A dengue é uma das doenças virais mais preocupantes atualmente no Brasil devido à disparada de casos em 2024. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o país ultrapassou um milhão de casos somente em janeiro e fevereiro de 2024 – esse número representa mais da metade dos casos registrados durante todo o ano de 2023, o que levanta o alerta para a velocidade no aumento das ocorrências.
Um dos fatores que explica esse rápido avanço da doença são as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. Elas acentuam os efeitos naturais do El Niño, resultando em ondas de calor extremo acompanhadas de chuvas ocasionais, podendo criar condições que favorecem o ciclo reprodutivo do mosquito Aedes aegypti, agente transmissor da doença. No Brasil, há quatro sorotipos circulando ao mesmo tempo, ou seja, ao ser infectada com a dengue, a pessoa se torna imune apenas a um sorotipo específico, com possibilidade de contrair a doença por mais três vezes.
Como infectologista, acho fundamental destacar a importância da prevenção, tratamento e cuidados específicos, especialmente para grupos de maior vulnerabilidade, como as grávidas. As gestantes têm quatro vezes mais chances de morrer pela dengue e, infelizmente, ainda não há um imunizante seguro para elas. A infecção durante a gravidez pode aumentar o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o feto.
Os sintomas da dengue nas mulheres grávidas são semelhantes aos de outras pessoas: dor muscular, atrás dos olhos, de cabeça, manchas avermelhadas pelo corpo e febre alta são os mais comuns, mas podem evoluir para complicações como sangramentos, parto prematuro e até mesmo aborto espontâneo. Ao sinal de sintomas, é crucial procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível.
Outra informação importante é sobre os medicamentos que não devem ser tomados sem recomendação médica porque podem afetar a coagulação de sangue das pessoas com o vírus, o que pode levar ao aumento do risco de sangramentos e consequente agravamento da doença. São eles: AAS, aspirina (salicitatos) e derivados de ácido acetilsalicílico, prednisona e hidrocortisona (corticóides) e ibuprofeno e nimesulida (anti-inflamatórios não esteroidais). Pessoas que fazem o uso crônico de um desses remédios devem manter o uso e suspender apenas sob orientação médica.
Não há tratamento específico para a dengue. As medicações indicadas pelo profissional médico tratam apenas os sintomas, mas uma boa hidratação é parte essencial do tratamento, pois a doença causa desidratação no corpo de forma muito rápida.
A luta contra a dengue no Brasil requer um esforço conjunto e contínuo de toda a sociedade, órgãos públicos e privados, profissionais de saúde e a população. A prevenção permanece como a principal estratégia e as recomendações de evitar locais com maior incidência de mosquitos, eliminação de locais em que se acumula água parada, uso de repelentes aprovados pela Anvisa e sem contraindicação para mulheres grávidas, além de proteção mecânica do corpo com roupas com maior cobertura, devem ser seguidas.
Enquanto a vacinação não está disponível para toda a população, somente por meio de uma abordagem abrangente e coordenada poderemos controlar efetivamente essa doença e reduzir seu impacto na saúde pública.
*Por Josias Aragão, médico infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe)
Sobre o Iamspe
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São mais de duas mil opções de atendimento no Estado, incluindo hospitais, clínicas de fisioterapia, médicos e laboratórios de análises clínicas e de imagem, além de postos de atendimentos próprios no interior, os Ceamas, e o Hospital do Servidor Público Estadual, na Capital. O Iamspe é um órgão do Governo do Estado de São Paulo, vinculado à Secretaria de Gestão e Governo Digital.