Tenho tratado com bastante frequência sobre o mercado das análises clínicas, sob o ponto de vista dos pequenos e médios laboratórios. Este foco de atenção procede, na medida em que é no mercado a origem de toda a receita destas organizações, simples assim. Ainda, lato sensu, também é no mercado a fonte dos insumos, o “combustível” para a operação do negócio. Ora, a relação entre receita e insumos é que define a produtividade empresarial, por consequência, a competitividade e o risco de insolvência. Isto justifica a minha atenção sobre este importante tema. Dito isto, farei uma breve exegese apressada sobre gestão de riscos em laboratórios clínicos, com o objetivo de uma simples avaliação prévia do custo de oportunidade dos laboratórios de menor porte. Nada de uma quantificação matemática profunda, tão somente reflexões que devem instigar quem já está neste ramo de negócios e, principalmente, quem pretende se aventurar por estas veredas. Este tema será abordado em três artigos distintos, contudo, relacionados entre si.
Um laboratório clínico é, em princípio, uma alternativa de investimento que deve ser comparada a outros investimentos de mercado, como por exemplo, carteira de ações, renda fixa, carteira de imóveis, dentre outras. Será bom negócio se o retorno esperado for maior que as alternativas propostas. Uma vez tomada à decisão de investir neste empreendimento e, para comparar resultados, basta confrontar diretamente os lucros obtidos. Entretanto, avaliar os riscos associados a cada um dos investimentos possíveis é uma tarefa bastante complexa.
Os investimentos de mercado (carteira de ativos) têm seus riscos avaliados em modelos baseados no conceito de carteiras eficientes que maximizam os retornos esperados para uma dada variância, tais como: Modelo de Precificação de Ativos (CAPM), Modelo de Precificação por Arbitragem (APT), Modelos Multifatoriais e Modelos Proxy. As formas para avaliar e apresentar os riscos presentes em um investimento são:
1) Valor ajustado ao risco (VAR): os valores ajustados para o risco tentam incorporar o efeito do risco em nossas estimativas para o valor de um ativo e utilizam, por exemplo, a abordagem de fluxos de caixa descontados, estimando uma taxa de desconto ajustada para o risco;
2) Abordagens probabilísticas: análise de cenários, árvores de decisão e simulação (Monte Carlo). Em vez de calcular um valor esperado que busque refletir diferentes desfechos possíveis, esses modelos nos permitem conhecer informações sobre qual o valor que o ativo terá para cada um dos desfechos possíveis ou, no mínimo, para alguns desfechos. Os laboratórios clínicos não dispunham até agora de instrumentos para avaliar o risco de insolvência, ficando limitados aos tradicionais da contabilidade geral e matriz de riscos, adotando ações preventivas basicamente com seguradoras.
O modelo inventado por nós, o “Sistema de Gestão Custo Certo (SGCC)” veio preencher esta lacuna e proporcionar muitas ações preventivas e corretivas no universo da gerência destas organizações. Foram construídos indicadores de desempenho que definem as variáveis probabilísticas presentes na realidade destas empresas tais como volume de mercado, porte, “qualidade de mercado” representada pelo preço médio de venda pago pelos clientes, comportamento dos custos fixos e variáveis, eficiência do controle exercido, mediante índices de produtividade, dentre outras variáveis.
As distribuições de frequência foram feitas a partir de séries históricas oriundas das empresas em que o modelo foi implantado. Ainda, são identificadas correlações de qualidade entre as variáveis pela presença de elementos comuns nas formulações, estimando causa e efeito. A escala para a medição do risco de insolvência foi elaborada com base estatística do banco de dados oriundo das organizações estudadas, observando o comportamento posterior à implantação do modelo, reproduzindo, portanto, a realidade decorrente da experiência vivida e refletida.
Aswath Damodaran, no seu livro “Gestão Estratégica do Risco”, afirma que “a experiência torna mais fácil o processo de estimativas e diminui os erros de estimativa, em comparação com a avaliação de um projeto único”. Não há dúvida de que toda a formulação feita a partir de uma base de dados reais já tem sua validação fortalecida.
Por definição de risco entende-se que ele é inerente à vida; risco e sobrevivência andam juntos desde o homem das cavernas, uma vez que quem se arriscava, conseguia alimentação. A própria evolução da civilização somente foi possível porque pessoas se arriscaram para testar as invenções: ferramentas, automóveis, aviões, foguetes, vacinas, remédios etc. Alguém se dispôs a correr riscos e desafiar o estado das coisas.
Muitos dos riscos que corremos não são voluntários, pois mesmo que estejamos no lugar mais seguro do planeta, corremos o risco de um infarto do miocárdio, AVC e outros eventos desta natureza. Mas, além dos riscos involuntários, muitas vezes, tomamos a decisão de correr riscos. Dirigir em alta velocidade, e muitas vezes alcoolizados, praticar esportes radicais, apostar em jogos de azar. Podemos correr riscos investindo em projetos de novas empresas no ramo da tecnologia (start up), sem qualquer risco físico, ao passo que quem pratica esportes radicais fica sujeito a grandes riscos físicos sem nenhuma recompensa econômica, ao contrário, pagando por isto. Na época das grandes navegações, os pobres arriscavam a própria vida, pois eram os tripulantes das embarcações; já os ricos comerciantes arriscavam o capital investindo nas frotas e mercadorias, porém, ambos visando ao esperado retorno.
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