Ainda que sejam vistos como alternativas mais saudáveis, os cigarros eletrônicos podem causar alterações no colesterol e disfunções arteriais, de acordo com novos estudos
O uso de cigarros eletrônicos afeta seriamente a saúde do coração — algo preocupante, já que há hoje uma alta prevalência do uso de cigarros desse tipo, além da percepção de que eles são uma alternativa mais saudável em relação aos cigarros tradicionais. É essa a conclusão de duas novas pesquisas, que serão apresentada no American Heart Association’s Scientific Sessions 2019 (Sessões Científicas da Associação Americana do Coração), encontro que ocorrerá entre 16 e 18 de novembro na Filadélfia, EUA. O evento anual apresenta um intercâmbio global dos últimos avanços da ciência cardiovascular entre pesquisadores e médicos.
Duas equipes de pesquisadores, que conduziram dois estudos separados, relatam que o uso de cigarros eletrônicos afeta negativamente fatores de risco de doenças cardíacas — como colesterol, triglicerídeos e glicose, além de diminuir o fluxo sanguíneo no coração — de forma semelhante ao que ocorre com pessoas que fumam cigarros tradicionais.
“Não há dados que comprovem a segurança, a longo prazo, dos cigarros eletrônicos. No entanto, existem décadas de dados que mostram a segurança de outras terapias de reposição de nicotina”, diz Rose Marie Robertson, vice-diretora científica da Associação Americana do Coração.
A Associação recomenda que as pessoas que desejam parar de fumar recorram aos meios auxiliares aprovados pela agência reguladora americana FDA, comprovadamente seguros e eficazes. Se alguém optar por usar cigarros eletrônicos enquanto tenta parar de fumar outros produtos de tabaco, o ideal é que também planeje a interrupção do uso desses cigarros na sequência, devido à falta de informações sobre sua segurança de longo prazo e ao crescente conjunto de dados que mostra os efeitos fisiológicos dos componentes desses dispositivos e das combinações químicas usadas neles, diz Robertson.
Alteração no colesterol
Em um dos estudos, pesquisadores compararam os níveis de colesterol, triglicerídeos e glicose em adultos não fumantes saudáveis, fumantes de cigarro eletrônico (e-cig), fumantes tradicionais de cigarro (t-cig) e fumantes duplos, que usam os dois tipos.
Os pesquisadores avaliaram adultos saudáveis (idades de 21 a 45) sem doença cardiovascular existente e sem tomar medicações diárias como parte do Estudo de Lesões Cardiovasculares devido ao Uso do Tabaco (CITU). Os 476 participantes do estudo incluíram 94 não fumantes; 45 fumantes de cigarro eletrônico; 285 fumantes de cigarro tradicional; e 52 fumantes de ambos. A análise foi ajustada por idade, raça, sexo e para cada uma dessas quatro classificações quanto ao uso do cigarro.
O estudo descobriu que, entre os usuários de cigarro eletrônico, o colesterol total foi menor e o colesterol ruim (LDL) foi maior em comparação com os não fumantes. Além disso, o colesterol bom (HDL) foi menor nos fumantes duplos.
“Embora muitos profissionais de saúde e pacientes possam pensar que o uso de cigarros eletrônicos para substituir o cigarro tradicional faça sentido, nosso estudo mostra que os cigarros eletrônicos também estão relacionados a diferenças nos níveis de colesterol. A melhor opção é usar métodos aprovados pela FDA para ajudar na cessação do tabagismo, juntamente com aconselhamento comportamental “, diz a autora do estudo, Sana Majid, pós-doutora em biologia vascular na Faculdade de Medicina da Universidade de Boston.
Disfunção arterial
O uso de cigarros eletrônicos está associado à disfunção vascular, e o efeito pode ser ainda pior do que o de cigarros tradicionais, de acordo com outro estudo.
Os pesquisadores analisaram o fluxo sanguíneo cardíaco, uma medida da função vascular coronariana, de 19 jovens fumantes adultos, com idades entre 24 e 32 anos, imediatamente antes e depois de fumar cigarros eletrônicos ou tradicionais. Eles examinaram a função vascular coronariana por meio de um ecocardiograma do miocárdio com contraste, enquanto os participantes estavam em repouso e também após realizar um exercício de força manual para simular estresse fisiológico.
“Nos fumantes que usam o cigarro tradicional, o fluxo sanguíneo aumentou modestamente após o uso, e diminuiu com o estresse subsequente. No entanto, em fumantes que usam cigarros eletrônicos, o fluxo sanguíneo diminuiu após a inalação em repouso e após o teste de estresse”, diz o autor do estudo Florian Rader, diretor médico do Laboratório de Fisiologia Humana do Centro Médico Cedars-Sinais, em Los Angeles. “Esses resultados indicam que o uso do cigarro eletrônico está associado à disfunção vascular coronária persistente em repouso, mesmo na ausência de estresse fisiológico”.
“Ficamos surpresos com a observação do fluxo sanguíneo do coração sendo reduzido em repouso, mesmo na ausência de estresse, após o uso de cigarro eletrônico”, acrescenta a co-autora do estudo, Susan Cheng, diretora de Pesquisa em Saúde Pública, também no Centro Médico Cedars-Sinais. “Profissionais da saúde que aconselham pacientes sobre o uso de produtos de nicotina vão querer considerar a possibilidade de que os cigarros eletrônicos possam conferir tanto e potencialmente ainda mais dano aos usuários e, especialmente, aos pacientes em risco de doença vascular”.
Com informações de Sciam e Associação Americana do Coração.