O vírus da Influenza aviária A (H5N1) provoca uma forma de pandemia, limitada ao mundo animal, nos seis continentes. Milhares de aves, especialmente as migratórias, já foram vítimas da gripe aviária. Outros milhares de mamíferos morreram em consequência do patógeno. Até o momento, os casos em humanos são bastante limitados e raros.
ntre as aves, o vírus da gripe aviária de alta patogenicidade já foi detectado em mais de 480 espécies, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No caso dos mamíferos, já são 48 espécies, conforme aponta estudo publicado na revista Emerging Infectious Diseases.
“A adaptação do H5N1 aos mamíferos pode representar um risco maior do que apenas para mamíferos selvagens”, alertam os pesquisadores do Instituto de Biodiversidade e Pesquisa Ambiental (Argentina), responsáveis pela recente contagem.
Afinal, os casos já começam a crescer entre o gado leiteiro, nos EUA, neste ano. Mais de 170 rebanhos foram infectados, atingindo também alguns trabalhadores locais (4).
“Pandemia” da gripe aviária em animais
Não há uma contagem oficial de animais mortos na natureza em consequência da gripe aviária devido à dificuldade em somar os milhares de casos detectados nos últimos anos.
Por isso, “a distribuição global deste vírus é subestimada em todos os lugares, assim como a amplitude dos ecossistemas que estão sendo impactados”, afirma Chris Walzer, diretor-executivo da organização Wildlife Conservation Society, para o portal Mongabay.
No entanto, alguns episódios ajudam a dimensionar a ameaça à saúde animal (e humana). Nas Ilhas Malvinas, próximas à Antártida, o vírus H5N1 foi associado à morte de 10 mil aves da espécie albatroz-de-sobrancelha e também devastou uma colônia de pinguins-gentoo. Na Península Valdés, na Argentina, levou à morte de 17 mil filhotes de elefante-marinho-do-sul. No Ártico, o patógeno já foi associado ao óbito de um urso-polar.
Efeitos da gripe aviária em animais
Quando as aves adoecem, elas costumam desenvolver um quadro de infecção generalizada. Assim, espirram, tossem, ficam letárgicos e ofegam. Como o vírus H5N1 pode chegar ao cérebro, problemas de desorientação são comuns, incluindo andar em círculos ou tremedeiras.
Em mamíferos, pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) descobriram que os sintomas tendem a ser menos intensos. No entanto, o resultado de autópsias revela quadros de pneumonia e problemas no coração e no fígado, por exemplo. Em relação ao cérebro, a parte mais afetada é o lobo frontal, associado ao movimento e à cognição, segundo estudo publicado na Emerging Infectious Diseases.
Cresce risco para os humanos
Conforme o vírus da gripe aviária se dissemina entre os animais, o risco de causar um enorme problema aos humanos aumenta — a Organização Mundial da Saúde (OMS) já inclui o patógeno em uma lista de possíveis causadores de uma nova pandemia.
Recentemente, pesquisadores descobriram que o leite cru de uma vaca contaminada pela gripe aviária pode transmitir o vírus. Este é um dado recente e aponta para o risco potencial daqueles que trabalham diretamente com animais de criação.
Até agora, não há evidências de que humanos contaminados possam transmitir a doença entre si. O vírus da gripe aviária também não pode ser transmitido pelo ar, após um espirro, o que diminui o risco de disseminação. Entretanto, a doença já é uma realidade.
Para controlar a ameaça que se espalha entre aves e mamíferos, é preciso investir na vigilância genômica do H5N1 e no desenvolvimento de novas tecnologias de prevenção. Este é o caso de uma vacina da Moderna, em desenvolvimento, que usa a tecnologia do mRNA (RNA mensageiro), a mesma usada na pandemia da covid-19.
Fonte: Emerging Infectious Diseases (1) e (2), FAO, Mongabay
Imagem – iLexx/envato