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Um estudo da Universidade de Queensland, na Austrália, publicado na revista Cell Reports Medicine, mostrou que a endometriose e algumas patologias gastrointestinais possuem fatores de risco genéticos em comum, o que explicaria por que muitas mulheres apresentam as duas condições. Para a pesquisa, foram analisados dados de mais de 180 mil mulheres cadastradas no UK Biobank – banco de dados biomédicos de larga escala do Reino Unido – e foi constatado que as pacientes com endometriose têm duas vezes mais chances de ter um diagnóstico de síndrome do intestino irritável (SII) em comparação com mulheres sem a doença e 1,4 vez mais probabilidade de ter refluxo gastroesofágico.
A endometriose é uma doença grave que acomete uma em cada dez brasileiras, segundo o Ministério da Saúde, e é causada pela presença e o crescimento do tecido endometrial fora da cavidade uterina, o que pode afetar não somente o órgão reprodutor, mas outros próximos, como o intestino e a bexiga. No Brasil, a doença atinge cerca de 8 milhões de mulheres.
Segundo Thiago Borges, cirurgião especializado em endometriose do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), da Dasa, é comum as pacientes diagnosticadas com endometriose também apresentarem sintomas associados a distúrbios gastrointestinais, como dor abdominal, inchaço, constipação, náuseas, vômitos e evacuações dolorosas, o que pode confundir a detecção da patologia.
“Alguns sintomas comuns são inespecíficos e podem acabar confundindo a paciente, dificultando o diagnóstico da endometriose e atrasando o tratamento. E esse tempo é crucial para se evitar um agravamento do quadro”, afirma Thiago Borges.
Existem diversas teorias sobre as causas da endometriose, mas o estudo australiano demonstrou um componente hereditário para a doença, além de a análise genética comprovar também a coocorrência de endometriose e distúrbios gastrointestinais.
Para Thiago Borges, conhecer os fatores de risco envolvidos em ambas as patologias e entender como eles se relacionam dá a oportunidade de melhorar a qualidade de vida das mulheres.
“Hoje acham que o diagnóstico é de fácil execução, porém, o intervalo entre o início dos sintomas e a confirmação da enfermidade pode chegar a dez anos. Como a endometriose e as doenças gastrointestinais podem ter diversos indícios que, muitas vezes, são confundidos ou nem levados em consideração pelos médicos, a mulher pode achar que é normal sentir dores abdominais. E à medida que conhecemos mais essa relação significativa, conseguimos entender como se desenvolvem e como melhorar o tratamento e o diagnóstico do distúrbio”, finaliza o cirurgião.