Estudo fez comparativo entre o diagnóstico clínico e o molecular
Janyelle da Mata*
A Síndrome de Williams-Beuren (SWB) é uma desordem genética, que geralmente não é hereditária e não é ocasionada por fatores externos. Ela apresenta características físicas e cognitivas, como olhos muito separados, bochechas grandes, cardiopatia, deficiência intelectual e alta sociabilidade. Por mais que fisicamente a síndrome seja expressiva, o diagnóstico clínico pode ser dificultado, pois essas características podem não aparecer na infância. Sabendo disso, a pesquisadora Fernanda Ramos Barbosa de Oliveira realizou o diagnóstico molecular em 15 pacientes da Associação Goiana da Síndrome de Williams-Beuren (AGSW-GO). Desses, 13 apresentavam desordem genética e dois não.
A pesquisa “Caracterização genético/clínica de pacientes com suspeita da Síndrome de Williams-Beuren (SWB) no Centro-oeste brasileiro” foi realizada pela Fernanda Ramos, dentro do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGCB) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (ICB/UFG) e orientada por Lucilene Arilho Ribeiro Bicudo, professora do PPGCB do ICB/UFG e coorientada pelo Bruno Faulin Gamba, pesquisador com bolsa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (DCR – CNPq). O objetivo da pesquisa foi a realização do diagnóstico de certeza (citogenético) no grupo de 15 pacientes da AGSW-GO. “Havia a necessidade de confirmação de diagnóstico da SWB em vários pacientes em Goiás, que só poderia ser realizado com o teste molecular”, recorda Fernanda.
A Síndrome de Williams-Beuren ocorre pois acontece uma microdeleção, ou seja, uma perda de uma pequena parte do DNA, no cromossomo 7, durante o desenvolvimento do embrião, ocasionando a perda de cerca de 28 genes. Um desses genes é a elastina, que, segundo pesquisas bibliográficas feitas por Fernanda, é deletada em aproximadamente 99% dos pacientes com SWB. Por esse motivo, é usado para diagnósticos da síndrome. As principais características dos portadores são tecido conjuntivo anormal, cardiopatia, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, dificuldades na alimentação, hipotonia (fraqueza muscular), bochechas cheias, boca larga e íris estrelada. Além disso, também apresentam hiperatividade, loquacidade (são bons de oratória) e alta sociabilidade.
Métodos
Segundo a pesquisadora, os pacientes foram selecionados pela Associação Goiana da Síndrome de Williams-Beuren (AGSW-GO) e encaminhados previamente por uma médica geneticista que já havia dado o diagnóstico clínico. No projeto, Fernanda Ramos explica que existem dois métodos de diagnóstico: o clínico e o genético. Para o diagnóstico clínico, são utilizados três scores (pontuações dos sinais clínicos evidentes). Essa pontuação é utilizada como triagem para a Hibridização in situ por Fluorescência (FISH). Já o diagnóstico genético é feito por meio do FISH e pela Hibridização Genômica Comparativa (ArrayCGH).
A técnica citogenética FISH é a marcação molecular do gene da elastina no cromossomo 7, e é utilizada a fluorescência durante a fase de metáfase celular, que, de acordo com Fernanda, é a fase do ciclo celular onde os cromossomos se encontram mais visíveis. A marcação no gene da elastina é feita em vermelho através de sondas e, para controle, outro gene é marcado de azul no mesmo cromossomo. Após a realização do método é feita a análise para detectar a presença ou ausência do gene da elastina, sendo a ausência a confirmação da portabilidade da síndrome. “A técnica é considerada complexa e demora cerca de uma semana, pois é realizado o cultivo de células sanguíneas, para que ocorra o crescimento celular”, afirma a pesquisadora.
Caso a técnica FISH não detecte a deleção do gene da elastina, porém os sinais clínicos sejam muito expressivos, é utilizado o método ArrayCGH, que é capaz de identificar alterações extremamente pequenas. A técnica utiliza um DNA controle sem anomalias genéticas e adiciona-se o DNA do paciente com suspeita de SWB. Após a preparação é feita a comparação entre as regiões de todo o cromossomo, verificando regiões alteradas.
O estudo constatou 13 pacientes com a deleção do gene da elastina e dois sem a deleção. Fernanda afirmou que foi realizada a técnica ArrayCGH em um paciente com o diagnóstico negativo e com mais características clínicas, na Universidade de São Paulo (USP), mas o resultado obtido foi normal. Para o outro paciente com menos sinais clínicos, foi realizada a citogenética convencional por bandamento GTG, técnica similar ao método FISH, porém com menor especificidade, na UFG, também com resultado dentro da normalidade. Para a pesquisadora os resultados negativos foram surpreendentes, porém, ela não descarta a possibilidade de os dois pacientes serem portadores da SWB. “Isso não quer dizer que não apresentam a síndrome necessariamente. Podem ser casos de mutações pontuais ainda não pesquisadas”, afirmou.
Segunda Fernanda, a pesquisa foi essencial para dar o resultado de certeza para os pacientes e suas famílias, realizando uma melhoria da qualidade de vida e bem estar dos mesmos, uma vez que tornaram mais direcionadas as condutas médicas, bem como sociais e familiares.
Mais informações
A pesquisadora Fernanda Ramos recebeu bolsa CAPES (número do registro de bolsa: 1739566) durante os dois anos da pesquisa (2017-2019), que foi coorientada por Bruno Gamba: pesquisador CNPq DCR 04/2016 processo 20171026000053. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa (CEP: 2.177.521).
FONTE: Jornal UFG
*Janyelle da Mata, estagiária de Jornalismo supervisionada por Carolina Melo e orientada por Silvana Coleta