Um estudo multicêntrico brasileiro, publicado na renomada revista Multiple Sclerosis and Related Disorders em novembro de 2024, revelou novos dados sobre a frequência de anticorpos anti-MOG em pacientes com suspeita de encefalite autoimune (EAI). O estudo incluiu 481 participantes, sendo 328 adultos e 153 crianças, atendidos em centros especializados em todo o Brasil.
A pesquisa, coordenada pela neurologista Lívia de Almeida Dutra e contou com colaboração do Dr. Luís Eduardo Coelho Andrade, assessor médico da área de Imunologia do Grupo Fleury, e Alessandra Dellavance, pesquisadora sênior Do Grupo Fleury.
Os resultados mostraram que os anticorpos anti-MOG, relacionados à encefalomielite associada ao anticorpo anti-MOG (MOGAD), foram identificados em 1,2% dos adultos e 6,5% das crianças avaliadas. O estudo revelou diferenças importantes entre pacientes com MOGAD e aqueles com EAI clássica, incluindo menor frequência de alterações comportamentais e distúrbios de movimento em casos de MOGAD. Além disso, destacou que sintomas desmielinizantes, como neurite óptica e mielite, são mais comuns na MOGAD, mesmo em pacientes com exames de ressonância magnética normais.
O estudo reforça a necessidade de incorporar testes para anticorpos anti-MOG nos protocolos clínicos de avaliação de encefalites autoimunes, especialmente em crianças. “Esses dados salientam a importância da pesquisa do anticorpo anti-MOG, que é crucial para diferenciar a MOGAD de outras encefalites autoimunes, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos direcionados”, comenta o Dr. Luís Eduardo.
O artigo completo está disponível no site da revista Multiple Sclerosis and Related Disorders (https://www.msard-journal.com/article/S2211-0348(24)00747-8/abstract).
Saiba mais
A encefalite é uma inflamação do cérebro que pode ter múltiplas causas, incluindo infecções virais, distúrbios imunológicos, anormalidades metabólicas ou reações medicamentosas. Nos últimos anos, tem se tornado evidente que o componente imunológico é responsável por um contingente expressivo de casos das encefalites, configurando-se a encefalite autoimune (EAI). Os sintomas da EAI podem variar de leves a graves, incluindo febre, dor de cabeça, confusão, alterações comportamentais, alucinações, convulsões, distúrbios da coordenação motora, sonolência, torpor e até perda de consciência em casos mais graves.
A EAI, por sua vez, ocorre quando o sistema imunológico reconhece e reage contra algumas moléculas da membrana dos neurônios cerebrais, causando inflamação e interferindo na comunicação entre neurônios, o que prejudica a função cerebral. Em vez de lutar contra agentes invasores, como vírus ou bactérias, nesses casos o sistema imunológico erroneamente identifica componentes normais do cérebro como ameaças. Isso pode acontecer devido à presença de anticorpos anormais, como os anticorpos antineuronais ou os anticorpos anti-MOG, que foram estudados no artigo mencionado.
A EAI pode estar relacionada a outras doenças autoimunes, cânceres (síndromes paraneoplásicas) ou surgir sem causa conhecida (idiopática).
Os sintomas podem incluir alterações cognitivas, comportamentais, crises convulsivas, movimentos involuntários. Nos casos de MOGAD, pode haver sinais de desmielinização na medula espinhal (mielite longitudinal) ou no nervo óptico (neurite óptica). Estas são formas potencialmente muito graves, que podem levar a perda de movimentação de pernas e braços (tetraparesia) e cegueira, respectivamente
O diagnóstico das encefalites inclui exames de imagem (ressonância magnética), análise de líquor (punção lombar) e testes de anticorpos específicos para diversos vírus e autoanticorpos no sangue e líquor. No caso da EAI e MOGAD, o tratamento geralmente envolve imunoterapia, como corticosteroides, imunoglobulina intravenosa, plasmaférese ou medicamentos imunossupressores.
“Assim como na encefalite infecciosa, o diagnóstico precoce da EAI e MOGAD é importante para instituição de tratamento imediato visando à recuperação sem sequelas graves e redução do risco de morte”, explica o Dr. Luís Eduardo Coelho de Andrade.




