnóstico, na estratificação do risco e no tratamento, visando intervenções contra alvos gênicos específicos”, explica. Para a especialista, isso faz uma enorme diferença. “As informações obtidas permitem uma abordagem clínica mais personalizada e o tratamento mais adequado para cada caso, o que impacta na qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes acometidos por diferentes neoplasias”, argumenta.
De acordo com Fernanda Soardi, atualmente, estão disponíveis diferentes exames genéticos e genômicos em laboratórios clínicos, como a análise de genes isolados, painéis multigênicos e exoma.
No painel multigênico, por exemplo, é possível investigar a predisposição hereditária do paciente ao câncer, por meio da investigação de vários genes (centenas deles) ao mesmo tempo. O teste também pode auxiliar o médico no diagnóstico em casos nos quais outras abordagens e análises se mostraram pouco conclusivas. “O desenvolvimento de um determinado tipo de câncer pode estar ligado a variantes em mais de um gene, o que torna o exame uma ferramenta importante para definir o melhor tratamento”, explica Fernanda.
Já o exoma amplia essa investigação para todas as regiões codificantes do genoma humano. Ele permite testar todos os exons dos mais de 20.000 genes humanos. “Apesar de indicado para investigar uma determinada suspeita clínica, ele pode apresentar diferentes achados, já que todos os genes são sequenciados”, destaca.
Considerando ainda os tipos de cânceres e a progressão tumoral, a especialista cita outro exame, a biópsia líquida, para investigar diferentes genes ao mesmo tempo. “Pode ser o exame de escolha do médico para acompanhar a evolução tumoral, pois retrata as alterações presentes no tumor no momento da coleta de sangue e pode ser realizada em diferentes momentos”, complementa.
Há casos também em que é indicada a análise isolada do gene, o que ocorre geralmente quando há forte suspeita de um único gene associado a uma determinada condição. “Mas não costuma ser o exame preferencial em casos de câncer sem suspeita de predisposição hereditária específica”, informa.
Melhor escolha
Entre esses exames genéticos e genômicos, como saber qual deve ser aplicado? A assessora em Genômica e Genética do Lustosa afirma que, com base no histórico de cada paciente, seus dados clínicos e laboratoriais, o médico define a estratégia de investigação genética mais adequada e se necessária. “Pode ser uma suspeita de predisposição hereditária ao câncer ou um caso em que conhecer as mutações presentes no tumor auxilie a definir tratamento e condução clínica”, ressalta.
Recentemente, foi aprovada pela Câmara dos Deputados a inclusão da análise da predisposição hereditária ao câncer de mama e ovário no Sistema Público de Saúde. Contudo, os exames genéticos e genômicos são predominantemente oferecidos na rede particular.