“Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada” – Jesus (LUCAS, 10:42.). Uma excelente explicação desta citação do Evangelho, é feita por Emmanuel, guia espiritual do médium Francisco Cândido Xavier, no livro Fonte viva. Dentre outras coisas ele cita textualmente: “Não te esqueças da “boa parte” que reside em todas as criaturas e em todas as coisas. O fogo destrói, mas transporta consigo o elemento purificador. A pedra é contundente, mas consolida a segurança… A enxurrada é imundície, entretanto, costuma carrear o adubo indispensável à sementeira vitoriosa… A apreciação unilateral é sempre ruinosa. A imperfeição completa, tanto quanto a perfeição integral, não existem no plano que evoluímos. O criminoso, acusado por toda a gente, amanhã pode ser o enfermeiro que te estende o copo d’água… A tempestade da hora em que vivemos é, muitas vezes, a fonte de bem-estar das horas que vamos viver. Busquemos o lado melhor das situações, dos acontecimentos e das pessoas…”. A mensagem do Mestre não deixa dúvidas: devemos ver sempre o copo meio cheio! Entretanto, a humanidade, de forma geral, é e anda pessimista. Onde também existem oportunidades, veem somente ameaças. Isto acontece sistematicamente, em todos os campos da existência humana, mas, está agora exacerbado em função da pandemia da COVID 19. O que me chama a atenção é que no universo das análises clínicas, na minha opinião e já pedindo desculpas pela generalização, que normalmente é burra, este fenômeno é superlativado. Senão, vejamos. Tenho debatido este assunto em diversos grupos profissionais e existe um consenso da dimensão das ameaças que pairam sobre os laboratórios clínicos onde já estaríamos no início de uma fase de extinção da categoria, estimulada por pressões com cenários e variadas origens:
- Do governo (MS; ANVISA – CP 911 e 912);
- Concorrências de novos entrantes no mercado, farmácias, clínicas populares e correlatos;
- Massificação dos Testes Laboratoriais Portáteis (TLP), também conhecidos como “Testes rápidos”;
- Novos modelos de negócios (por exemplo, o Hilab, a telemedicina etc.);
- Crescente avanços tecnológicos em dispositivos, equipamentos e serviços de monitoramento residencial. Foco em telemetria, dispositivos, artefatos, sensores e outros equipamentos acoplados aos smartphones e voltados a personalização dos serviços de cuidado pessoal;
- Interpolaridade crescente entre os smartphones e as tecnologias vestíveis, indústria 4.0 (fábricas inteligentes), internet das coisas, sistemas ciber-físicos, computação em nuvem, big data;
- As relações entre os diversos atores do “cluster da saúde” serão realizadas de forma cada vez mais remotas;
- A crescente conscientização da saúde pessoal deverá modificar o perfil de sociedade, com novas exigências e orientações dogmáticas em saúde;
- As soluções tecnológicas irão exigir grande capacidade para lidar com enorme volume de dados aliada à velocidade de processamento, na área da saúde. Isto deverá proporcionar transformar rapidamente registros clínicos em informação para a tomada de decisão em favor dos pacientes. Sistemas de Apoio à Decisão – SAD;
- Os laboratórios clínicos deverão sair da sede física para chegar junto aos pacientes, médicos, fornecedores e pagadores dos serviços (convênios…), através da conectividade eletrônica;
- Deverá haver necessidade crescente de reduzir o prazo de entrega dos exames (menor tempo de resposta);
- Necessidade crescente do diagnóstico precoce de doenças;
- Deverá haver crescimento de subespecializações dentro das especialidades clínicas;
- Novos “entrantes” na área de auxílio ao diagnóstico médico: equipamentos que utilizam pequenos volumes de amostra (uma gota…) para realizar centenas de exames; laboratórios portáteis, exames remotos e junto aos pacientes;
- União entre os serviços de diagnósticos por imagem com os laboratórios clínicos, junções, fusões, aquisições buscando soluções ecologicamente corretas;
- Deverá haver demanda crescente para testes preventivos e de fatores de risco, particularmente nas áreas de oncologia, endocrinologia e ginecologia. Idem para testes de toxicologia/abuso de drogas;
- Pressão maior sobre os laboratórios hospitalares para recolher, interpretar e fornecer informações para os médicos e outros profissionais de saúde com a finalidade de monitorar a condição do paciente e de sua saúde em geral, visando reduzir o tempo de estadia;
- É esperado um aumento no número de laboratórios clínicos, em particular no setor independente, continuando a influenciar a indústria e colocando pressão nos laboratórios, num esforço para reduzir os custos;
- Deverá haver uma contínua pressão descendente de preços; no entanto, o mercado vai ser compensado por um aumento no volume;
- Deverá ocorrer uma verticalização violenta do mercado das análises clínicas;
- Incremento das fusões e aquisições gerando novos grandes conglomerados, ameaçando ainda mais os pequenos e médios laboratórios.
Nos grupos profissionais debatemos a situação do mercado das análises clínicas, onde claramente se identificam graves ameaças à sobrevivência dos pequenos e médios laboratórios, mas, também surgem ideias para soluções. Fundamentalmente convergem para a busca da união entre empresas, contudo, há divergência se a união deve ser somente entre laboratórios ou também entre laboratório e clínicas médicas. Tudo visando racionalizar a produção em regiões eliminando a multiplicidade de equipamentos com as mesmas funções e otimizar a logística de suprimentos, gerando ganho de escala com processos de compras conjuntas. O grande desafio é vencer o egoísmo, a ganância, onde deveria prevalecer a ética, a decência de procedimentos. Perceber que os concorrentes não são inimigos que devem ser destruídos, mas que podem ser parceiros na solução da miríade de desafios do mercado. A busca deve ser frenética por ações que reduzam custos e aumentem receitas para incrementar a produtividade, gerando competitividade e reduzindo o risco de insolvência. E, nestes cenários uma exigência se faz necessária e imprescindível em qualquer situação ou solução adotada: GESTÃO PROFISSIONAL!
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