A ideia de que indivíduos com alto QI podem ser mais sensíveis a medicamentos e suplementos tem circulado em diversos círculos científicos e entre entusiastas da neurociência. Mas há alguma base científica para essa hipótese? Pesquisas preliminares sugerem que há razões para acreditar que algumas pessoas mais inteligentes podem, de fato, perceber mais os efeitos dessas substâncias — embora ainda faltem estudos conclusivos.
O Cérebro e a Química dos Medicamentos
O cérebro humano é um sistema altamente complexo, e sua resposta a substâncias químicas pode variar de acordo com diversos fatores, incluindo genética, metabolismo e eficiência neural. Pessoas com alto QI frequentemente apresentam maior plasticidade cerebral e uma comunicação neuronal mais eficiente, o que pode impactar a forma como reagem a suplementos e fármacos que afetam neurotransmissores.
“Indivíduos com maior inteligência tendem a ter um sistema nervoso mais sensível a pequenas alterações químicas”, explica o neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela. “Isso pode significar que medicamentos que modulam a dopamina, serotonina ou acetilcolina — neurotransmissores essenciais para a cognição — sejam sentidos de maneira mais intensa por eles.”
Maior Percepção ou Apenas um Efeito Placebo?
Outro fator que pode influenciar essa sensibilidade é a maior consciência corporal e introspectiva de pessoas com alto QI. Elas podem ser mais propensas a notar mudanças sutis nos estados cognitivos e físicos, o que amplifica a percepção dos efeitos de uma substância, mesmo que fisiologicamente não estejam sendo mais afetadas do que outras pessoas.
Além disso, o chamado efeito placebo (quando uma pessoa sente os efeitos de uma substância por pura expectativa, mesmo que a substância seja inerte) pode desempenhar um papel importante. “Pessoas mais analíticas tendem a ter maior sugestionabilidade no que diz respeito à percepção de sintomas e efeitos colaterais”, destaca o psiquiatra Dr. Flávio Henrique.
Genética e Metabolismo: A Chave para a Resposta Individual
Outro fator relevante está na genética. Estudos mostram que variações em genes responsáveis pelo metabolismo de substâncias psicoativas podem impactar significativamente a forma como um indivíduo responde a um medicamento ou suplemento. Isso não está necessariamente ligado ao QI, mas sim a características biológicas individuais que podem coincidir em alguns grupos de pessoas mais inteligentes.
Um exemplo disso é a forma como o fígado metaboliza certas substâncias. Algumas pessoas possuem enzimas hepáticas que quebram medicamentos rapidamente, reduzindo sua eficácia, enquanto outras metabolizam mais devagar, tornando os efeitos mais prolongados e intensos. Se houver alguma correlação entre alta inteligência e certos perfis metabólicos, isso poderia explicar a maior sensibilidade de algumas pessoas.
Precisamos de Mais Pesquisas
Embora existam indícios de que indivíduos com alto QI possam sentir mais os efeitos de medicamentos e suplementos, ainda não há estudos conclusivos que comprovem essa relação de forma generalizada. A complexidade da resposta do organismo humano a substâncias químicas envolve múltiplos fatores, como predisposição genética, estilo de vida e até mesmo aspectos psicológicos.
O campo da neurofarmacologia continua investigando como diferentes perfis cognitivos respondem a fármacos e suplementos, mas, por enquanto, qualquer afirmação sobre uma maior sensibilidade de pessoas inteligentes a essas substâncias ainda precisa de mais embasamento científico. Até lá, a melhor abordagem continua sendo a individualizada: cada pessoa deve testar e ajustar os suplementos e medicamentos conforme suas próprias respostas e sob orientação profissional.