Luiz Arthur Calheiros Leite*
Os linfócitos reativos se caracterizam por apresentarem citoplasma abundante, basofilia citoplasmática e mudança de sua forma com a proximidade das hemácias. O núcleo pode apresentar cromatina menos condensada, nucléolos e contorno irregular. Outro ponto importante é que a presença linfocitose, atipia linfocitária e febre, constantemente resulta a um diagnóstico de um quadro viral.
No hemograma também são comuns leucopenias, trombocitopenias em diferentes graus. Linfocitoses em lactantes e recém-nascidos são esperadas, e a linfocitoses em crianças merecem atenção, pois nesta faixa etária há grande prevalência de processo infeccioso viral respiratório, que podem cursar com linfocitoses discretas a moderadas, como também aumento do número de linfócitos por formação do sistema imunológico.
Os equipamentos eletrônicos não contam com precisão os linfócitos reativos, mas emitem alarmes de atypical lymphocytes ou Variant Lymphocytes (Horiba, Nihon-Kohden, Abbott, Beckman Coulter, Sysmex. Mindray, Advia). A ISLH (International Society for Laboratory Hematology) publicou recomendações para padronização da nomenclatura e da graduação das alterações morfológicas no sangue periférico, uma vez que os aparelhos hematológicos não são capazes de descrever as variações morfológicas dos linfócitos reativos, pois estes linfócitos podem exibir nucléolos, pleomorfismo citoplasmatico e nuclear, basofilia citoplasmática ou aspecto plasmocitoide. A terminologia para estes linfócitos é muito variada com diversos termos utilizados para descrever a mesma célula por anos, tais como, linfócitos variantes, reativos, ativados, anormais ou atípicos, Células de Downey Tipo 1, 2 ou 3, Células de Turk, Imunoblastos ou mesmo combinações de células como linfócitos monocitóides, plasmocitóides. A recomendação da ISLH é que o termo “linfócito reativo” seja usado para descrever linfócitos de etiologia benigna e o termo “linfócito anormal” quando houver suspeita de malignidade ou etiologia clonal, comum em linfomas periféricos.
Na presença de flags de linfócitos atípicos todas as lâminas devem ser revisadas, pois os linfócitos reativos são comuns em hemogramas de pacientes com dengue, mononucleose infeciosa, hepatites virais, citomegalovírus, toxoplasmose, HIV/Aids associadas a inúmeras infecções oportunistas.
Os analistas hematológicos devem da mais atenção a distensões sanguíneas que apresentam uma quantidade igual ou maior que 5% linfócitos reativos, e devem evitar a citação destas células em baixa percentagem (1 a 2%), pois não possuem significado clínico e pode levar a investigação incorreta de quadros virais e até preocupação excessiva dos pacientes que acessam os exames antes de uma consulta. Os analistas devem ser capazes de ver o que os aparelhos eletrônicos não conseguem ver, e sempre descrever as anormalidades morfológicas significantes que possam auxiliar na investigação de doenças infecciosas.
Sobre o Autor
Luiz Arthur Calheiros Leite, Biomédico, especialista em Hematologia e Hemoterapia, UNIFESP/EPM. Mestrado em Ciências, Hematologia, UNIFESP/EPM. Doutorado em Bioquímica e Fisiologia, UFPE. Coordenador da Escola Brasileira de Hematologia, LahematoEAD. Consultor em Hematologia, Horiba Medical Brasil e Nihon-Kohden Brasil.
Referências
Manual de Hematologia: Alterações Hematológicas em processos infecciosos. Editores: Luiz Arthur Calheiros Leite e Maria de Lourdes Lopes Ferrari Chauffaille. Autores: Aline dos Santos Borgo Perazzio, Alex Freire Sandes, Matheus Vescovi Gonçalves, Carolina S. Lázari, Paola Cappellano, Celso Francisco Hernandes Granato, Marcia Wehba Esteves Cavichio, 1º edição. Grupo Fleury, 2020. Acesso: https://www.fleury.com.br/medico/manuais-diagnosticos/alteracoes-hematologicas-em-processos-infecciosos/alteracoes-hematologicas-nas-infeccoes-virais.
Hemograma: Manual de Interpretação. Renato Failace e Flavo Fernandes 6º edição. Editora Artmed. 2015.
Chabot-Richards DS, George TI. Leukocytosis. Int J Lab Hematol. 2014 Jun;36(3):279-88. doi: 10.1111/ijlh.12212. PMID: 24750674.
Lv J, Gao M, Zong H, Ma G, Wei X, Zhao Y. Application of Peripheral Blood Lymphocyte Count in Prediction of the Presence of Atypical Lymphocytes. Clin Lab. 2020 Jun 1;66(6). doi: 10.7754/Clin.Lab.2019.191113. PMID: 32538050.