Os reticulócitos são células eritróides imaturas que contêm retículos com cadeias de RNA, mitocôndrias, ribossomos, centríolos e restos do complexo de Golgi e, apesar da diminuição da quantidade de organelas citoplasmáticas, os reticulócitos podem ser mais metabolicamente ativos do que os eritrócitos maduros e, sintetizar até 20% da concentração final de hemoglobina (COWGILL et al., 2003). A presença das organelas citoplasmáticas, especialmente os resquícios de RNA podem ser identificados através de colorações especiais da classe dos supravitais, como o novo azul de metileno (NAM) ou o azul cresil brilhante (ACB) (STOCKHAM e SCOTT, 2008).
Na Medicina Veterinária observamos dois tipos de reticulócitos: o agregado e o pontilhado (FELDMAN & SINK, 2006). O reticulócito agregado é uma célula eritróide mais imatura, maior e com coleções grosseiramente agrupadas de retículo (COWGILL et al., 2003). Na maior parte das espécies domésticas este é o único tipo de reticulócito encontrado. Os gatos, no entanto, apresentam mais de um tipo de reticulócito (THRALL, et al, 2012), além do agregado, semelhante a outras espécies, possui também o pontilhado (figura 1). O reticulócito pontilhado é menor, mais maduro e quando corado apresenta dois a seis pequenos grânulos de retículos esparsos (VALLE et al., 2019; COWGILL et al., 2003). É a fase seguinte da maturação do reticulócito agregado (STOCKHAM e SCOTT, 2008).
Figura 1: Reticulócitos pontilhados e agregado em amostras de um gato doméstico com volume globular de 21%. Azul cresil brilhante, objetiva óptica de imersão (100x).
A contagem de reticulócitos é considerada o padrão ouro na avaliação da resposta medular do animal à anemia (BARGER, 2003), utilizada para classificar as anemias em regenerativa (reticulocitose) e não regenerativa (reticulocitopenia ou contagens basais em anemias intensas). Além de auxiliar na classificação da anemia, a contagem de reticulócitos também é utilizada para avaliar a integridade da medula óssea e para monitorar o efeito da terapia instituída (COWGILL et al., 2003).
A reticulocitose – aumento do número de reticulócitos circulantes – ocorre em animais anêmicos, com medula óssea funcional e responsiva, como nos casos de perda de sangue, hemólise ou em pacientes que estejam respondendo a terapia. Entretanto, animais anêmicos, com distúrbios medulares, apresentam eritropoiese deprimida ou diminuição da concentração ou atividade de eritropoietina (EPO) e, dessa forma, observa-se contagem de reticulócitos normal ou diminuída (PEREIRA et al., 2008).
Para executar a técnica corretamente o sangue não pode estar hemolisado, deve-se coletar a amostra em EDTA e a contagem ser feita em até 6h (COWGILL et al., 2003). Volumes iguais de sangue devem ser adicionados ao NAM, misturados e mantidos a temperatura ambiente por, pelo menos 15 minutos (STOCKHAM e SCOTT, 2008), ou submetidos a 37º por 20 minutos (DACIE et al., 2011).
Registra-se número de reticulócitos observados a cada 1.000 eritrócitos maduros. Para gatos, alguns laboratórios contam apenas reticulócitos agregados, enquanto outros contam agregados e pontilhados e registram ambos (STOCKHAM e SCOTT, 2008). O número de reticulócitos observados a cada 1.000 eritrócitos resulta na contagem percentual (RP). Alguns autores acreditam que a porcentagem de reticulócitos corrigida (PRC) seja mais adequada para a interpretação da resposta medular (STOCKHAM e SCOTT, 2008). A PRC é obtida através da multiplicação da PR pela razão entre o volume globular (VG) do paciente e do VG médio da espécie (45% para cães e 37% para gatos) (D’AVILA, 2011). O intervalo de referência, indicativo de regeneração, para a PR e para a PRC deve ser o mesmo: superior à 1% para cães e 0,4% para gatos.
A concentração de reticulócitos (CR), também chamada de contagem absoluta de reticulócitos é expressa pelo número de reticulócitos por µL de sangue, obtido pela porcentagem de reticulócitos multiplicada pelo número de eritrócitos do paciente e, é considerada por muitos autores, como parâmetro preferido para a interpretação (COWGILL et al., 2003). Valores acima de 60.000 reticulócitos agregados/μL de sangue em cães e acima de 15.000 reticulócitos agregados/μL de sangue em gatos e 200.000 reticulócitos pontilhados/μL de sangue em gatos indicam uma reticulocitose.
Por fim, o índice de produção de reticulócitos (IPR) possui um cálculo que envolve a estimativa do tempo de efeito da eritropoietina sobre a medula óssea, até a liberação de reticulócitos, bem como o tempo de maturação dos reticulócitos, que está correlacionada com a gravidade da anemia (D’AVILA, 2011).
Rossana Priscilla de Souza Figueira, Mariana Oliveira Silva, Fabiola de Oliveira Paes Leme
Laboratório de Patologia Clínica HV-EV-UFMG
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