Nova indicação da combinação da imunoterapia atezolizumabe mostrou-se mais eficaz do que a quimioterapia isolada no tratamento de pacientes que não se beneficiam de terapias-alvo
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da imunoterapia atezolizumabe, da Roche, para pacientes com um dos tipos mais incidentes de câncer de pulmão, o adenocarcima. Esta nova indicação de tratamento é uma combinação com as quimioterapias nab-paclitaxel e carboplatina para o subtipo não pequenas células não escamoso metastático – quando a doença já atingiu outros órgãos – e que não apresenta mutações ativadoras do gene EGFR ou rearranjo do gene ALK.
A novidade vem para a primeira linha de tratamento desses pacientes que, por não apresentarem tumor positivo para nenhuma mutação relevante, não podem ser beneficiados por terapias-alvo.
O oncologista Fernando Santini, do Hospital Sírio-Libanês, explica que esta combinação de tratamento é viável, por exemplo, para os pacientes com alto grau de disfunção renal. “Pacientes com este tipo de câncer de pulmão geralmente são tabagistas e apresentam várias comorbidades. Uma das mais comuns é o comprometimento da função dos rins, que impossibilita a utilização de um dos tipos de quimioterapia mais comuns. Sendo assim, não tinham opção de tratamento com ativação do sistema imune para combater o câncer, que é o caso do atezolizumabe com nab-paclitaxel e carboplatina, agora aprovados no Brasil”, afirma o especialista.
A aprovação pela Anvisa foi baseada no estudo de fase III IMpower 130, publicado na revista científica The Lancet Oncology, que demonstrou que a terapia combinada atezolizumabe ajudou as pessoas a viver significativamente mais em comparação com a quimioterapia sozinha (sobrevida global média de 18,6 meses versus 13,9 meses). Também reduziu significativamente o risco de agravamento ou morte pela doença (sobrevida livre de progressão de 7 meses versus 5,5 meses). Outro resultado da nova combinação foi reduzir o tamanho dos tumores em 49,2% dos pacientes estudados em comparação com 31,9% daqueles que receberam somente em quimioterapia. A duração mediana da resposta foi de 8,4 meses versus 6,1 meses.
Vale ressaltar que esta mesma imunoterapia já teve outras duas aprovações pela Anvisa neste ano para tipos específicos de câncer de pulmão. Uma delas é o tratamento inicial para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células em caso de doença extensa, perfil que não tinha nenhum avanço em novas terapias havia 30 anos. A outra é uma combinação inédita de atezolizumabe e do antiangiogênico bevacizumabe, ambos da Roche, associados a quimioterapia, para a primeira linha de tratamento em pacientes com tumor de pulmão do tipo não pequenas células metastático não escamoso.
Atualmente, a Roche tem nove estudos de câncer de pulmão de fase III em andamento para avaliar o atezolizumabe sozinho ou em combinação com outros medicamentos em diferentes tipos de câncer de pulmão.
Câncer de pulmão – entenda
O câncer de pulmão é a principal causa de morte pela doença em todo o mundo: 87%. A cada ano 1,76 milhão de pessoas morrem em decorrência de suas complicações, o que se traduz em mais de 4.800 mortes em todo o mundo diariamente. Em termos de incidência no Brasil, sem contar os tumores de pele não melanoma, este tipo de neoplasia fica atrás somente do câncer de próstata em homens e de mama, intestino e colo uterino em mulheres. Estima-se que ocorram 31,2 mil novos casos ao ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).