Pessoas com esquizofrenia e seus irmãos saudáveis dividem padrões de atividade cerebral que são diferentes daqueles vistos em indivíduos sem histórico familiar da doença, cientistas da EPFL (Ecole Polytechnique Federale de Lausanne) avançaram estudos acerca do assunto. Pelo fato dos irmãos saudáveis não apresentarem sintomas de esquizofrenia, essa “assinatura” cerebral pode servir como um marcador para um diagnóstico prematuro da doença. Esses achados foram publicados na Nature Communications e abrem caminhos para o desenvolvimento de novos tratamentos para a esquizofrenia.
A esquizofrenia aparece na adolescência ou na vida adulta e geralmente acompanha falsas crenças, pensamentos paranoicos, e uma tendência a ver e ouvir coisas que não existem. O maior fator de risco da doença é a presença de um parente próximo com a doença: um em dez irmãos de pessoas com esquizofrenia tem tendência a desenvolver a doença, comparados com um em cem indivíduos na população geral.
A doença se origina de diferentes mutações de DNA, duplicações e deleções que causam o desenvolvimento cerebral ocorrer de forma errada. Por essa razão, prever quem tem o risco de desenvolver a esquizofrenia não é uma tarefa simples.
Pelo fato dos estudos genéticos não estarem provendo tantas pistas acerca dos diversos genes associados à esquizofrenia, a desordem precisa ser dissecada em traços mensuráveis encontrados em ambos os indivíduos que tem a esquizofrenia e em membros da família não afetados, disse um dos autores do artigo, Michael Herzog, chefe do laboratório de psicofísica da EPFL. Esses traços quantificáveis, chamados endofenótipos, conecta os sintomas da desordem a fatores de risco genético subjacentes.
Procurando por endofenótipos da esquizofrenia, os pesquisadores analisaram padrões cerebrais de 101 pessoas com esquizofrenia, 43 irmãos não-afetados, e 75 indivíduos saudáveis sem histórico familiar de esquizofrenia.
Liderado pelos pesquisadores Janir Ramos da Cruz e Patrícia Figueiredo, na Universidade de Lisboa, a equipe escaneou o cérebro dos participantes usando eletroencefalograma (EEG) em estado de repouso. Essa técnica não invasiva mede a atividade cerebral via eletrodos anexos ao couro cabeludo de indivíduos enquanto eles estão em repouso por cinco minutos.
Depois da obtenção dos dados da EEG, os pesquisadores rastrearam padrões específicos de atividade neuronal que foram descritos por construir blocos de cognição e emoção. Chamados de “Microestados de EEG”, esses padrões duram entre 60 e 120 milissegundos e aparecem quando específicas áreas do cérebro ativam juntas.
“Assinatura” Cerebral
Trabalhos anteriores revelaram que indivíduos com esquizofrenia tiveram microestados de EEG anormais, porém estudos recentes encontraram essas mesmas anormalidades de padrões cerebrais em irmãos não-afetados.
Os pesquisadores descobriram que um específico microestado, chamado classe C, ocorre com mais frequencia e por maiores durações em indivíduos com esquizofrenia e seus irmãos saudáveis do que em pessoas saudáveis sem histórico familiar. Outros padrões de atividade cerebral, conhecidos como microestado de classe D, ocorreu com menor frequencia e menos quantidades de tempo em indivíduos com esquizofrenia e seus irmãos, em relação aos indivíduos saudáveis.
Pessoas que acabaram de manifestar seu primeiro episódio de psicose demonstram os mesmos padrões anômalos de atividade cerebral do que aqueles indivíduos que sofrem de esquizofrenia por anos. “Isso sugere que essas anormalidades de microestado ocorrem no início da doença”, disse Ramos da Cruz.
O time também encontrou um terceiro tipo de microestado, chamado de classe B, que ocorreu mais frequentemente e por maiores períodos de tempo em irmãos saudáveis do que em indivíduos com esquizofrenia. Isso pode explicar porque os indivíduos saudáveis não apresentam comportamentos relacionados à esquizofrenia, apesar de dividirem as mesmas assinaturas cerebrais do que as pessoas com a desordem. “Esse pode ser um mecanismo de proteção que previne o desequilíbrio nos microestados de classe C e D de criar problemas funcionais”, disse Ramos da Cruz.
Como as alterações nos microestados da EEG afetam a função cerebral ainda é incerto. Mas para propósitos de diagnóstico, não precisamos saber isso. Herzog apontou que procurar anormalidades nos padrões de ondas cerebrais pode ser um componente para a bateria de triagem para a esquizofrenia, e isso pode ajudar a detectar quem está mais suscetível a desordem antes dos sintomas clínicos se desenvolverem.
No futuro, microestados de EEG poderão informar o tratamento e estratégias de prevenção para essa desordem neuropsiquiátrica. Saber quais microestados contribuem para a esquizofrenia poderá levar a utilização de tratamentos personalizados usando técnicas que modulem os padrões de atividade cerebral.
Com informações de Medical Xpress, tradução de João Gabriel de Almeida (Equipe Newslab).