Uma onda de calor em pleno inverno brasileiro é até normal, mas, neste ano, a situação está fora do comum, com os termômetros chegando a bater em 34°C em cidades como São Paulo. Segundo especialistas, a explicação está ligada, principalmente, a dois fatores: o El Niño e o aquecimento global.
O tempo mais quente no fim do inverno é comum porque temos uma exposição maior ao Sol, já que os dias ficam mais longos. Como o tempo ainda é seco, não há chuva ou nuvens para distribuir toda essa energia solar, que é convertida em mais calor.
Outro ponto foi a chegada de uma frente fria pelo Sul do Brasil, que empurrou o ar quente ainda mais para o Sudeste e o Centro-oeste do país.
El Niño + aquecimento global: Somado a isso tudo, temos um ano anormal em razão da atuação de um El Niño com características distintas do normal e do agravamento do aquecimento global.
O meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) Giovani Dolif reforça que o que estamos vivendo é um fenômeno já esperado como a onda de calor se sobrepondo a uma situação anormal de calor na Terra.
— Giovani Dolif
A pesquisadora Thelma Krug, indicada pelo Brasil à presidência do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), explica que há uma relação direta do calor que estamos sentindo com o aquecimento, resultado de ações humanas.
“Agora, além da variabilidade natural do clima, como é o caso do El Niño, soma-se hoje a influência humana no clima. Ou seja, quanto maior o aquecimento associado às atividades humanas, mais frequentes e mais intensos esses eventos são esperados”, afirma.
O El Niño
O El Niño é uma das explicações para os dias mais quentes. O fenômeno aquece as águas do Oceano Pacífico e impede a chegada de frentes frias no Brasil. Sem massa de ar frio por aqui, a única saída para a intensa energia solar recebida é se transformar em calor.
“A chuva faz com que parte da energia do sol seja usada para evaporar a água e aí temos menos energia para fazer a temperatura subir. E as nuvens nos protegem dessa exposição. Como estamos numa época seca, isso não acontece e toda a energia é convertida em calor”, explica Dolif.
O aquecimento global
Neste ano, a Terra já deu sinais das consequências do aquecimento global:
- Recorde no acúmulo de gás carbônico na atmosfera;
- Uma longa sequência de recordes diários de calor;
- Oceanos com recordes de temperatura;
- O mês de julho mais quente já registrado no planeta.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que estamos vivendo uma “era de fervura global” e que os sinais mostram uma emergência climática.
As consequências estão sendo vistas em todo o mundo:
A Grécia sofreu grandes incêndios, assim como o Canadá, que também registrou inundações. As ondas de calor sucessivas no sul da Europa, norte da África, sul dos Estados Unidos e parte da China também provocaram muitos danos.
Amazônia
No Brasil, segundo os especialistas, um dos motivos para a mudança nas temperaturas é o desmatamento da Amazônia.
Um estudo publicado na Nature em 2021 mostrou que a floresta já emitia mais gás carbônico do que era capaz de absorver. Isso por causa do desmatamento e das queimadas ilegais.
A Amazônia é um importante sumidouro de gás carbônico, isto é, que filtra o ar, retirando gás carbônico e devolvendo oxigênio à atmosfera.
O climatologista e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, Carlos Nobre, diz que as mudanças no clima reforçam o que os especialistas vêm falando sobre as ações humanas no planeta.
“O aquecimento global e o aumento dos extremos têm tudo a ver com o aumento da emissão de gases de efeito estufa pelas atividades humanas como queima de combustíveis fósseis, agropecuária, desmatamentos”, afirma.
Matéria – Por Poliana Casemiro, g1