Pesquisa realizada no Instituto de Química (IQ) da USP e no Instituto Butantan revela que os RNAs longos não codificadores de proteínas (lncRNAs) são moléculas essenciais para a viabilidade, sobrevivência e reprodução do parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Por isso, o estudo sugere que os lncRNAs poderão servir como alvos terapêuticos para a produção de medicamentos contra a doença. Atualmente, a única droga existente para tratamento da enfermidade apresenta eficácia limitada. As conclusões do trabalho foram apresentadas em artigo publicado na revista científica PLOS Pathogens.
“Existem cerca de 200 milhões de pessoas infectadas pela esquistossomose em todo o mundo, com mais de 200 mil mortes anuais”, relata o pesquisador Murilo Sena Amaral, do Instituto Butantan, que comandou a pesquisa. “Há um único tratamento disponível, o medicamento Praziquantel, para o qual já há relatos de resistência dos parasitas, além de ser ineficaz contra as formas imaturas dos vermes e não combater a reinfecção. Portanto, o desenvolvimento de novas drogas é de extrema importância.”
O pesquisador explica que os RNAs longos não codificadores de proteínas (lncRNAs) possuem baixo ou nenhum potencial de codificação de proteína e atuam diretamente como RNAs, transportando informações genéticas. “Os lncRNAs têm sido associados à regulação de diferentes processos biológicos em humanos e em muitas outras espécies, incluindo a regulação de expressão de genes codificadores de proteínas, a manutenção de células-tronco e a resistência a drogas”, afirma. “Como possuem um perfil de expressão tecido-específico e desempenham funções multifacetadas, eles vêm sendo propostos como novos alvos terapêuticos em diversas doenças.”
Parasita da esquistossomose adulto; em testes com animais, houve mortalidade de 30% entre os vermes que tinham uma quantidade reduzida de RNAs longos não-codificadores de proteínas (lncRNAs) localizados em seus tecidos reprodutivos, o que indica sua importância para manter o equilíbrio corporal e viabilizar a reprodução dos parasitas – Foto: Cedida pelo pesquisador
“Durante a pesquisa, reanalisamos dados públicos de sequenciamento de RNA de vermes adultos machos e fêmeas pareados (casais) e não pareados (que não formam um casal) e de suas gônadas, que são órgãos que produzem células sexuais, para identificar lncRNAs que estivessem presentes nos vermes pareados e ausentes nos não pareados”, descreve Amaral. “Anteriormente, esses dados públicos tinham sido analisados apenas para encontrar alterações dos mRNAs codificadores de proteínas durante o pareamento.”