Mucormicose trata-se de uma infecção fúngica invasiva causada por fungos hialinos de várias espécies da ordem Mucorales que podem levar o indivíduo a óbito. A maioria dos casos ocorre por fungos do gênero Rhizopus spp, Mucor spp, Lichtheimia spp, Cunninghamella, dentre outros. Não é uma doença recente, entretanto ela vem ganhado destaque mundialmente pelo número de casos em pacientes que tiveram COVID-19.
Os gêneros dos fungos causadores da mucormicose são onipresentes, ou seja, são amplamente distribuídos na natureza como alimentos em decomposição (Figura 1), solo, água, plantas e ambientes.
Figura 1- Imagem macroscópica do Mucor sp, um dos principais agentes da mucormicose, crescendo em pão envelhecido ( fonte: Pulmonary Mucormicose: risk factord, radiology findings and patology correlation: Rishi Agrawal , Anjana Yeldandi, Hatice Savas, Nishant D. Parekh, Pamela J. Lombardi, Eric M. Hart.
Os fatores para o desenvolvimento nessa micose em humanos está mais relacionada a fatores do hospedeiro do que do agente fúngico. Os esporos podem ser adquiridos por via inalatória e eventualmente colonizar as vias aéreas. Entretanto, nota-se a predileção desses fungos pelo sistema vascular, que podem causar um processo inflamatório extenso, ocasionado trombose e necrose tecidual. Por essa razão ele é erroneamente conhecido por “fungo negro” em virtude do aspecto das lesões enegrecidas decorrente da necrose (Figura 2), no entanto os fungos desses gêneros são hialinos.
Figura 2- Área de necrose na face. (Fonte: Mucormicose rinocerebral em alta? O impacto da epidemia mundial de diabetes. Erick Martínez‐Herrera, Angélica Julián‐Castrejón, María Guadalupe Frías‐De‐León, Gabriela Moreno‐Coutiño).
As manifestações clínicas podem ser pulmonares, gastrointestinais, cutâneas ou disseminadas. A forma mais comum é a forma rinocerebral que acomete os seios da face e cérebro. O fungo em geral inicia sua invasão pela mucosa nasal, com acometimento dos seios da face, seguido de erosão do palato duro, órbita e cérebro Trata-se de uma doença rara, mas que a taxa de mortalidade geral pode ultrapassar 50% dos pacientes.
Os pacientes mais predispostos a desenvolver mucormicose são pacientes com diabetes descompensada que entram em estado de cetoacidose ou pessoas em condições de imunossupressão, principalmente os neutropenicos seja por uma doença de base (neoplasias e transplantes) ou por medicações que reconhecidamente diminuem a resposta imune, tais como quimioterapia ou uso prolongado com doses elevadas de corticosteroides. Acredita-se que a terapia a base de altas doses de corticosteroides em pacientes com COVID-19 para reduzir a inflamação nos pulmões, associado a diabetes descompensada desses pacientes tenham ajudado na disseminação fúngica causando a doença.
As principais formas de contaminação por fungos filamentosos são por contato com os esporos nos ambientes, portanto umas das principais medidas de Biossegurança na prevenção desses fungos no ambiente são:
- Corrigir a umidade do ambiente e higienizar com frequência componentes de climatização para eliminar fungos contaminantes;
- Utilizar filtros G-1 na renovação do ar externo;
- Limpeza frequente de superfícies para minimizar a dispersão de poeiras nos ambientes hospitalares;
Fungos são considerados patógenos oportunistas, portanto, condições que favoreça o desenvolvimento desses patógenos deverão ser observados. As principais medidas de Biossegurança na prevenção dessas infecções nos pacientes vulneráveis são:
- Controlar os níveis de glicemia e observar os pacientes diabéticos, uma vez que o excesso de glicose favorece a proliferação desses patógenos;
- Controlar os fatores indutores de imunossupressão. Pacientes portadores de leucemias ou submetidos a transplantes de células troncos devem ser alojados em quartos com filtros HEPA e pressão positiva;
A infecção cutânea quando há um rompimento da pele ocasionado por queimaduras ou traumas, também pode ocorrer. Logo, procedimentos invasivos contaminados com fungos e que os pacientes entrem em contato pode atuar como ferramenta de disseminação fúngica. Para garantir a sobrevida dos pacientes com mucormicose são necessárias ações combinadas como o controle imediato da descompensação da doença de base, desbridamento cirúrgico na tentativa de eliminar o fungo alojados nos tecidos e a utilização de antifúngicos tais como Anfotericina B lipossomal.
Diante do exposto, a mucormicose deve ser considerada uma doença grave e potencialmente fatal. Medidas de Biossegurança na prevenção dessa micose são necessárias, sobretudo no contexto da pandemia. O diagnóstico precoce quando existe uma suspeita clinica nos pacientes de riscos bem como instituição da terapia combinada são imprescindíveis para o bom desfecho clínico e sucesso terapêutico.
Jorge Luiz Silva Araújo-Filho (@dr.biossegurança): Biólogo, mestre em patologia, doutor em biotecnologia; palestrante e consultor em biossegurança.
Contato: jorgearaujofilho@gmail.com
Gleiciere Maia Silva (@profa.gleicieremaia ): Biomédica, Especialista em Micologia, Mestre em Biologia de Fungos e Doutoranda em Medicina Tropical.
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