Pelo menos 27 milhões de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos deixaram de ser feitos. A quantidade de mamografias de rastreamento caiu 48%, revelam dados do Conselho Federal de Medicina. Em BH, a queda foi de pelo menos 50%. Médicos e entidades de combate ao câncer alertam para os riscos do diagnóstico tardio
Valéria Borges, 52 anos, por exemplo, desde o começo da pandemia, está sem fazer a mamografia. “Estou fazendo isolamento certinho e só fui ao médico para emergência. Até fui ao médico, que me deu o pedido. Mas com essa de não sair, ainda não fiz o exame de rotina”, conta a educadora infantil.
Não é um caso à parte a realidade de Valéria. O isolamento social, necessário na pandemia da Covid-19, além de restrições de acesso aos hospitais, o contingenciamento de leitos para o tratamento do Coronavírus e o medo de pacientes em procurar ajuda médica, em função da pandemia, provocaram queda de 27 milhões de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos não programados ou que não são considerados de urgência e emergência.
A quantidade de mamografias de rastreamento caiu 48%, segunda maior queda por tipo de procedimento, ficando atrás apenas do Papanicolau, com 51%. É o que mostra um novo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem analisado os efeitos da crise sanitária instalada no Brasil, desde março do ano passado. Os impactos dessa queda podem agravar a situação do câncer de mama, o mais comum no Brasil.
No ranking das áreas médicas mais acometidas (o SIA-SUS não utiliza a nomenclatura médica, mas a Classificação Brasileira de Ocupações), estão o serviço de radioterapeuta, que teve queda de 92%; em segundo lugar citopatologista, com 51%; em quarto lugar, com redução de 39%, estão os atendimentos dos anatomopatologista; em sétimo lugar radiologia e diagnóstico com imagem, com redução de 30% e que está em 6º lugar. Todos eles, de certa forma, ligados ao diagnóstico e/ou tratamento do câncer de mama.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que a procura por mamografia desde o começo da pandemia foi expressiva. Em 2019: cerca de 91 mil. Já em 2020, cerca de 50 mil e este ano, 1: cerca de 37 mil. O município manteve a oferta de exames de mamografia, mas foi identificada uma redução na procura pelas mulheres para realização do exame. Houve um ajuste de oferta em função da demanda diminuída e com a oferta maior que a demanda e, em 2020, a Secretaria atendeu a fila residual e a partir de setembro e outubro daquele não havia nenhuma paciente aguardando para realização do exame. A PBH reforça que o exame de mamografia é um importante instrumento para o diagnóstico precoce, contribuindo para um tratamento eficaz da paciente. Em Belo Horizonte, as mamografias são agendadas pelos Centros de Saúde.
Atuante na prevenção e no tratamento do câncer de mama, a Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (ASPRECAM) alerta que os prejuízos para o diagnóstico tardio podem ser irreparáveis para a mulher. Segundo o médico, fundador da Organização e atual Superintendente Técnico Thadeu Provenza comenta que os danos são irreparáveis.
“No Movimento Mamamiga Pela Vida, percebemos que os desafios com a educação, a prevenção e o tratamento do câncer foram severamente impactados com a pandemia. Já estamos em uma fase melhor, mas sabemos que os resultados aparecerão, porque muita gente se descuidou. Por isso, estamos acelerando o processo de digitalização de nossas ações. Acreditamos que é na tecnologia que podemos tentar reduzir o prejuízo. Nosso modelo didático será informatizado, inclusivo e ajudará ainda mais a ensinar a fazer o toque das mamas. Estamos também finalizando uma plataforma de ensino a distância que vai capacitar os gestores públicos de modo ainda mais completo, ágil e permanente” comenta, Thadeu.
Diversos estudos revelam que o sobrepeso e a obesidade, aliadas a uma rotina sem atividades físicas, aumentam os riscos de câncer de mama e proporcionam uma má qualidade de vida para quem está em tratamento. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais, Annamaria Massahud, manter hábitos saudáveis é a melhor forma de prevenção à doença.
“Nosso alerta é que QUANTO ANTES a pessoa mude o estilo de vida dela, MELHOR para sua saúde. Isso envolve uma alimentação saudável, uma rotina de atividade física, a manutenção do peso abaixo da obesidade e, obviamente, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo. É necessário ter uma consciência da saúde preventiva como um todo para que haja um equilíbrio no organismo e, consequentemente, redução do risco do desenvolvimento da doença”, explica.
Vacinação do Covid-19 e tratamento
Em relação à vacinação do Covid-19, a SBM também reforça que é primordial que todas as mulheres se vacinem, inclusive as diagnosticadas com câncer de mama, pois não há nenhuma contraindicação. Lembrando que as pacientes compõem o grupo de risco, muitas com a imunidade baixa devido ao tratamento que estão sendo submetidas.
Sobre o câncer de mama
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, apresentam bom prognóstico. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para o câncer de mama em Unidades Hospitalares especializadas.
Sobre a ASPRECAM
A Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (ASPRECAM) é uma organização sem fins lucrativos e certificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Criada em 31 de outubro de 1984, pelo médico mastologista e cirurgião plástico Dr. Thadeu Provenza, presta serviços à saúde da mulher com foco no câncer de mama em Minas Gerais. Desde sua fundação trabalha com um programa de busca ativa de casos suspeitos e positivos de câncer de mama que, em 25 anos, beneficiou mais 400.000 mulheres.
Em 1998, foi criado o modelo didático Mamamiga, para proporcionar a experiência de sentir por meio do toque as principais situações encontradas no autoexame das mamas. Em 2004, o modelo foi reconhecido pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) como ferramenta de utilidade pública e, em 2007, recebeu o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Este modelo é utilizado em capacitações de profissionais, palestras, feiras e locais de grande fluxo de pessoas.
Atualmente, temos mais de 25.000 modelos distribuídos em todo o Brasil. Em 2013, a ASPRECAM lançou o Movimento Mamamiga pela Vida, com o intuito de despertar nas pessoas a cultura do autocuidado: o desejo de valorizarem a própria vida, adotarem práticas saudáveis e de mais qualidade de vida. Para isso, a ASPRECAM desenvolve programas e projetos que visam à promoção de produtos e de tecnologias sociais que estimulem o autocuidado e a prevenção do câncer na mulher, bem como a promoção da saúde e da qualidade de vida.
Rede Mamamiga Tech
Formada por uma versão multimídia do Modelo Didático Mamamiga convencional, a Rede Mamamiga Tech conecta a uma plataforma de ambiente virtual de aprendizado (AVA), estabelecendo uma rede física de ensino continuado e permanente a distância (EaD). Disponibiliza, ainda, outros serviços sobre o exame clínico, a mamografia e o autocuidado.
O Sistema Multimídia Mamamiga Tech permite, além do tato, visualizar o que está sendo apalpado, enquanto uma assistente virtual explica sobre o achado localizado no simulador da mama. Por se manter conectado online à plataforma AVA, o sistema possibilita a capacitação permanente a distância dos profissionais de saúde do SUS, do sistema complementar de saúde, de voluntários da sociedade civil e de empresas, além de pessoas leigas interessadas.