Estudo realizado com 631 pacientes em todo o planeta foi coordenado no Brasil pelo Hospital de Amor; Levantamento publicado no New England Journal of Medicine contrasta com as recomendações dos médicos aos pacientes nos últimos anos
Um estudo realizado com 631 pacientes em 33 centros oncológicos mundiais, entre junho de 2008 e junho de 2017, e coordenado no Brasil pelo Hospital de Amor, em Barretos (SP), revelou que a cirurgia feita por incisão (corte na barriga) para câncer no colo de útero é mais segura e reduz sequelas e óbitos quando comparada à operação minimamente invasiva, realizada pela via laparoscópica. A surpreendente descoberta, foi publicada recentemente na reconhecida revista científica New England Journal of Medicine, vai contra as orientações médicas feitas na última década.
Após avaliação dos resultados, em 90% dos pacientes, foi observado que:
- Com três anos de acompanhamento, a taxa de recorrência ou morte pela doença foi de 91,2% (32/319) para cirurgias minimamente invasivas e 97,1% (8/312) para as abertas. Uma diferença quatro vezes maior.
- Quanto à sobrevida global (ou seja, quantos pacientes sobreviveram em três anos de acompanhamento médico) foi observada uma taxa de 93,8% (3/312) para cirurgias laparoscópicas e 99% (19/319) para as invasivas. Diferença de seis vezes entre os grupos.
- Em 4,5 anos de acompanhamento, foi observado uma taxa de sobrevida global de 96,5% na cirurgia aberta e 86% na minimamente invasiva.
O estudo aponta sobrevida de 86% nos pacientes que se submeteram às operações minimamente invasivas – vídeo laparoscopia ou cirurgia robótica – versus 96% em pacientes que realizaram a cirurgia com corte.
Além disso, em três anos, houve pior sobrevida livre de doença e maior recorrência ou morte em pacientes que realizaram operações minimamente invasivas. A qualidade de vida não foi diferente entre os grupos, no entanto, as mulheres que passaram por vídeolaparoscopia relataram melhor mobilidade na primeira semana após a cirurgia. O estudo foi interrompido precocemente para que todas as pacientes recebessem a cirurgia aberta.
Para o Dr. Marcelo Vieira, ginecologista do Hospital de Amor, o estudo muda a prática diária de milhares de médicos que trabalham com ginecologia oncológica, especificamente em tumores desse tipo, no mundo todo. “Levando em consideração a incidência de tumores de colo de útero mundial e, em especial, em países em desenvolvimento ou pessoas de baixa renda, milhares de mulheres terão sua via de abordagem cirúrgica modificada. O impacto do estudo foi tamanho que, em alguns hospitais de referência, como o MDAnderson (USA), a prática da cirurgia minimamente invasiva foi abolida para estes casos, sendo substituída pela a cirurgia laparotômica (por incisão) ”, afirma o especialista.
De acordo com Vieira, como o estudo refere-se a um tipo específico de cirurgia, de colo de útero, as demais intervenções continuarão ocorrendo normalmente na instituição.
O principal objetivo da pesquisa foi comparar a sobrevida livre de doença, no período de 4,5 anos, para saber em quanto tempo a doença voltou após a operação ou se a paciente foi a óbito. Como objetivos secundários, a comparação entre recorrência da doença, morbidade (seis meses após a cirurgia), sobrevida entre os grupos, possibilidade da realização da pesquisa de linfonodo sentinela (estudo de gânglios linfáticos chamadas de “ínguas” popularmente) e qualidade de vida foram avaliados.