Coluna: Dr. Flávio H. Nascimento – Médico Psiquiatra e pesquisador no CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Por muito tempo, ter uma alta inteligência e um QI elevado era visto como algo extremamente positivo, associado a habilidades fora do comum e quase nenhuma implicação negativa.
Mas com o avanço dos estudos sobre inteligência, foram descobertas cada vez mais efeitos negativos ligados à inteligência, principalmente a pessoas com QI acima de 130, dentre elas, a preocupação excessiva.
A preocupação excessiva
Muitas evidências mostram que pessoas com altas pontuações no QI verbal apresentam níveis altos de preocupação, o que sugere que ela pode estar ligada a uma maior capacidade verbal, que causa um processamento cognitivo e linguístico mais intenso.
Em pessoas com alto QI, essa preocupação excessiva se manifesta por meio de processos cognitivos e emocionais amplificados, gerando uma espécie de ruminação constante de ideias e pensamentos repetitivos constantes.
Mas existe outro fator importante que deve ser considerado na formação desse processo de preocupação excessiva, a sensibilidade maior à crítica social. Isso aumenta a ansiedade e prejudica interações saudáveis, além de alimentar um estado constante de alerta e dificuldade em relaxar, o que se estende também aos pensamentos.
Neurociência e genética
Quando focamos especificamente no cérebro é possível observar uma forte relação da preocupação excessiva com uma atividade muito acelerada da amígdala, o que contribui para intensificar o processamento da ansiedade e medo.
Além disso, disfunções no córtex pré-frontal dorsolateral também afetam a tomada de decisões e regulação da atenção, causando uma indecisão crônica e dificuldade de “soltar” pensamentos preocupados.
A genética e os fatores ambientais também têm papel importante na predisposição e intensidade desses traços, estudos já mostram que algumas variantes genéticas aumentam a propensão à ansiedade e preocupação, nesses casos, tratamentos como terapia cognitivo-comportamental e ajustes no estilo de vida ajudam a aliviar os sintomas.
Pensamentos remoídos
Contando todos os fatores listados até agora, sociais, neurocientíficos, genéticos, etc., nota-se que esse processo é profundamente multifatorial, assim como a maioria dos processos ligados à inteligência, por isso, estudos sobre eles são muito importantes para compreendê-los melhor e melhorar a qualidade de vida dessa parcela da população.
Na experiência prática, a preocupação excessiva é mais perigosa do que pode parecer em um primeiro momento, ela afeta o desempenho, a vida social, gera ansiedade, estresse, cansaço mental, é preciso um cuidado constante para evitar se manter preso em um único pensamento remoído insistentemente no cérebro, uma tarefa difícil até mesmo para pessoas com Alto QI.