A realização de estudos clínicos sistemáticos e rigorosos em seres humanos é fundamental para a formulação de políticas públicas relacionadas à saúde e para a tomada de decisão clínica baseada em evidências. A pesquisa clínica envolve a avaliação da eficácia, segurança e tolerabilidade de intervenções terapêuticas, diagnósticas ou preventivas em seres humanos, e é sempre conduzida de acordo com rigorosos padrões éticos e científicos.
Esses estudos podem variar em sua escala, desde estudos preliminares em grupos pequenos até ensaios clínicos em larga escala que envolvem muitos pacientes. Neste sentido, suas aplicações são amplas e incluem o desenvolvimento de novos medicamentos, terapias e dispositivos médicos, bem como a avaliação de tratamentos já existentes.
A pesquisa clínica também é usada para investigar a etiologia, prevenção e tratamento de doenças e condições médicas específicas, além de contribuir para a melhoria da qualidade e segurança dos cuidados de saúde. Os estudos clínicos são conduzidos em centros de pesquisa clínica, que são geralmente estabelecidos em hospitais, clínicas ou instituições de pesquisa. Esses centros contam com uma equipe de profissionais altamente qualificados, como médicos e pesquisadores, para conduzir esses estudos com o máximo rigor científico e ético.
O Brasil é um país atraente à pesquisa clínica devido ao elevado índice de heterogeneidade de sua população bem como variações de clima, cultura e condições socioeconômicas. Existem, no entanto, entraves processuais que tendem a prejudicar a inovação farmacêutica de se estabelecer no País.
A nossa participação em termos de estudos clínicos iniciados caiu de 2,7% em 2012 para 2,3% em 2021. Em termos de ranking de países, vem subindo de posição nos últimos anos, passando da 25ª para a 19ª posição, em 2021. Mesmo com diversos indicadores que apontariam o Brasil na direção do protagonismo global, o País tem representado um papel secundário em termos de quantidade de pesquisas mesmo tendo subido seis posições no ranking global.
Ao considerar a participação em estudos clínicos patrocinados pela indústria, dados de 2021 colocam o Brasil na 21ª posição do ranking de países com 241 estudos iniciados em 2021, com 3,5% do total global. Enfrentamos desafios em relação à regulação e infraestrutura para a realização de pesquisas clínicas com barreiras relevantes na burocracia excessiva, na falta de investimento em infraestrutura, na falta de capacitação de profissionais e na lentidão na aprovação de protocolos de pesquisa. Tais desafios limitam o potencial do País em se tornar um líder global em pesquisa clínica.
A formação médica em pesquisa clínica é um tema de grande importância, uma vez que a capacitação adequada de médicos e outros profissionais de saúde é fundamental para garantir a qualidade e segurança dos estudos clínicos. Em termos mundiais, existe uma crescente demanda por esta formação, impulsionada pela necessidade de desenvolver novas terapias e tratamentos para doenças que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Além disso, a pandemia de COVID-19 destacou a importância da pesquisa clínica para a saúde pública, aumentando ainda mais a necessidade de profissionais de saúde qualificados.
No Brasil, a formação médica em pesquisa clínica é oferecida em algumas universidades, como pós graduação, e instituições de pesquisa. No entanto, há ainda um desafio em relação à quantidade de profissionais capacitados para atender à crescente demanda de estudos clínicos no País. Muitos médicos e outros profissionais de saúde não recebem treinamento adequado em pesquisa clínica durante sua formação acadêmica, o que pode limitar sua capacidade de conduzir estudos clínicos com segurança e eficácia.
Instituições de ensino superior e pesquisa têm investido na criação de cursos de pós-graduação em pesquisa clínica, buscando oferecer uma formação mais completa e atualizada aos profissionais de saúde. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todos os médicos e profissionais de saúde no Brasil recebam a formação necessária em pesquisa clínica para atender às demandas crescentes do setor.
Andréa Coscelli Ferraz*
*Diretora Nacional de Pesquisa Clínica na Inspirali