O papel do farmacêutico na logística farmacêutica: o elo fundamental da saúde

Por Nathália Queiroga Andrade

A logística farmacêutica é muito mais do que o simples transporte e distribuição de medicamentos. Ela representa um elo vital na cadeia da saúde, garantindo que cada produto chegue em perfeitas condições de qualidade, segurança e eficácia ao paciente final. Nesse cenário, o farmacêutico surge como o guardião técnico desse percurso, atuando com olhar clínico e estratégico em todas as etapas do processo.

Conforme estabelece a Resolução CFF nº 679/2019, o farmacêutico tem o dever de assegurar que o armazenamento, o transporte e a distribuição de medicamentos ocorram em conformidade com as Boas Práticas de Distribuição e Armazenagem (BPDA). Isso inclui o monitoramento de variáveis como temperatura, umidade, rastreabilidade de lotes, integridade das embalagens e procedência dos produtos e insumos. Além de ser o responsável técnico pelas operações, o profissional deve manter vínculo formal com a empresa, o que reforça sua presença efetiva e contínua na rotina logística.

Essa função é ainda fortalecida pela RDC nº 430/2020, da Anvisa, em vigor desde março de 2021, que se aplica a distribuidores, armazenadores, transportadores e operadores logísticos. A norma determina a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) robusto, contemplando documentação, controle de processos, validações térmicas e rastreabilidade. O artigo 64, por exemplo, exige o monitoramento constante de temperatura e umidade, parâmetros críticos para preservar a estabilidade e eficácia dos medicamentos durante o transporte.

Na prática, o farmacêutico atua como executor e fiscal da qualidade. Ele acompanha a conferência de cargas, o controle ambiental dos depósitos e cabines de transporte, a qualificação de rotas e veículos e lidera auditorias internas e autoinspeções. Em situações adversas, como extravios, roubos ou danos, é esse profissional quem avalia o impacto, documenta as ocorrências e aciona as autoridades competentes, assegurando rastreabilidade e transparênciaem toda a cadeia.

Mais do que atender à legislação, a presença do farmacêutico na logística traz benefícios concretos. Sua vigilância técnica reduz perdas por falhas de conservação, evita rupturas de estoque, garante o cumprimento da cadeia de frio e assegura que o paciente receba medicamentos com qualidade comprovada. Além disso, essa atuação preventiva minimiza riscos regulatórios e fortalece a reputação das empresas frente aos órgãos de fiscalização sanitária.

Nos últimos anos, o avanço tecnológico também ampliou o alcance dessa atuação. Ferramentas de monitoramento remoto, sensores IoT e softwares de rastreabilidade permitem ao farmacêutico acompanhar em tempo real as condições de transporte e armazenamento, tornando o controle mais preciso e proativo. Essa integração entre ciência, tecnologia e gestão reforça o papel do farmacêutico como gestor da qualidade e da segurança sanitária em ambientes altamente regulados.

Em síntese, a logística farmacêutica é uma engrenagem essencial da saúde pública, e o farmacêutico é o seu eixo central. Sob a égide da Resolução CFF nº 679/2019 e da RDC nº 430/2020, sua atuação vai muito além da conformidade legal: ela simboliza o compromisso ético e técnico com a vida.

Onde há medicamento, deve haver um farmacêutico. E onde há logística, deve haver responsabilidade, ciência e cuidado, valores que sustentam a confiança da sociedade em todo o sistema de saúde.

Foto da farmacêutica Nathalia Queiroga Andrade

Nathalia Queiroga Andrade

Farmacêutica pós-graduada em Farmácia Hospitalar

MBA em Logística Farmacêutica