Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues – Pós-Doutor em Neurociências, membro da Society for Neuroscience (SFN) e da Sigma Xi, sociedade científica que seleciona membros com contribuições relevantes para o campo científico.
O vírus Nipah (NiV) tem se destacado como um agente infeccioso de alta patogenicidade, com potencial devastador para o sistema nervoso central humano. Evidências científicas apontam para sua capacidade de invadir o cérebro, desencadeando quadros de encefalite aguda e, em muitos casos, levando ao óbito.
Neuroinvasão e Neurotropismo:
A neuroinvasão do NiV se dá por meio de mecanismos complexos, nos quais o vírus utiliza células do sistema imune como “cavalos de Troia” para transpor a barreira hematoencefálica. Uma vez no parênquima cerebral, o vírus exibe um neurotropismo acentuado, infectando preferencialmente neurônios e células da glia, resultando em inflamação, dano neuronal e disfunção das redes neurais.
Sequelas Neurológicas e Psicossociais:
A despeito da recuperação da fase aguda da infecção, o NiV pode deixar marcas indeléveis no sistema nervoso. Sobreviventes frequentemente relatam déficits cognitivos persistentes, como comprometimento da memória, dificuldades de atenção e lentificação do processamento mental. Além disso, transtornos neuropsiquiátricos, como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático, são comumente observados, impactando a qualidade de vida e a reinserção social dos pacientes.
Heterogeneidade das Manifestações Clínicas:
É importante ressaltar que a manifestação clínica da infecção pelo NiV é heterogênea, variando desde quadros assintomáticos até encefalite fulminante. A gravidade das sequelas também é variável, sendo influenciada por fatores como a virulência da cepa viral, a resposta imune do hospedeiro e a presença de comorbidades.
Desafios e Perspectivas Futuras:
A ausência de terapias antivirais específicas e a alta taxa de letalidade associada ao NiV ressaltam a necessidade urgente de pesquisas aprofundadas sobre a patogênese da doença e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes. Além disso, o acompanhamento multidisciplinar de longo prazo dos sobreviventes é fundamental para o manejo das sequelas neurológicas e psicossociais, visando à reabilitação e à melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
O vírus Nipah representa um risco eminente saúde global, é necessário a demanda de esforços conjuntos da comunidade científica e dos sistemas de saúde para o desenvolvimento de medidas preventivas, diagnósticas e terapêuticas eficazes. A compreensão dos mecanismos moleculares e celulares da neuroinvasão e do neurotropismo do NiV é crucial para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas que possam mitigar o impacto devastador dessa infecção no sistema nervoso humano.
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