Autoria: Andreia Broisler Pavan
Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que de 10 a 15% dos pacientes com COVID-19 irão necessitar de internação em Unidades de Terapia Intensiva1,2. A gasometria arterial faz parte do perfil de exames solicitados para pacientes internados nestas unidades e, neste momento de pandemia e pelas características da doença, tem sido um exame fundamental para o monitoramento de pacientes com Covid-19, pois o sangue arterial é rico em oxigênio e reflete melhor a performance pulmonar.
As análises de gasometria envolvem muitas etapas pré-analíticas comuns a todos os testes laboratoriais, mas algumas são únicas e é essencial conhecer os fatores que podem influenciar seus valores e sua interpretação.
Como exemplos de fatores pré-analíticos, podemos citar2,3,4,5,6:
- Tipo e diluição de heparina:
- Gasometria mista;
- Hemólise;
- Amostra diluída quando coletada de cateter arterial;
- Presença de bolha de ar na amostra;
- Homogeneização incorreta;
- Falta de informações ao analista quanto ao modo de respiração do paciente (controlada ou espontânea) e FiO2 no momento da coleta;
- Tempo prolongado entra coleta e análise;
- Transporte da amostra.
Além de conhecermos os fatores pré-analíticos que interferem no resultado da gasometria, é preciso também entendermos quais os impactos que estes fatores causam ao paciente e à instituição.
Pensando no paciente, o impacto está relacionado a não garantia da sua integridade, um vez que resultados incorretos geram recoleta (mais sangue a ser retirado) e mudança na conduta terapêutica por parte médica. E em relação à instituição, a recoleta exige mais recursos para a repetição dos exames (custos dos insumos da coleta e para reanálise, remissão de laudos e retrabalho dos profissionais de coleta). Em ambas situações, temos um outro impacto importante: a disponibilidade de leitos. Quanto mais tempo se mantém um mesmo paciente no leito, menor é a oferta a outros enfermos. E no momento atual, em que diariamente vemos noticiários de falta de leitos hospitalares, é necessário voltar a atenção para este problema.
E o que podemos fazer para reduzir os impactos pré-analíticos neste momento?
A implantação de boas práticas laboratoriais, como a padronização dos procedimentos envolvidos, o fornecimentos de materiais de qualidade, a educação continuada dos profissionais atuantes e planos de ações corretivas e preventivas contribuem para identificar, reduzir ou mesmo eliminar as fontes de erros, garantindo redução nos custos, ganhos na eficiência do processo e garantindo um resultado confiável e que seja compatível à clínica do paciente6.
Referências:
- coronavirus.saude.gov.br
- http://amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/marco/20/1_Orientacoes_sobre_o_manuseio_do_paciente_com_pneumonia_e_insuficiencia_respiratoria_devido_a_infeccao_pelo_Coronavirus_ai.pdf
- Dassie, K. K. – A fase pré-analítica na análise gasométrica, 2017.
- Vissier, L. – Fatores pré-analíticos que afetam as determinações de pH e gases sanguíneos. 2012.
- https://apija.com.br/informativos/artigo-cuidados-basicos-para-evitar-falha-em-gasometria
- Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial – SBPC/ML – Coleta e Preparo da Amostra Biológica, 2014.