por José Márcio Cerqueira Gomes, diretor executivo da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde – ABIIS
A medicina vive uma revolução involuntária, provocada pelo coronavírus, que pode render muitos bons frutos para a humanidade. Não estou aqui ignorando ou minimizando as consequências trágicas da pandemia, mas é preciso também enxergar os pontos positivos e o legado tecnológico desse momento. O uso de materiais mais modernos, o processamento de dados, a internet das coisas, o rastreamento do vírus, as unidades hospitalares e fabris completamente automatizadas, são alguns exemplos. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a Inteligência Artificial e o Big Data foram parte essencial para o controle da Covid-19 na China.
A Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde há anos defende que a Saúde 4.0 traz impactos positivos enormes para a população. Isso porque, as soluções tecnológicas, se bem implementadas, resultam em tratamentos mais eficazes, em menor tempo de internação, em tratamentos menos invasivos e, consequentemente, menos custos para todo a cadeia. Contribuem automatizando tarefas e rotinas e permitindo o monitoramento, exames e tratamentos à distância, baixando o custo do cuidado e ampliando a sua abrangência geográfica. Se essas tecnologias fossem usadas plenamente, poderiam dar acesso à saúde a 1/3 da população, que está espalhada em áreas que estão fora dos centros urbanos. Sem falar na possibilidade de manutenção de equipamentos à distância, rastreabilidade de medicamentos, por exemplo, que já estão se tornando realidades no Brasil.
O avanço é imediato em situações de crise. Hoje vemos, na prática, algumas dessas evoluções. O primeiro ponto a destacar é que o esforço concentrado para combater a Covid-19, e tratar quem contrai a doença, dão mais velocidade ao processo de pesquisa e de desenvolvimento. Em casos como este, a pesquisa médica é impulsionada pela necessidade. Sem contar nos recursos econômicos investidos pelos governos. A tecnologia de diagnóstico no Brasil e no mundo já apresenta um avanço muito grande.
A quantidade de dados gerados e processados de forma global é outra preciosidade para o futuro da medicina. Se essa pandemia fosse há 10 ou 15 anos, teríamos muitos dados, mas não a capacidade que temos hoje de compilar, analisar e construir algoritmos para nortear a comunidade científica na descoberta de medicamentos e vacina para a cura da doença.
Na parte de estrutura, antevemos uma evolução enorme, desde os EPIs, com a descoberta de novos materiais, até a parte mais sofisticada, que envolve a modernização, o desenvolvimento e até mesmo o barateamento de equipamentos.
A Telemedicina, que foi tabu por muito tempo, já está beneficiando milhares de brasileiros. Agora é possível fazer uma análise crítica concreta do processo como um todo, sobre os pontos positivos e os que precisam ser aprimorados.
E, no cenário econômico, tanto o governo, quanto a academia e a indústria têm os ingredientes necessários para passar a depender menos de determinados países que concentram a produção de diversos itens. Oportunidades estão surgindo. Este momento de crise vai mexer de um modo geral com a indústria da saúde. É impensável que todos os países produzam tudo, até por uma questão de vocação, mas este sistema colaborativo terá que ser repensado. E a revolução gerada pela Covid-19 é de altíssimo nível.