Com as mortes relacionadas à covid-19 ultrapassando 4 mil por dia na Índia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) agora afirma que a variante B.1.617 do SARS-CoV-2, identificada pela primeira vez naquele país, é uma preocupação global.
“Estamos classificando a B.1.617 como uma variante de atenção em nível global”, disse a Dra. Maria Van Kerkhove, PhD., epidemiologista e líder técnica da entidade no combate à covid-19, em entrevista coletiva na segunda-feira (10), de acordo com a Reuters .
“Já existem algumas informações disponíveis sugerindo um aumento da transmissibilidade”, disse a Dra. Maria.
A B.1.617 é a quarta a ser classificada pela OMS como uma variante de atenção (VOC, do inglês, v ariant of concern), junto com a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul) e a P.1 (Brasil). Muitas nações, incluindo os Estados Unidos (EUA), estão limitando as viagens de ida e volta para a Índia por temor de que a B.1.617 seja altamente transmissível. A variante foi detectada em um paciente na área da baía de São Francisco no mês passado.
A Dra. Maria Van Kerkhove disse que mais informações sobre a variante B.1.617 estarão disponíveis em breve. “Mesmo que haja um aumento da transmissibilidade, já demonstrado por alguns estudos preliminares, precisamos de muito mais informações sobre essa variante”, disse a epidemiologista.
O cientista-chefe da OMS, Dr. Soumya Swaminathan, disse ao Wall Street Journal que a B.1.617 se espalha rapidamente. “O padrão agora parece ser: uma pessoa da família contrai o vírus, toda a família contrai também. Isso é diferente do que ocorreu na primeira onda. Então, acho que o que estamos vendo é uma variante mais transmissível”, disse ele.
Enquanto isso, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA definiram a cepa indiana como uma variante de interesse (VOI, do inglês, v ariant of interest).
A B.1.617 tem duas mutações na proteína da espícula (spike), que permite que ela se fixe nas células. As autoridades de saúde indianas detectaram a variante pela primeira vez no mês passado. A “dupla mutação” pode ser preocupante se a variante for mais transmissível ou mortal, mas as autoridades de saúde dos EUA ainda não classificaram a B.1.617 como uma VOC.
Mortes entre médicos aumentam
A Índia reportou 22,6 milhões de casos de infecção por SARS-CoV-2 e mais de 246 mil mortes por covid-19, com números crescendo a cada dia. No domingo (9), o país registrou seu quarto dia consecutivo com mais de 4.000 mortes relacionadas à doença, relatou a rede CBC News, do Canadá.
A Índia também está perdendo um grande número de médicos e profissionais de saúde para a covid-19. O líder nacional da Indian Medical Association, Dr. J.A. Jayalal, disse à CBC que 860 médicos morreram no país desde o início da pandemia – 166 em menos de um mês desde o início da segunda onda na Índia.
Outra complicação para a Índia é a infecção fúngica que tem acometido pessoas durante ou após a infecção por SARS-CoV-2, conforme relatou o jornal The New York Times .
“Conhecida como mucormicose, esta infecção fúngica tem uma alta taxa de mortalidade e já estava presente na Índia antes da pandemia. Ela é causada por um fungo que se desenvolve em ambientes úmidos e pode afetar o trato respiratório, podendo erodir as estruturas faciais e afetar o cérebro”, escreveu o jornal.
Apesar de rara, esta infecção fúngica parece afetar pessoas com o sistema imunitário debilitado, como é o caso de pacientes com covid-19, ou pessoas com outras doenças subjacentes. Ainda segundo fontes ouvidas pelo jornal, alguns especialistas acreditam que o aumento do uso de esteroides em pacientes hospitalizados possa estar na origem de tantos casos de mucormicose na Índia.
Fontes
Reuters: WHO classifies India variant as being of global concern
CBC: India loses 116 medics in 25 days as infections surge to new highs
The New York Times: A potentially fatal fungal infection is cropping up among India’s Covid patients
OMS classifica cepa indiana do SARS-CoV-2 como variante de atenção – Medscape – 11 de mai de 2021.