Maria de Lourdes Pires Nascimento, MD
Hematologista, Profa. da UFBa
ARTIGO DE REVISÃO
Resumo
A Hidroxiureia é um medicamento oral que vem sendo usado na Anemia Falciforme, sendo uma droga também usada em desordens mieloproliferativas e doenças neoplásicas. A Hidroxiureia não cura a Anemia Falciforme, sendo usada para reduzir os episódios de dores, para diminuir a necessidade de transfusões sanguíneas e por aumentar os valores da Hb Fetal. Entretanto o uso da Hidroxiureia pode apresentar efeitos colaterais (trombocitopenias, leucemia, câncer de pele, etc.). Neste trabalho de revisão, se levantam algumas questões sobre o uso da Hidroxiureia na Anemia Falciforme.
Quem é a Hidroxiureia?
É uma droga quimioterápica, sendo um medicamento oral, usado nas desordens mieloproliferativas e doenças neoplásicas, ex.: leucemia mielóide crônica, leucemia mielogênica aguda, melanoma maligno, câncer de ovário, certos tipos de câncer de pele (câncer de células escamosas da cabeça e do pescoço), policitemia , etc. (1). A Hidroxiureia é um nome genérico, tendo também os seguintes nomes comerciais: Hydrea, Droxia. O exato mecanismo da Hidroxiureia no tratamento do Câncer ainda não está bem compreendido, entretanto a Hidroxiureia provoca uma inibição imediata na síntese de DNA, através do bloqueio de uma enzima denominada Ribonucleatide Redutase, reduzindo a síntese do DNA e o crescimento das células cancerosas (2).
Doença Falciforme e a sua Principal Anomalia
Em relação a qualidade e quantidade dos diversos tipos de Hemoglobinas (Hb), os indivíduos considerados geneticamente normais são denominados de Hb AA, porém possuem maior percentagem (geralmente a partir de 95 % de Hb A), apresentando também dentro de suas hemácias, menores quantidades de duas outras hemoglobinas que são a Hb A2 e a Hb F, cujas pequenas percentagens são: Hb A2 até 4.0% e Hb F até 1,5 % (3). Doença Falciforme é a presença dentro das hemácias de uma hemoglobina, cuja estrutura bioquímica patológica é denominada de Hb S, e que além de não oxigenar bem os tecidos, também é capaz de se desestruturar, modificando a forma de disco bicôncavo das hemácias, surgindo as hemácias em forma de foice, daí o nome falciforme. Comumente quando se identifica e quantifica a presença da Hb S, através de exames laboratoriais mais acurados – Cromatografia Líquida por Alta Resolução ou HPLC – se têm também os valores percentuais das outras duas hemoglobinas: A2 e F. Em relação a presença da Hb S existem três tipos de Doenças Falciformes, com diferenças clínicas e laboratoriais: 1) Anemia Falciforme são os casos que não apresentam Hb A, eles têm homozigose para a Hb S, sendo denominados de Hb SS. Entretanto nem sempre os casos com homozigose para Hb SS apresentam quadros clínicos acentuados, isto porque existem diferentes tipos de Haplótipos para a Hb S. Haplótipo é a combinação de um grupo de Alelos, que fazem parte do mesmo Cromossomo, geralmente são herdados como uma unidade. Um Haplótipo pode ser formado por um ou vários Alelos, ou até pelo Cromossomo inteiro. Quando um Alelo patológico, decorrente da mutação em um gene específico, se reproduz em uma população pela primeira vez, constitui-se o que tem sido denominado de Haplótipo da Doença (4). A severidade da Anemia Falciforme é diferente na dependência do tipo de Haplótipo, cujos nomes estão relacionados com a região geográfica de onde cada Haplótipo deve ter sido originado (5, 6): Benin (meio oeste da África), Bantu ou CAR (Central African Republic), Senegal ou SEN (Atlântico Oeste da África), Saudi-Arábia-Índia (Índia subcontinental e leste da Península da Arábia) e Cameroon (Costa da África). Os quadros mais graves são encontrados nos Haplótipos do tipo CAR ou Bantu, que podem apresentar vasculopatia obliterante, falhas renais, doenças crônicas hepáticas e pulmonares, úlceras maleolares e mortes nos adultos jovens. Os casos com o Haplótipo do tipo Senegal e Saudi-Arábia-Índia apresentam sintomatologias mais brandas tendo melhores condições de saúde. Os Haplótipos do tipo Benin, tem sintomatologias clinicas intermediárias entre os CAR e os Senegal (7). Estudos relacionados com a presença de Haplótipos para as Doenças Falciformes no estado da Bahia tem apresentado maiores frequências de casos para os tipos CAR e Benin (8, 9). 2) Doença SC, é a presença da hemoglobina S associada a outra hemoglobina patológica, sendo mais comum a hemoglobina C, são os casos denominados com Doença SC. Além da associação da Hb S com a Hb C, também pode existir associações da Hb S com outras hemoglobinopatias, que são menos frequentes (ex.: SD, SE, etc.). 3) Falcemia / Talassemia ou S/Th, é a presença de Hemoglobina S em maior percentagem, geralmente a partir de 46 %, porém as outras hemoglobinas que são normais – Hb A2 e Hb F – também se encontram presentes, com valores fora dos limites normais. Os tipos de Doença Falciforme SC e Falcemia/Talassemia, comumente apresentam valores mais elevados de Hb F, sem que tenham usado nenhuma medicação, e seus quadros clínicos são mais brandos do que os casos com Anemia Falciforme.
<Para ler o artigo na íntegra, acesse a Revista Newslab Ed 157>