A leucemia mielóide aguda (LMA) resulta da expansão clonal de blastos mieloides no sangue periférico, medula óssea ou outros tecidos com bloqueio na diferenciação celular e acúmulo de mieloblastos. É uma doença heterogênea clinicamente, morfologicamente e geneticamente por envolver todas as linhagens mielóides. Possui idade média ao diagnóstico de 65 anos e apenas 15 a 20% dos casos acometem crianças.
Devido à alta incidência (3 casos por 100.000 habitantes por ano e curso rápido e agressivo), a LMA exige dos laboratórios uma minuciosa análise do hemograma e da distensão do sangue, para que os exames confirmatórios que fecham diagnóstico e predizem prognóstico (imunofenotipagem por citometria de fluxo, citogenética ou FISH e biologia molecular) sejam devidamente solicitados.
Vale ressaltar que a classificação da OMS define que a porcentagem de blastos necessária para um diagnóstico de LMA é mais 20% de mieloblastos no sangue periférico ou medula óssea.
Com um espectro de doença genética não hereditária é de suma importância o conhecimento da biologia da LMA que resulta em falência hematopoética medular progressiva com citopenias periféricas, pois tudo que ocorre na medula óssea tem reflexo no sangue periférico. Em decorrência deste processo, há acúmulo de blastos na medula óssea, há anemia, neutropenia e plaquetopenia (tríade leucêmica) com variação na contagem de leucócitos entre leucopenias, leucometria elevando-se progressivamente. Quanto mais acentuadas as citopenias, anemia, neutropenia e plaquetopenia, mais claro são os sintomas, como astenia, palidez de mucosas, infecções com febre (neutropenia febril) e sangramentos associados a gradativa plaquetopenia. Os hemogramas que apresentam hemoglobina abaixo de 7 g/dL (anemia acentuada com indicação de transfusão de concentrado de hemácias), neutropenia abaixo de 500/mm3 (risco eminente de infecção oportunista e febre), e plaquetopenias maiores (10.000/mm3 a 50.000/mm3) culminam com sangramentos e necessidade de transfusão de concentrado de plaquetas. Este são valores críticos, e o laboratório deve notificar imediatamente o corpo clínico na presença destas alterações periféricas.
Outro aspecto crítico das LMAs são as hiperleucocitoses, mais de 100.000/mm3 leucócitos no sangue periférico. Nestes casos o analista deve agir e pensar rápido para realizar o hemograma, pois trata-se de uma emergência médica que se não vista leva a leucostase e óbito.
A análise morfológica do sangue periférico muitas vezes exibe aspectos clássicos de blastos mieloides, como bastonetes de Auer, grânulos citoplasmáticos e cromatina fina. Entretanto os analistas devem ser capazes de identificar células com nucléolos evidentes, núcleo escasso, e contar os blastos dentro da diferencial de leucócito, e não se omitir, pois os pacientes sem diagnóstico vão a óbito em dias ou semanas.
Após estes passos a imunotipagem caracteriza a linhagem através dos anticorpos monoclonais, e os exames genéticos e moleculares vão predizer prognóstico, risco de recaída, resposta a quimioterapia ou realização do transplante de medula óssea.
Por fim, conclui-se que a aproximação entre o corpo clínico e o laboratório e mandatório para o sucesso do diagnóstico precoce das LMAs.
Luiz Arthur Calheiros Leite
Especialista e Mestre em Hematologia pela UNIFESP
Doutor em Bioquímica e Fisiologia pela UNIFESP
Consultor em Hematologia Laboratorial
Professor e Fundador da Escola Brasileira de Hematologias, LAHEMATOEAD
Instagram: @luiz_arthur37
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