Por Rodrigo Moreni*
O termo Indústria 4.0 já tem sido destaque há algum tempo. Mas, e Hospital 4.0, você já ouviu falar? Pode ser que com esse termo não, mas certamente não podemos negar que os ambientes e os equipamentos estão cada vez mais conectados e daqui para frente este recurso será uma exigência das instituições de saúde, que estão caminhando para atingir um patamar tecnológico mais avançado. Bem vindo aos Hospitais Conectados.
Há alguns anos conectividade e internet das coisas (IoT) era quase como que um objeto de ficção científica. Hoje isso já mudou bastante e o conceito de 4.0 veio para ficar, independente do setor. Na realidade, as organizações para sobreviverem precisam passar por um processo de transformação digital – e na saúde não é diferente. Em minha visão, os Hospitais 4.0 são sustentados por cinco pilares: IoT, inteligência artificial, Big Data, Impressão 3D e Realidade Mista/Simulação Virtual.
A perspectiva é que a IoT siga desenvolvendo-se nessa área, trazendo ganhos de performance, redução de riscos, automação e diminuição nos custos. Os investimentos mundiais em aplicações desse tipo no setor de saúde devem crescer $158.1 bilhões nos próximos cinco anos. Na China, a previsão de recursos que serão destinados a fomentar pesquisa, desenvolvimento e inovação é de $200 milhões. Já nos EUA, os investimentos chegam a $533 bilhões, sendo que, em média, 85% desse total retornam como produto para a indústria. No Brasil, falamos de um cenário muito mais modesto – cerca de $20 bilhões em investimentos e, o que é pior, apenas 27% resultam em produtos maduros que podem atender ao mercado. A boa notícia é que o país está tentando mudar esse cenário. E esse movimento vem de diversos membros da cadeia.
Em 2014, sensores de temperatura e umidade, por exemplo, custavam 1,30 de dólar. A perspectiva para 2020 é que passem a custar 38 centavos de dólar. Estamos caminhando para que isso fique muito barato. E a partir do momento que isso acontece, aumenta muito mais a demanda e às ofertas por serviços com essa aplicação. Por outro lado, também se percebe que os hospitais estão realmente querendo ser 4.0, investindo e caminhando para essa nova abordagem.
Também vemos uma indústria empenhada nisso: as impressoras 3D talvez sejam um exemplo bem emblemático. Mas, nos equipamentos médicos, ou seja, no tratamento clínico do paciente, também já saem de fábrica com recursos de IoT embutidos, até para os casos e pacientes mais críticos (que são, aliás, os mais necessitados de monitoramento constante). Para um país, no qual, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são realizados mais de 279 mil partos prematuros por ano (antes de 37 semanas de gestação), a conectividade em incubadoras e berços aquecidos, por exemplo, faz toda diferença e hoje já não é mais cenário de “Os Jetsons”. É possível monitorar a distância e de maneira constante a temperatura, oxigênio, umidade, enfim, diversas informações com elevado nível de detalhamento. Dessa forma, equipes de saúde podem tomar decisões baseadas em dados precisos e atualizados, levando os melhores resultados em menor tempo para os pacientes.
O cenário e uso de inteligência artificial, que permite fazer o gerenciamento e análise do grande volume de dados disponíveis (Big Data), por exemplo, criam um hospital totalmente integrado, no qual dispositivos sem fio e sistemas online conectam-se, permitindo que os profissionais responsáveis tenham acesso a diversas informações a respeito dos equipamentos, materiais, ambientes, insumos e pacientes, de maneira contínua.
Claro que ainda existe uma preocupação muito grande no que tange a segurança, especialmente a do paciente. Obviamente, preservar os dados é importante e faz parte dos planos, mas, no final das contas, os desenvolvedores de tecnologias aplicadas à saúde e a própria FDA (Food and Drug Administration) priorizam a segurança de quem está sendo atendido pelos equipamentos. Tanto que os equipamentos para certificados devem cumprir uma série de normas, deixando claros os níveis de riscos e a mitigação necessária. Sistemas de criptografia, autenticação por níveis de critério de dificuldade, backup, redundância, troca de senha entre outras pedidas são cruciais para evitar ataques e tentar diminuir ao máximo os riscos de atingir o principal: o paciente.
Enfim, em 2018, já é possível olhar para os equipamentos de tecnologia existentes e entender o que é IOT e o que é um Hospital 4.0. Estamos falando de um futuro em que dados ajudarão a salvar vidas, trazendo mais segurança e agilidade nos atendimentos. É a conectividade chegando para ficar no setor de saúde.
*Rodrigo Moreni é chefe do departamento de projetos do laboratório da Fanem, empresa brasileira que fabrica produtos nas áreas de neonatologia e de laboratórios e exporta para mais de 100 países