Conforme Eduardo Saavedra Coutinho, médico veterinário especializado em animais silvestres e exóticos, todo o animal vertebrado possui o Sistema Endocanabinoide (SIC) e pode ser tratado com medicamentos à base da cannabis.
Em seu consultório, Saavedra atende animais não convencionais de pequeno porte, como cobras, coelhos, gaviões, galinhas, lagartos, hamsters, papagaios, tartarugas, entre outros. Segundo ele, são considerados “não convencionais” todos os animais de estimação, exceto cães e gatos.
Formado há quase treze anos, Eduardo tem acompanhado a relação de amor e carinho que muitos tutores têm com seus pets não convencionais. “Antigamente, remédio para galinha era ‘canja’; torcia-se o pescoço e acabava a dor. Hoje em dia, não. O animal faz acupuntura, terapia com laser, uso de cannabis. Ele é parte da família e é tratado como tal”, comenta.
Por isso, casos como o idoso, Leonel Brizola, são cada vez mais comuns. “Leonel é um rato branco, com problema no quadril, no joelho, apresentando pouca mobilidade nos membros inferiores e muita dor e inflamação”, fala Saavedra sobre um de seus pacientes.
Com expectativa de vida de cerca de três anos, pets como o Leonel apresentam sintomas muito cedo, sendo indicado o tratamento com cannabis. “Com o tratamento ele está andando melhor e aparenta um ‘astral’ mais elevado, com certeza tem mais qualidade de vida”, diz Saavedra.
Uso do óleo de maconha no tratamento
“Eu sempre digo: se tem pulmão, pode ter problema no pulmão; se tem coração, corre o risco de ter complicações cardíacas. A cobra só não tem dor no joelho porque não tem joelho”, brinca o veterinário, explicando que os pets são tratados com maconha de maneira semelhante aos humanos.
Ou seja, a cannabis pode tratar epilepsia, dermatites, problemas de articulação, dores, ansiedade, depressão doenças cardiovasculares e respiratórias, cânceres e outras patologias nos animais.
Segundo Saavedra, a principal diferença está no metabolismo e no porte dos animais. Atendendo bichos que variam de 600 gramas até cerca de 4 quilos, Eduardo precisa ser extremamente cauteloso com a dosagem do tratamento. “Na primeira vez que administrei óleo de cannabis em um coelho, a concentração de THC foi muito elevada, e o animal ficou ‘chapado’. Isso pode acontecer”, explica.
Para minimizar riscos, Saavedra adotou a estratégia de diluir o medicamento em azeite, usando “1 ml de óleo de cannabis para 1 ml de azeite”. Ele também opta por começar o tratamento com CBD, passando para o óleo Full Spectrum, e só então, se necessário, introduzir o THC.
O veterinário destaca que, no Brasil, as opções de tratamento canábico para animais ainda são muito limitadas. Não existem produtos específicos para pets, e Saavedra frequentemente recorre a indicações de óleo por meio de associações.
Além disso, o nível de evidências científicas que comprovem a eficácia do tratamento com cannabis em diversas patologias é ainda muito baixo. “A realidade do veterinário está muito distante em comparação com a medicina humana. Muita coisa é feita por tentativa e erro. Estamos apenas no início da caminhada”, afirma.
Como identificar que o meu pet não convencional está sofrendo?
Gatos, coelhos, zebras, e outros animais considerados presas na natureza, tendem a esconder sinais de doença. “Se o animal está mancando, é porque já está há semanas com dor e não consegue mais disfarçar.” Esses animais muitas vezes chegam ao consultório em condições deploráveis, necessitando de tratamento imediato, explica Saavedra.
Por outro lado, predadores como serpentes, lagartos e aves de rapina são mais alertas e rápidos, tornando seus sintomas mais perceptíveis. Segundo o veterinário, é essencial que os tutores estejam sempre atentos ao comportamento de seus animais, observando quantas vezes eles se alimentam, bebem água, o tempo que passam deitados, entre outros sinais. Por fim, Eduardo enfatiza a importância de consultas periódicas com um médico veterinário.
Matéria – Sechat, por Bruno Vargas