Pelo rastreamento de cinco marcadores simples – tamanho da cintura, pressão arterial, HDL, triglicerídeos, glicose e hemoglobina glicosilada (HbA1C) – nas consultas, os médicos podem identificar adultos de alto risco que precisam melhorar seu estilo de vida para prevenir a doença cardiovascular ou o diabetes tipo 2.
Esta é a principal mensagem de novas diretrizes clínicas – “Prevenção primária da doença vascular e do diabetes tipo 2 em pacientes com risco metabólico” – emitidas pela Endocrine Society e publicadas on-line em 31 de julho no periódico Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism.
“Os médicos não têm feito o suficiente para medir a circunferência da cintura, mas isso é fundamental para a identificar mais precocemente os pacientes com risco metabólico e prevenir mais casos de doença cardíaca e diabetes”, disse o diretor do comitê de redação Dr. James L. Rosenzweig, médico do Hebrew Rehabilitation Hospital, nos Estados Unidos, em um comunicado da Endocrine Society.
“Reforçamos a importância das modificações de estilo de vida, dos hábitos alimentares e comportamentais como sendo o tratamento de primeira linha”, destacou o Dr. James.
“No entanto, caso os objetivos não sejam alcançados somente com as alterações de estilo de vida, o tratamento com medicamentos é adequado.”
Reduzir o tempo de sedentarismo e perder 5% do peso
As novas diretrizes, copatrocinadas pela American Diabetes Association e pela European Society of Endocrinology, se destinam aos médicos do atendimento primário, aos endocrinologistas, aos geriatras e aos cardiologistas.
“Em pessoas com 40 a 75 anos de idade, no consultório”, diz o relatório, “sugerimos que os médicos verifiquem os cinco componentes do risco metabólico durante a consulta”.
Identificar “pelo menos três componentes alterados deve alertar especificamente o médico para o risco metabólico do paciente (aumento do risco de doença cardiovascular aterosclerótica e diabetes tipo 2)”, dizem as diretrizes.
Embora as evidências tenham sugerido que os pacientes entre a quarta e a metade da sétima décadas de vida sejam os que obteriam maior benefício, outros pacientes, especialmente os mais jovens, também podem se beneficiar da identificação precoce do risco de doença cardíaca e diabetes, modificando seus hábitos alimentares e de atividades físicas para diminuir o risco, acrescentam as orientações.
Os cinco fatores de risco são:
- Aumento da pressão arterial
- ≥ 130 mmHg sistólica e/ou diastólica ≥ 80 mmHg
- Aumento da circunferência abdominal
- Não asiáticos: ≥ 102 cm para os homens e ≥ 88 cm para as mulheres
- Asiáticos ≥ 90 cm para os homens ≥ 80 cm para as mulheres
- Níveis elevados de triglicerídeos em jejum
- ≥ 150 mg/dL
- HDL baixo
- < 40 mg/dL para os homens ou
- < 50 mg/dL para as mulheres
- Glicemia elevada
- HbA1C ≥ 5,7% a 6,4%, ou seja,
- Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL
Os pacientes com três ou mais fatores de risco devem ser avaliados regularmente, e aqueles com um ou dois fatores de risco devem ser avaliados a cada três anos.
Os médicos devem também rastrear colesterol, tabagismo e história familiar de doença cardiovascular.
E “devem conversar sobre a importância da adoção de um estilo de vida saudável com todos os pacientes que apresentarem risco metabólico”, afirmaram os autores.
Além de medir o peso e a altura e calcular o índice de massa corporal (IMC), os médicos devem medir a cintura do paciente.
Devem verificar a pressão arterial no consultório todo ano e, se estiver aumentada, devem repetir a aferição em outro dia ou orientar o paciente a aferir com um monitor de pressão arterial em casa.
“Para aqueles com risco metabólico, recomendamos a prescrição de atividade física diária, como caminhada rápida e redução no tempo de sedentarismo”, e os pacientes com sobrepeso devem ser estimulados a perder 5% do seu peso durante o próximo ano.
O tratamento com estatinas deve ser prescrito caso a caso, conforme necessário.
Diretrizes atualizam orientações de 2008
A versão anterior das orientações foi emitida em 2008; as de agora foram atualizadas com novos dados.
Por exemplo, as novas orientações:
- Se concentram nas medidas para identificar e reduzir o risco de doença cardiovascular aterosclerótica e diabetes tipo 2, em vez de definir a síndrome metabólica como uma entidade clínica
- Se concentram mais nos adultos entre 40 e 75 anos de idade
- Adotam a HbA1C como medida da glicemia
- Recomendam o rastreamento anual do diabetes para as pessoas com pré-diabetes
- Usam a American Heart Association/American College of Cardiology Pooled Cohort Equation para calcular o risco de doença aterosclerótica em 10 anos
- Definem o risco de doença aterosclerótica em 10 anos como moderado caso esteja entre 5% e 7,5% (em vez de 10%) e alto se > 7,5%
- Estabelecem como meta uma pressão arterial de 130 × 80 mmHg (em vez de 140 x 90 mmHg) de acordo com os dados dos estudos Heart Outcomes Prevention Evaluation-3 (HOPE 3), the Diabetes Reduction Assessment with Ramipril and Rosiglitazone Medication (DREAM), e Antihypertensive and Lipid-Lowering treatment to prevent Heart Attack(ALLHAT)
- Não recomendam mais o ácido acetilsalicílico para esta população, dada a ausência de evidências de benefício e o risco de sangramento
- Atualizam as recomendações sobre a alimentação e a prática de exercícios de acordo com os dados mais recentes
“Esta revisão traz um novo olhar sobre o risco metabólico e apresenta recomendações que refletem os dados mais recentes provenientes dos estudos sobre pressão arterial e lipídios“, ressalta o documento da Endocrine Society. As diretrizes também “priorizam as intervenções de modificação de estilo de vida e comportamentais e discutem as novas opções terapêuticas”.
J Clin Endocrinol Metab. Publicado on-line em 31 de julho de 2019. Texto completo