Por Wilson Lemes*
Claramente associada à ausência de padrão nos protocolos clínicos, a variabilidade do cuidado tem sido um tópico de discussão e análise desde o início dos anos 1970, quando as diferenças entre o atendimento prestado aos pacientes, dependendo da geografia, começaram a ser percebidas. Os anos empregados nas tentativas de conscientização de todo o ecossistema da saúde e os esforços que já foram despendidos fazem com que este pareça um problema do passado. Mas, será que algo mudou nos últimos 40 anos? Embora exista know-how, tecnologia e, especialmente, o senso de urgência para reduzir a variabilidade do cuidado e trabalhar para a padronização, será que as pessoas realmente estão olhando para isso como deveriam?
O problema persiste e estudos recentes ainda relatam essas inconsistências, representando entre 14% e 16% do gasto total em saúde nos Estados Unidos, por exemplo. Os números são espantosos em âmbito global. A maioria dos países tem uma discrepância que pode variar entre duas a vinte vezes na qualidade dos cuidados para as mesmas condições, em função de localização ou outas variáveis, sem contudo uma medição sistemática do impacto nos custos. Para deixar mais claro do que estamos falando, vamos usar como exemplo: um homem tem até quatro vezes mais chances de ter sua próstata removida cirurgicamente em algumas regiões dos EUA do que em outras, nas quais a observação e o conceito de “esperar para ver” são indicados. Isso ocorre ainda que pesquisas clínicas evidenciem que os resultados de ambas as abordagens sejam as mesmas.
Do ponto de vista de resultados negativos, além de onerar os recursos, ocasionar uma série de desperdícios e prejudicar a sustentabilidade do sistema que, normalmente, opera além de sua capacidade econômica, a variabilidade do cuidado tem implicações óbvias para os pacientes. Seja pela imprecisão do diagnóstico ou pela inadequação no tratamento, este fenômeno é hoje uma das principais causas de erros médicos evitáveis.
Porém antes de falar de soluções é preciso deixar claro que, na verdade, o cuidado que o paciente recebe não deveria variar de acordo com o sistema de saúde, o local onde reside e o médico que o assiste. Nas situações em que existem possibilidades e escolha e os médicos sabem qual tipo de abordagem traz resultados mais positivos, o plano de tratamento não deveria ser uma questão de sorte. Este é um objetivo alcançável e já está sendo cumprido. O desafio está em trazer escala a esses esforços para que os médicos e os pacientes possam otimizar suas decisões e os cuidados possam ser normatizados.
A resposta está na padronização e no poder da combinação de conteúdo clínico com elevado nível de investigação; ferramentas avançadas de triagem de apoio à decisão clínica; lembretes; modelos e definição de possíveis caminhos para o cuidado, que ajudam a criar padrões para a assistência médica. Os provedores de cuidados podem também aumentar o impacto, aprimorando o engajamento do paciente e dando subsídios para que tomem as decisões certas.
E é para isso que servem os recursos avançados para apoio às decisões clínicas (ACDS), que proporcionam uma mudança substancial tanto nas decisões tomadas pelos profissionais da saúde, como dos pacientes, graças ao conteúdo totalmente intuitivo e acionável integrado aos portais de assistência médica e fluxos de trabalho. Ou seja, trata-se de adotar uma abordagem mais abrangente para o apoio à decisão e que ajudará os provedores de cuidado a lidar com o delicado equilíbrio de redução de custos ao mesmo tempo entregarem um cuidado de alta qualidade.
Em suma, estamos falando de armas importantes, que podem ser usadas pelas equipes de atendimento para reduzir a variabilidade do cuidado e, ainda, garantir que o atendimento prestado seja clinicamente eficaz.
*Wilson Lemes é Country Manager LATAM da Wolters Kluwer Helth, formado em Marketing, Negociação, Planejamento de Negócios, Dispositivos Médicos e Desenvolvimento de Negócios. O executivo acumula passagens por empresas como GE Healthcare, Nobel Biocare e O4B Consulting.