Rossana Priscilla de Souza Figueira, Mariana Oliveira Silva, Fabiola de Oliveira Paes Leme
Laboratório de Patologia Clínica HV-EV-UFMG
Os reticulócitos são células eritróides imaturas que contêm retículos com cadeias de RNA, mitocôndrias, ribossomos, centríolos e restos do complexo de Golgi e, apesar da diminuição da quantidade de organelas citoplasmáticas, os reticulócitos podem ser mais metabolicamente ativos do que os eritrócitos maduros e, sintetizar até 20% da concentração final de hemoglobina (COWGILL et al., 2003). A presença das organelas citoplasmáticas, especialmente os resquícios de RNA podem ser identificados através de colorações especiais da classe dos supravitais, como o novo azul de metileno (NAM) ou o azul cresil brilhante (ACB) (STOCKHAM e SCOTT, 2008).
Na Medicina Veterinária observamos dois tipos de reticulócitos: o agregado e o pontilhado (FELDMAN & SINK, 2006). O reticulócito agregado é uma célula eritróide mais imatura, maior e com coleções grosseiramente agrupadas de retículo (COWGILL et al., 2003). Na maior parte das espécies domésticas este é o único tipo de reticulócito encontrado. Os gatos, no entanto, apresentam mais de um tipo de reticulócito (THRALL, et al, 2012), além do agregado, semelhante a outras espécies, possui também o pontilhado (figura 1). O reticulócito pontilhado é menor, mais maduro e quando corado apresenta dois a seis pequenos grânulos de retículos esparsos (VALLE et al., 2019; COWGILL et al., 2003). É a fase seguinte da maturação do reticulócito agregado (STOCKHAM e SCOTT, 2008).
Figura 1: Reticulócitos pontilhados e agregado em amostras de um gato doméstico com volume globular de 21%. Azul cresil brilhante, objetiva óptica de imersão (100x).
A contagem de reticulócitos é considerada o padrão ouro na avaliação da resposta medular do animal à anemia (BARGER, 2003), utilizada para classificar as anemias em regenerativa (reticulocitose) e não regenerativa (reticulocitopenia ou contagens basais em anemias intensas). Além de auxiliar na classificação da anemia, a contagem de reticulócitos também é utilizada para avaliar a integridade da medula óssea e para monitorar o efeito da terapia instituída (COWGILL et al., 2003). A reticulocitose – aumento do número de reticulócitos circulantes – ocorre em animais anêmicos, com medula óssea funcional e responsiva, como nos casos de perda de sangue, hemólise ou em pacientes que estejam respondendo a terapia. Entretanto, animais anêmicos, com distúrbios medulares, apresentam eritropoiese deprimida ou diminuição da concentração ou atividade de eritropoietina (EPO) e, dessa forma, observa-se contagem de reticulócitos normal ou diminuída (PEREIRA et al., 2008).
Para executar a técnica corretamente o sangue não pode estar hemolisado, deve-se coletar a amostra em EDTA e a contagem ser feita em até 6h (COWGILL et al., 2003). Volumes iguais de sangue devem ser adicionados ao NAM, misturados e mantidos a temperatura ambiente por, pelo menos 15 minutos (STOCKHAM e SCOTT, 2008), ou submetidos a 37º por 20 minutos (DACIE et al., 2011).
Registra-se número de reticulócitos observados a cada 1.000 eritrócitos maduros. Para gatos, alguns laboratórios contam apenas reticulócitos agregados, enquanto outros contam agregados e pontilhados e registram ambos (STOCKHAM e SCOTT, 2008). O número de reticulócitos observados a cada 1.000 eritrócitos resulta na contagem percentual (RP). Alguns autores acreditam que a porcentagem de reticulócitos corrigida (PRC) seja mais adequada para a interpretação da resposta medular (STOCKHAM e SCOTT, 2008). A PRC é obtida através da multiplicação da PR pela razão entre o volume globular (VG) do paciente e do VG médio da espécie (45% para cães e 37% para gatos) (D’AVILA, 2011). O intervalo de referência, indicativo de regeneração, para a PR e para a PRC deve ser o mesmo: superior à 1% para cães e 0,4% para gatos.
A concentração de reticulócitos (CR), também chamada de contagem absoluta de reticulócitos é expressa pelo número de reticulócitos por µL de sangue, obtido pela porcentagem de reticulócitos multiplicada pelo número de eritrócitos do paciente e, é considerada por muitos autores, como parâmetro preferido para a interpretação (COWGILL et al., 2003). Valores acima de 60.000 reticulócitos agregados/μL de sangue em cães e acima de 15.000 reticulócitos agregados/μL de sangue em gatos e 200.000 reticulócitos pontilhados/μL de sangue em gatos indicam uma reticulocitose.
Por fim, o índice de produção de reticulócitos (IPR) possui um cálculo que envolve a estimativa do tempo de efeito da eritropoietina sobre a medula óssea, até a liberação de reticulócitos, bem como o tempo de maturação dos reticulócitos, que está correlacionada com a gravidade da anemia (D’AVILA, 2011).
Referências
BARGER, A. M., The Complete Blood Cell Count: A Powerful Diagnostic Tool. Vet Clin Small Anim, v. 33, p. 1207 – 1222, 2003.
COWGILL, E. S.; NEEL, J. A.; GRINDEM C. B., Clinical Application of Reticulocyte Counts in Dogs and Cats. Vet Clin Small Anim, v. 33, p. 1223 – 1244, 2003.
D´AVILA, A. E. R. Parâmetros hematológicos e classificações de anemia em uma população de cães atendidos no LACVET – UFRGS. 2011. Monografia (Residência Médica em Patologia Clínica Veterinária) – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
DACIE, J. V. et al. Pratical Hematology. 11. ed. [S. l.]: Elsevier, 2011. 650 p. ISBN 9780702034084.
FELDMAN, B.F. & SINK, C.A. Eritrócitos. In:____ Urinálise e Hematologia. São Paulo: Roca, 2006. p.75 – 96.
PEREIRA, P.M.; SEKI, M.C.; PALMA, P.V.B., Contagem de Reticulócitos de Cães Saudáveis ou Anêmicos pela Citometria de Fluxo, Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 59, n. 1, p. 66-70, 2008.
STOCKHAM, S. L.; SCOTT, M. A. Fundamentals of veterinary clinical pathology. 2. ed. Ames, Iowa: Blackwell Publishing, 908p, 2008.
THRALL, M A.; BAKER D.C.; CAMPBELL T.W.; et al. Veterinary Hematology and Clinical Chemistry. 2 ed, Wiley-Blackwell, 762p, 2012.
VALLE, S.F. et al. Correlações entre as contagens de reticulócitos manual e automática em amostras de felinos anêmicos. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., [s. l.], v. 71, n. 2, p. 577-583, 2019.
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