Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
A capacidade humana de realizar multitarefas é frequentemente exaltada como uma habilidade essencial no mundo moderno, onde as demandas por atenção e eficiência são constantes. No entanto, à luz das evidências neurocientíficas, a capacidade real do cérebro de realizar múltiplas tarefas simultaneamente é muito mais limitada do que se supõe. Este artigo discute os impactos e limitações da multitarefa no cérebro humano, baseando-se nas recentes descobertas apresentadas por Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues e Ravi Kishore Tiboni Kaiut em seu estudo sobre o tema.
O cérebro humano, conforme evidenciado por estudos neurocientíficos, não é capaz de se concentrar efetivamente em duas tarefas cognitivamente exigentes ao mesmo tempo. Quando somos confrontados com a necessidade de realizar várias tarefas simultaneamente, o que realmente acontece é uma rápida alternância entre as atividades, e não uma execução simultânea de ambas. Esse processo de alternância, no entanto, sobrecarrega o cérebro, diminuindo a eficácia com que as tarefas são realizadas. As funções executivas, que incluem a capacidade de priorizar tarefas e gerenciar a atenção, desempenham um papel crucial nesse processo, mas têm limitações intrínsecas que não podem ser superadas apenas pela prática ou pelo treinamento (Rodrigues & Kaiut, 2023).
Estudos de neuroimagem corroboram essa limitação, mostrando que as regiões do cérebro responsáveis pelo processamento de linguagem, como as áreas de Broca e Wernicke, apresentam maior ativação quando o indivíduo tenta compreender duas fontes de informação simultaneamente. No entanto, essa ativação não se traduz em uma melhor compreensão ou em maior eficiência; pelo contrário, leva a uma maior lentidão nas respostas e a uma diminuição geral na qualidade da execução das tarefas (Rodrigues & Kaiut, 2023).
Além disso, a prática contínua de multitarefas pode ter efeitos negativos a longo prazo, resultando em um aumento da distração e uma redução na capacidade de foco mesmo em atividades isoladas. A sobrecarga do córtex pré-frontal, a área do cérebro responsável pelo planejamento e execução de tarefas complexas, pode levar a uma deterioração de sua eficiência, afetando a produtividade e a qualidade de vida dos indivíduos que dependem constantemente dessa habilidade (Rodrigues & Kaiut, 2023).
Diante dessas evidências, é essencial reconsiderar a valorização exagerada da multitarefa em ambientes de trabalho e estudo. Embora certas situações possam exigir a alternância rápida entre atividades, é importante reconhecer as limitações naturais do cérebro e ajustar as expectativas de produtividade de acordo com essas limitações. A priorização de tarefas e a realização sequencial de atividades, ao invés da tentativa de realizar várias tarefas simultaneamente, podem resultar em maior eficiência e menos erros, preservando a saúde cognitiva a longo prazo.
Referências:
Rodrigues, F. de A., & Kaiut, R. K. T. (2023). O cérebro em multitarefas. Ciencia Latina Revista Científica Multidisciplinar, 7(5), 2906-2916. https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v7i5.7929.
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